Pular para o conteúdo principal

RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, HISTÓRIA E ENSINO


Rafael Souza Ferreira
Graduado em Lic. em Dança (UFPA)
Graduando em Lic. em História (UFPA)
(Bolsista PIBIC/CNPQ)


Resumo: O texto busca traçar reflexões sobre a temática das relações étnico-raciais e o ensino de História. Aborda aspectos referentes a presença e ausência de africanos, indígenas e europeus na história da sociedade brasileira, bem como evidencia a atuação da Igreja cristã e das Teorias científicas raciais nas relações entre diferentes grupos étnico-raciais no Brasil. Do diálogo com a bibliografia pesquisada, construiu-se apontamentos que permitem entender como lidar com a temática das relações étnico-raciais no ensino e na vida, principalmente em tempos de negação da história, destacando a valorização à pluralidade cultural e as peculiaridades das trajetórias históricas e culturais dos diferentes grupos que constituem o Brasil.

Introdução
O Brasil chegou outra vez num tempo em que as diferenças socioculturais estão postas novamente à mesa, mas agora como se estivessem prontas para serem devoradas, dilaceradas sorrateiramente pelos mais terríveis monstros mitológicos, e de uma maneira que foi servida por grande parte do povo, “democraticamente”. As peculiaridades socioculturais abalaram-se, o país se dividiu. “As minorias têm que se curvar à maioria”, disseram alguns.
Quem é a minoria? Quem é a maioria? A minoria é o povo, com suas múltiplas particularidades socioculturais, ou ele é a maioria? Não são estes os questionamentos deste texto, mas que fique no ar a indagação, elas se inserem também no que tratamos aqui. As questões, na verdade, são muitas, variadas, antigas e atuais.
A escrita da história da sociedade brasileira tradicionalmente foi permeada, durante muito tempo, pelo discurso sobre os “grandes” acontecimentos que eternizaram os conquistadores e heróis nacionais, brancos, europeus. Outros sujeitos históricos, milhões deles, de origens distintas da europeia, apareciam, e ainda aparecem muitas vezes, como personagens de segundo plano, coadjuvantes, submissos, dóceis ou rebeldes, que contrapunham os ideais vigentes da sociedade dominante e, por isso, eram/são menos destacados nas narrativas ou jogados no esquecimento. Usou-se de muitos artifícios para justificar essa relação de superioridade e inferioridade, desde a doutrinação religiosa até o conhecimento dito científico.
Refletir sobre as relações étnico-raciais raciais e o ensino de História é o que se propõe neste texto. Em tempos de censura e negação da história, tratar das relações entre os diferentes grupos que constituem o Brasil, bem como das peculiaridades de suas trajetórias históricas e culturais, se configura ainda um ato político de resistência frente à opressão, um ato de educar para a liberdade, como diria Paulo Freire, enquanto ainda for possível.

Entre relações, presenças e ausências
O ensino de História do/no Brasil esteve, por muito tempo, amparado numa perspectiva de relatos de alguns acontecimentos históricos, quase sempre sem a profícua contextualização com o cotidiano dos que ouviam tais narrativas, destaque-se aqui os alunos de escolas e universidades.
Estas narrativas - registradas principalmente a partir do entendimento da classe dominante, tradicionalmente branco-europeia, elitista e conservadora, com seu maior acesso aos ambientes acadêmico e intelectual - apresentavam uma história com conteúdos que se entendiam, na época, serem os mais bem adequados a serem eternizados. Era fundamentalmente uma versão da história, a dos dominadores, ditos conquistadores, a história da glória dos poderosos.
É necessário levar em consideração que esta era também uma maneira de, a partir dos próprios interesses dominantes vigentes, consolidar o registro e a construção de um discurso geral sobre as transformações ocorridas no país, valorizando uma abordagem que exaltava ela mesma - a própria classe dominante -, e seus feitos. Assim, não permitia que se ouvissem as vozes e interesses de outros grupos sociais, deixando-os a margem como meros personagens coadjuvantes, sem contribuições gloriosas ou ainda rotulando-os, ora de forma mais ou menos explícita, como os grupos rebeldes, atrasados, selvagens, de servidão, menos inteligentes ou de raça inferior, argumento este amparado, por exemplo, nas teorias raciais, que se disseminaram por muitas instituições e refletiam na sociedade uma determinada forma de ser, pensar e agir.

As teorias raciais foram inventadas no século XIX na Europa e nos Estados Unidos para explicar as origens e características de grupos humanos. Essas teorias tiveram grande aceitação no Brasil entre 1870 e 1930. Elas tinham por base argumentos biológicos, convincentes na época,  que relacionavam as características físicas dos indivíduos à capacidade intelectual. Logo  essas explicações foram ampliadas para povos inteiros. Desse modo, a humanidade passou a ser classificada a partir de estágios civilizatórios: as nações europeias eram o modelo de sociedades mais adiantadas, e os povos africanos e indígenas eram tidos como os mais atrasados e “bárbaros” (ALBUQUERQUE; FRAGA FILHO, 2006).

Ao se colocar como modelos mais avançados de civilização, em contraposição a outras sociedades vistas por ela como menores e atrasadas, a sociedade europeia e a crescente sociedade estadunidense - vistas como grandes representantes do domínio econômico, político e social da época - também incutia no interior da elite acadêmica e intelectual conservadora seus ideais. A formação dos profissionais do ensino, das ciências, geralmente refletia a visão de mundo daqueles que exerciam o poder político-administrativo dominante sobre a sociedade da época, uma vez que faziam parte do mesmo grupo social. Assim, produziam e promoviam as políticas de elaboração dos currículos de ensino, que, em consequência, reverberavam nos estudantes e na sociedade seus tradicionais entendimentos de mundo.
A imagem generalizada, por exemplo, dos nativos americanos, do “índio” na perspectiva colonizadora, e do negro africano e afro-brasileiro, veio atravessando, assim, cinco longos séculos e chegou aos nossos dias ainda fundamentada em alguns preceitos criados e cristalizados durante aquela época. Os preconceitos de hoje são, pois, resultados daquelas maneiras de pensar e representar o outro.
Essa forma de ver esse outro, presente e difundida nos ambientes intelectuais – mesmo tendo alguns que iam contra essas ideias, transgredindo tradicionais valores vigentes na época -, se fundamentava na própria visão etnocêntrica, de heranças europeias, sobre os povos africanos e indígenas que vinham sendo explorados desde pouco depois da chegada dos colonizadores ao “novo mundo”. Se desenvolveu – ou projetou-se -, portanto, ao longo dos séculos, uma generalização e homogeneização excessiva (a ponto de apagar, exterminar peculiaridades culturais) que violentou o negro e o índio, tanto física quanto culturalmente, agredindo-os de forma intensa e profunda, ao ponto de serem taxados, sob o ponto de vista de algumas abordagens científicas, como inferiores em relação ao branco europeu.
Mas há também um outro ponto que deve ser mencionado, e que nos leva a bem antes das teorias científicas raciais. O processo de transferência dos africanos, como escravos, para a América Portuguesa, bem como o processo de escravidão dos próprios nativos americanos, não teria talvez tanto sucesso, principalmente em termos de imposição na mudanças das formas de pensar e agir desses, se, aliado a tais objetivos, não houvesse exercido papel importante a própria Igreja Cristã.
Ainda segundo Albuquerque e Fraga Filho (2006), "A sociedade escravista contou com o apoio da Igreja Católica para inculcar nos cativos paciência e humildade como virtudes desejáveis". Isso permite entender o quanto o aspecto cultural e religioso europeu, junto a suas políticas colonizadoras, aliavam todas as estratégias possíveis para consolidar a colonização. Essa ideia de paciência e humildade também procurava, de algum modo, deixar evidentes as posições e diferenças entre os grupos sociais, entre senhores e escravos, entre as posições de dominação e submissão. Ao evangelizar, catequizar, ensinar o que deveria ser feito, atendiam-se aos propósitos coloniais, mas também reduzia, apagava, violentava a cultura do outro.
Contudo, ao contrário do que tradicionalmente a historiografia relatou, esses africanos e indígenas também possuíam e criavam suas estratégias de enfrentamento e resistência às imposições, muito embora os castigos também fossem frequentes por parte dos senhores.
Os escravos reagiam de várias maneiras perante a opressão e a violência do sistema escravista. Assim como promoviam fugas e revoltas, também aproveitavam a existência de espaços de negociação que eles próprios conquistavam ao mostrarem aos senhores a necessidade de terem certa autonomia para que o sistema escravista tivesse bom funcionamento. Por meio de estratégias, que iam desde o enfrentamento direto até obediência e fidelidade ao senhor, encontravam formas de alcançar liberdade (MATTOS, 2016). Ao serem trazidos da África, os negros eram separados de seus familiares, eram levados para diferentes lugares da colônia, o que fazia com que outras relações fossem estabelecidas quando grupos de africanos deparavam-se junto à outros africanos desconhecidos.

É importante assinalar que os laços comunitários foram formados nas senzalas em meio a uma diversidade de grupos étnicos. Foram formados também pela necessidade de encontrar saídas e alternativas à vida escrava.  No seio dessas comunidades, os escravos puderam preservar grande parte da cultura africana e transmiti-la aos filhos e netos (ALBUQUERQUE; FRAGA FILHO, 2006).

Os indígenas americanos, por sua vez, vistos inicialmente como selvagens e não civilizados, por mais que estivessem sob domínio do europeu como escravos, ainda que em número menor do que africanos, mas não a ponto que se evitasse um massacrante genocídio dos nativos, continuaram sendo vistos como arredios. Os relatos da época colonial apresentam as terras como abundantes, um novo mundo comparado algumas vezes ao paraíso bíblico, mas havia um olhar desprezível sobre os habitantes, como podemos confirmar em Schwarcz (2012)
Ao descrever os indígenas brasileiros como 'atrevidos, sem crença na alma, vingativos, desonestos e dados à sensualidade', Gândavo estabelecia uma distinção entre a terra e seus homens: a edenização de um lado e o inferno de outro. O modelo era evidentemente etnocêntrico, e o que não correspondia ao que se conhecia era logo traduzido como ausência ou carência, e não como um costume diverso ou variado.

A visão etnocêntrica e eurocêntrica sobre indígenas, africanos e afro-brasileiros, desde o início do processo de colonização, encontrando forte aliado na doutrina da religião cristã e nas teorias raciais que disseminaram entendimentos ditos científicos, estabelecendo hierarquias entre brancos, negros e indígenas, marcou profundamente a história brasileira. Chegou-se, inclusive, ao ponto de se entender o contato íntimo entre membros desses diferentes grupos ora como degeneração, ora como a miscigenação que levaria ao sucesso da raça branca.
É importante lembrar que, na época do auge das teorias raciais, os grupos vistos como inferiores, em relação aos de ascendência branco-europeia que se considerava superior, eram tidos também como responsáveis até pela propagação de anomalias, de doenças, responsáveis por infectar ambientes. Prezou-se, inclusive, pela expulsão de muitos deles de alguns ambientes das cidades, ou pela dedetização humana. Lembremos, aqui, do episódio que ficou conhecido como a Revolta da Vacina.
Enquanto muitos requeriam a separação total entre brancos e outros grupos étnicos, surgiam também ideias de que o contato seria a solução. O contato entre esses grupos, ou raças, pensavam alguns, destacava a branca, por sua suposta superioridade, como a responsável pela correção dos supostos defeitos das outras. Foram várias as compreensões acerca do futuro da nação e, entre elas, o embranquecimento, ou branqueamento, era a tendência almejada e até posta em expectativa:
Havia até quem calculasse que cem anos,  no máximo, seriam suficientes para que o sangue, a pele e os costumes dos brasileiros “branqueassem”. Em 1911, durante o Congresso Internacional das Raças realizado em Londres, o representante brasileiro,  Batista Lacerda,  garantiu que no início do século XXI já não haveria negros no país e que o número de mulatos seria insignificante (ALBUQUERQUE; FRAGA FILHO, 2006)

Com o passar do tempo, outra mudança de pensamento aconteceu. A pluralidade ficava cada vez mais evidente, a sociedade brasileira se consolidava cada vez mais mestiça, não havia como fugir de tal característica. A ideia de uma valorização de características nacionais, ou de possíveis símbolos que representariam a nação, começou a ser propagada a partir do governo Vargas. O carnaval, o futebol, assim como a ideia da mulata ou do mestiço, como resultado da miscigenação, ganhou vida nesse período da primeira metade do século XX. Só que essa valorização acabou por destacar esse “novo” jeito brasileiro em si, apenas como um resultado, numa perspectiva evolucionista talvez, deixando, outra vez, de lado as peculiaridades de grupos étnicos indígenas e africanos que contribuíram histórica e culturalmente para tal. Apareciam seus traços? Sim, mas poucos, transformados, ressignificados talvez para atender interesses das classes dominantes, que ainda perpetuavam-se na história.

Mudanças? Talvez
Entre idas e vindas, é a partir da segunda metade do século XX que tomam forças, em várias partes do mundo, os movimentos sociais das chamadas minorias – negros, indígenas, feministas, gays e outros , tendo significativas conquistas no que diz respeito aos direitos e reconhecimento das contribuições desses grupos para a sociedade, conquistas essas que estabelecem diálogos, atualizam e empoderam as lutas nas quais participaram sujeitos dos mesmos grupos em séculos passados. No entanto, ainda há muito a se conquistar, pois é nítido que a hierarquização, a dominação, os preconceitos e a violência ainda coexistem, camuflados em outras couraças. A prática da violência, neste sentido, é histórica, ela se atualiza conforme as conjunturas que se estruturam, ela faz parte do próprio processo de construção da sociedade brasileira.
Mas o que fazer para que as transformações ocorram e as desigualdades acabem? Como o ensino da história, com uma perspectiva singular e plural que valoriza diferenças e semelhanças nas relações étnicos-raciais, pode contribuir de modo diferenciado para essas mudanças? Seria utópico pensar em uma sociedade em que todos se respeitassem e valorizassem as diferenças? Não é fácil responder.
Como resultado, entre outros, de políticas educacionais implementadas nos primeiros anos do século XXI, voltadas a uma ampliação dos espaços de ensino para outros sujeitos e culturas, que tradicionalmente ficavam (e ainda ficam) à margem da sociedade, bem como ao reconhecimento dos diferentes grupos étnicos que constituem a história e cultura brasileira, o processo de ensino e aprendizagem da História, no ensino básico dos dias atuais, passou a tratar dos aspectos históricos da África e dos povos africanos e afro-brasileiros, bem como dos grupos indígenas, de maneira mais visível e aprofundada.
Considerando o estudo, na escola básica, das abordagens historiográficas sobre esses grupos, tendo-os como parte importante no processo construtivo da história do Brasil, entendemos que as comunidades indígenas e negras assumem uma relevância que sempre deveriam ter tido, como sujeitos ativos e conscientes de sua ação, com características culturais e sociais peculiares, que contribuíram e contribuem significativamente para a formação do país multicultural que somos.
Ressaltamos, porém, que esse olhar para a pluralidade deve valorizar não apenas a própria ideia de uma multiculturalidade em si, mas também perceber, com um olhar sensível  e crítico, as particularidades próprias de cada grupo, sua história, cultura, relações, transformações. Isso possibilita que a hierarquização - social, cultural, política, econômica - que foi estabelecida durante esses séculos de formação da sociedade brasileira,  possa vir a se dissipar, e dê lugar ao contato e atuação harmoniosa e respeitosa entre as diferenças e semelhanças.
As universidades e as escolas - como ambientes de pesquisa, produção e compartilhamento de conhecimento, ideias e práticas, bem como da formação de professores e cidadãos, em parceria com a comunidade - são, nesse aspecto, os contextos responsáveis pelo ensino, educação e ampliação de olhares críticos para outras e variadas perspectivas de mundo.
 Contudo, esses estabelecimentos de ensino não podem atuar de modo a transformar o olhar sobre as peculiaridades sociais e culturais, se o próprio poder político-administrativo institucional – na esfera federal, estadual e municipal, dentro de suas responsabilidades de prover serviços, por direito, essenciais para o desenvolvimento e bem estar da nação -, não atuar com políticas públicas que direcionem e implementem práticas de mudança e educação abrangentes, observando as singularidades regionais e culturais, com o objetivo de melhorias sociais e respeito. Compartilhamos aqui do pensamento de Silva (2007), sobre um ensino com a abordagem pluralista das relações étnico-raciais:

A educação das relações étnico-raciais tem por alvo a formação de cidadãos, mulheres e homens empenhados em promover condições de igualdade no exercício de direitos sociais, políticos, econômicos, dos direitos de ser, viver, pensar, próprios aos diferentes pertencimentos étnico raciais e sociais. Em outras palavras, persegue o objetivo precípuo de desencadear aprendizagens e ensinos em que se efetive participação no espaço público. Isto é, em que se formem homens e mulheres comprometidos com e na discussão de questões de interesse geral, sendo capazes de reconhecer e valorizar visões de mundo, experiências históricas, contribuições dos diferentes povos que têm formado a nação, bem como de negociar prioridades, coordenando diferentes interesses, propósitos, desejos, além de propor políticas que contemplem efetivamente a todos.

Neste sentido, reconhecer, contextualizar e refletir sobre a história dos povos indígenas, africanos e afro-brasileiros, bem como de outros, permitirá escapar dos tradicionais relatos que os reduz a submissos personagens da escravidão ou habitantes de ambientes tidos como selvagens e exóticos. Repensar tais abordagens históricas, desde a projeção e implementação de políticas educacionais até os processos de ensino e aprendizagem no cotidiano escolar, permite aos poucos “descolonizar os currículos” (GOMES, 2012) e o pensamento da grande população. Além disso, quem sabe até o ensino dos conteúdos sobre a história da África, africanos e povos indígenas deixe de ser tão somente realizado para se cumprir leis que preveem sua obrigatoriedade no ensino de História nas instituições de ensino brasileiras, mas, se torne algo natural, de conscientização mesmo, impregnado como já o é, se tomando gosto e prazer por tal e não se deixando mais apagar por histórias de um só lado.

Considerações Finais
Ao tentar refletir sobre as relações étnico-raciais e o ensino de História, este texto se propôs a evidenciar questões da própria construção histórica do Brasil e da atualidade, no que concerne a participação de distintos grupos étnicos na sociedade brasileira. Mencionando a atuação da Igreja Cristã e das Teorias raciais, em conjunto aos interesses das classes dominantes, procurou mostrar como alguns grupos sociais justificavam e procuravam eternizar seus discursos e feitos na história, enquanto outros eram esquecidos ou registrados, pela elite intelectual dominante, como inferiores. No entanto, esses grupos vistos como inferiores também tinham estratégias de resistência, e por meio destas conseguiram, aos poucos, conquistas ou algum reconhecimento. Foi na segunda metade do século XX que muitos grupos e movimentos sociais ganharam destaque, mundialmente, na luta por direitos e contra a opressão e o preconceito. O ensino da História, no início do século XXI, no Brasil, apontou para outras perspectivas, com novas propostas curriculares que, com bases em nova legislação, tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena no ensino básico. Ao tratar das trajetórias históricas e culturais dos diferentes grupos que formam a sociedade brasileira, o ensino escolar e universitário permite, no contato com a comunidade, a percepção e conscientização dos sujeitos acerca dos grupos sociais dos quais fazem parte.
Deve-se, no entanto, sempre ter em mente que as “mãos obscuras” do sistema opressor estarão sempre preparadas. Em tempos de censuras camufladas como moral e bons costumes, em tempos de negação da história e menosprezo das lutas sociais do povo, resistir e contar a nossa história sob diversas perspectivas - e não apenas na visão de um lado, que nas parafernálias da atualidade usa de modismos sem sentido como, por exemplo, a tal “escola sem partido”, que permite ideias de determinado partido, mas não de outros -, resistir contando as diferentes histórias é transgredir e se impor como parte da pluralidade, como parte ativa dos distintos grupos socioculturais que formam o Brasil. Contar nossas histórias sob diferentes olhares é resistir e dar mais voz a quem fez e quem faz o Brasil, a gente do povo, aos que lutaram e lutam cotidianamente, reconquistando seus espaços e direitos, conscientes de seus desejos de liberdade e igualdade.


 Referências
ALBUQUERQUE,  Wlamyra  R.  de;  FRAGA  FILHO,  Walter. Uma  história  do  negro  no Brasil.  Salvador:  Centro  de  Estudos  Afro-Orientais; Brasília:  Fundação  Cultural Palmares,  2006, p. 95, 97, 204, 205, 208.

GOMES,  Nilma  Lino.  Relações  étnico-raciais,  educação  e  descolonização  dos  currículos. Currículo  sem  Fronteiras, v.12,  n.1, jan.-abr. 2012, p. 102. Disponível em <http://www.curriculosemfronteiras.org/vol12iss1articles/gomes.htm> Acesso em 22 jul. 2019.

MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. 2. ed., 6° reimpressão.  São Paulo: Contexto, 2016, p. 121, 122.

SCHWARCZ,  Lilia  Moritz.  Nem  preto  nem  branco,  muito  pelo  contrário:  cor  e  raça na  sociabilidade  brasileira.  o  Paulo:  Claro  enigma,  Coleção  agenda  brasileira,  2012. Disponível em <http://lelivros.love/book/baixar-livro-nem-preto-nem-branco-muito-pelo-contrario-lilia-schwarcz-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/>  Acesso em 22 jul. 2019.

SILVA,  Petronilha  Beatriz  Gonçalves  e.  Aprender,  ensinar  e  relações  étnico-raciais no  Brasil.  Educação, ano XXX, n. 3 (63), Porto Alegre/RS, set.-dez. 2007, p. 490.

Comentários

  1. Diante da configuração da população, fruto da mistura de indivíduos de diferentes origens, o debate em torno das questões de raça, de miscigenação devem ser frequentes em sala de aula. Destarte, a escola formal tem papel fundamental no processo de desfazer a construção negativa forjada contra as crianças bem como uma minoria deixando de lado, que tem um paradigma eurocêntrico.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, Raimunda. O contexto no qual vivemos e o aspecto multicultural da nossa sociedade exigem que devemos sempre ensinar e contextualizar nossa história numa perspectiva tbm múltipla, observando as pluralidades e singularidades dos distintos grupos étnicos que constituem o Brasil.

      Rafael Souza Ferreira(UFPA)

      Excluir
  2. O arquétipo de educação em nosso país tem como pano o modelo eurocêntrico ,onde demais modelos são inferiorizados.Pode -se citar Silva as representações de gênero , de raça,classe, nação,contidas no currículo devem ser subvertidas ,desconstruídas ,disputadas .E através desse processo de contestação ,que as identidades hegemônicas pelos regimes atuais podem ser destabilizadas e implodidas . Destarte a relevância de abordar sobre essas questões em todas as modalidades de ensino.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso, Brígida. Ainda somos marcados por uma educação eurocêntrica, na qual o próprio ensino de História, por exemplo, gira ao redor da história da sociedade europeia e suas conquistas pelo mundo. Mas, como já foi evidenciado, aos poucos isso vem sendo transformado. A lei 10.639 é um exemplo dessa descolonização dos currículos, de desvio da história apenas sobre e na perspectiva eurocêntrica, mas envolvendo tbm outros grupos étnico-raciais.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  3. Um ponto a ser destacado é que a partir da segunda metade do século XX, os movimentos sociais das denominadas minorias ganharam uma relevância bastante considerável, conquistando direitos e reconhecimento das contribuições desses grupos para a sociedade e trazendo um novo olhar para esses sujeitos dentro do processo de construção sócio cultural do Brasil. FRANCIELCIO SILVA DA COSTA-UESPI.

    Qual a diferença de etnocentrismo para eurocentrismo ? FRANCIELCIO SILVA DA COSTA-UESPI.

    Por que os indígenas americanos eram vistos como selvagens na concepção europeia de civilidade? FRANCIELCIO SILVA DA COSTA-UESPI.

    Quais teóricos são referencia nos estudos a cerca de relações étnicos raciais? FRANCIELCIO SILVA DA COSTA-UESPI.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. 1. O etnocentrismo compreende o entendimento de mundo a partir de um determinado ponto de vista, e que leva em consideração suas próprias características para, digamos, julgar e/ou entender o outro. É como se um determinado grupo étnico observasse outro grupo, mas ñ levasse em consideração as peculiaridades próprias deste. Nesse sentido, é como se um grupo, uma nação se visse como superior a outra(s), ñ respeitando e/ou compreendendo sua características sociais, culturais (etc), marginalizando-as, ou vendo-as como absurdas. É ver o outro, sem procurar entendê-lo, e julgar a partir de minhas próprias convicções sociais, culturais, políticas, econômicas, por exemplo.
      O eurocentrismo é um exemplo disso. É colocar a Europa, com suas respectivas peculiaridades sociais, culturais, econômicas, políticas, como uma sociedade maior, superior, mais bem desenvolvida e como um possível modelo a ser alcançado, em relação à outras diferentes sociedades (e suas distintas culturas), que seriam vistas como menores diante dela. Na visão eurocêntrica, é como se Europa fosse o centro das culturas, das sociedades, de onde tudo partiu.

      2. Os nativos americanos tinham um modo de vida diferente dos padrões europeus. E essa diferença foi logo motivo para julgá-los, na perspectiva dos recém chegados navegadores, como não civilizados, selvagens, entre outros esteriótipos. Isso expõe uma visão etnocêntrica: um determinado grupo (os europeus) não procuraram entender profundamente o modo de vida dos nativos americanos, e tiraram suas próprias conclusões a partir do que consideravam certo e verdadeiro em suas tradições sociais, culturais, políticas, etc. Assim, os modos de vestir (com adornos de penas, com material natural, ou simplesmente nus), as relações conjugais e de parentesco (um chefe podendo ter várias mulheres, maior liberdade nas relações entre pessoas do mesmo sexo, etc) as crenças (em diferentes deuses, forças da natureza..), os comportamentos concernentes a alimentação (canibalismo, por exemplo), as relações entre diferentes etnias indígenas, entre outras peculiaridades, foram vistos como não compatíveis com o modelo de vida e europeu. Este, tinha entre outros, uma visão de sociedade caracterizada pela figura central dos reis, a fé cristã em deus único, o casamento com uma única pessoa, a alimentação de animais e vegetais conforme as tradições o permitiam, entre outras peculiaridades as quais consideravam o modelo correto de civilidade. Logo, tudo que ñ se inserisse nessas concepções, era visto como bárbaro, selvagem, ameaçador, e que deveria ser conquistado e civilizado.

      3. Alguns autores que vc pode estar pesquisando sobre a temática das relações étnico-raciais são Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, Nilma Lino Gomes, Kabengele Munanga, Verena Alberti, Vilma Reis, Carlos Moore. Existe material bem interessante e acessível, de vários deles, na internet.

      Espero ter respondido suas questões.

      Rafael Souza Ferreira

      Excluir
  4. muito pertinente sua colocação. FRANCIELCIO SILVA DA COSTA-UESPI.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Francielcio. São questões que fazem parte ñ apenas da nossa história, da escrita da nossa história, mas tbm estão muitos impregnadas e fazem parte da nossa realidade. O que vivemos na atualidade são consequências do que aconteceu no passado, então é sempre pertinente recebemos esses diálogos, a fim de ir buscando caminhos que possam, de algum modo, ir gerando conhecimento, conquistas de direitos e bem estar a população. Obrigado.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  5. Os autores balizadores das questões étnicos raciais Nilma Lino Gomes, na Obra a Mulher Negra que vi de Perto, Kabengele Munanga, dentre outros.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exato, Brígida. E como o já respondi num dos comentários, podemos consultar tbm Petronilha Silva, Kabengele Munanga, Verena Alberti, Vilma Reis, Carlos Moore, Regiane Mattos, etc. São autores que tratam das relações étnico-raciais, racismo, história e cultura afro-brasileira, entre outros temas nessa mesma linha de pesquisa.

      Rafael Souza Ferreira

      Excluir
    2. Esse referencial é essencial para se compreender a questão racial.

      Excluir
  6. Olá Boa tarde. Parabéns pela escrita do trabalho. Gostaria de saber quais dificuldades você identifica para a realização da implantação da educação étnico racial como ferramenta de conscientização histórica?

    As. Talyta Marjorie Lira Sousa Nepomuceno

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Penso que um dos pontos é a da formação de professores. A legislação que trata dessa obrigatoriedade do ensino de história da África, da cultura afro-brasileira, de temáticas sobre história indígenas, das contribuições desses grupos para a formação do Brasil, é recente, começou dos anos 2003 pra cá. Então, o próprio processo de implantação e adaptação dos currículos tbm levou algum tempo, existem instituições que ainda estão nesse processo, é algo que vai sendo lentamente adaptado. Isso sem mencionar que muitos professores que já eram formados, antes do decreto da lei, ñ tiveram acesso, em sua formação anterior, a um conteúdo mais aprofundado, que a legislação estabeleceu. E muitos desses profissionais estão na ativa, se virando como podem, buscando se atualizar. Então, esse pode ser um dos pontos, a formação de profissionais e o contato com a temática. Evidentemente que, nos últimos anos minaram cursos de aperfeiçoamento, pós-graduação/especialização com temáticas específicas da história da África, cultura afro-brasileira, indígena, o que possibilita um contato e aprofundamento na área.
      Outro ponto, talvez, seja o próprio discurso nos livros didáticos, que, por mais que já apresentem conteúdos sobre esses temas, conforme a legislação, penso que ainda sejam abordados de uma maneira tímida, e isso varia muito de livro a livro, as editoras, as ideologias que os editores seguem. É algo delicado a construção do discurso. Obviamente, o professor deve buscar outras alternativas além dos livros que a escola propõe trabalhar, mas o livro didático ainda é um marcante referencial para os alunos, para os pais de alunos. Então, isso é algo que tbm deve ser levado em consideração, penso.
      Outro ponto, já que mencionei a questão do discurso, pode ser uma certa ausência de atenção mais cuidadosa nas aulas, para o que aquele aluno está tendo contato, como ele está tendo, o que está assimilando, como está usando isso. Aí entra a questão das mídias, por exemplo, os discursos nas redes sociais, o como utilizar isso em sala de aula, como utilizar isso como parte da construção histórica, ou da consciência histórica. O que vivemos atualmente, por exemplo, nas redes sociais, com essa divisão político-partidário-ideológico virtual/online, o discurso das redes sociais é muito forte, as fake news e tal... Então tudo isso, de alguma maneira, faz mais parte da vida das pessoas hoje, mais do que propriamente o tempo que passam em atividades escolares, de ensino. Essa lida com as redes sociais, vai moldando um pensamento, vai moldando um tipo de consciência, tanto que vivemos o que estamos vivemos hoje, e é algo a nível mundial, a questão da influência das mídias (encharcada com as respectivas ideologias políticas, por exemplo) nos pleitos eleitorais.
      Então, isso influencia a consciência. E aí, como lidar com essa imensa potência de informações das redes sociais, que atinge a todo minuto os alunos, na aula de História, por exemplo? Como imbrincar esses conteúdos das redes sociais, os discursos das figuras públicas sobre as minorias, sobre a morte do chefe indígena no Amapá dia desses, numa aula sobre história do Brasil, sobre relações étnico-raciais, sobre minorias, por exemplo?.. São questões que, acredito, a gente deve ir buscando estratégias para conectar os discursos e apontar caminhos aos alunos, principalmente na conjuntura que estamos agora, em que a pluralidade cultural, as peculiaridades étnicas, de gênero, econômicas, culturais (etc) estão sendo atacadas ferozmente.
      Então, essas talvez tbm sejam algumas das dificuldades que precisamos ir enfrentando, e solucionando, criando mecanismos de ensino que possibilitem o alunado a compreender e fazer relações entre o que ele vive, o que ele vê, ouve, sente, com os conteúdos curriculares das aulas. É aí, penso, que o ensino de História ganha sentido, ao ser contextualizado com o cotidiano dos alunos.

      Espero ter conseguido responder.

      Rafael Souza Ferreira

      Excluir
    2. A atenção aos discursos é algo fundamental, Talyta, penso eu. Principalmente ao discurso das figuras públicas, o que elas tratam, e o que as mídias reverberam disso. Esse discurso influencia muito a formação de um modo de pensar, de uma consciência sobre algo. E além disso, é um discurso que vai, sorrateiramente, se oficializando e mudando as leis. E é aí que a preocupação aumenta: mudando a legislação, aumentam os riscos de desmoronar, por exemplo, a implementação de um ensino mais presente nas escolas no que diz respeito a educação étnico-racial.

      Excluir
  7. Olá! Gostei muito do seu texto.Sabemos que ainda existe preconceitos sobre diversas culturas,como você citou, mas acredito que já há pequenos passos para que isso mude,o que é de extrema importância. E que a historiografia já começa a ser contada pelo ponto de vista dos " menos "vistos.
    Dorilene Vieira dos Santos -UEMA

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Já é possível sim perceber uma "história vista de baixo", mesmo timidamente ela vem se fazendo presente nos livros didáticos escolares, por exemplo. Estamos tendo avanços, nesse sentido. Todavia, a conjuntura a que estamos imersos atualmente pede atenção, principalmente na questão dos discursos que estão sendo utilizados, como o de uma negação da história para escrevê-la novamente, por exemplo.

      Rafael Souza Ferreira

      Excluir
  8. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Sim, a implementação da lei 10.639 trouxe avanços sobre vários aspectos. A partir dela, outras abordagens sobre a história brasileira começaram a ser visualizados, como a questão dos debates nas salas de aula enfatizando as histórias e cultura afro-brasileira e indígenas, como vc apontou. É interessante que nossas práticas, nesse sentido, avancem além dos conteúdos curriculares das aulas, mas dialoguem com as realidades múltiplas dos alunos, que extrapolem as escolas em direção a realidade comunidade.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
    3. Olá Rafael, sua escrita foi muito clara, parabéns. Enquanto professora sei que ainda temos que fazer muito ainda pelo ensino das relações étnico-raciais, mas que comparado a outros períodos históricos tivemos grandes avanços, principalmente com a Lei 10.639, é surpreendente como os jovens negros tem orgulho de sua história e identidade, com essa valorização da história e cultural afrobrasileira e africana.

      Sônia Oracilio Duarte (Unioeste)

      Excluir
  9. Olá!Mesmo em pleno século XXI,há ainda aculturação por alguns povos?
    Dorilene Vieira dos Santos-UEMA

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Se levarmos em consideração uma ideia mais generalizada de aculturação como sendo processos de assimilação de características, valores socioculturais de uma sociedade por outra, na atualidade, podemos dizer que ainda existe sim. Mas, é bom ter sempre em mente que aculturação é um termo que transita num terreno delicado. Alguns autores defendem que deve ser usado apenas quando se referir à conjuntura específica, como de colonização, por exemplo, em que geralmente os colonizadores impõem seus valores; outros já defendem que o fato de existir relações, contatos, interação entre grupos/cultura distintas, mesmo na atualidade, permitindo trocas, assimilação de características entre elas, tbm poderia ser chamado de aculturação.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  10. Boa tarde.
    Discorrendo sobre o tema das relações étnico raciais afirma-se que esse debate é compreensível, em razão de ser uma forma de se desconstruir os tradicionais relatos que contextualizam que os povos indígenas, africanos e afro-brasileiros ao longo da história foram personagens da escravidão ou habitantes de ambientes tidos como selvagens e exóticos. Neste sentido essa pesquisa Repensar tais abordagens históricas, desde a projeção e implementação de políticas educacionais até os processos de ensino e aprendizagem no cotidiano escolar, permite aos poucos “descolonizar os currículos” trazendo assim um novo olhar mais plural e abrangente a cerca desse tema tão caro a sociedade brasileira.
    FRANCIELCIO SILVA DA COSTA. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É isso, Francielcio. Tratar das relações étnico-raciais volta o olhar para questões sobre a construção histórica (social, cultural, política, econômica..) do Brasil, bem como adentra o próprio âmbito da educação, da forma cidadania, da implementação das leis.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  11. Muito bom. Parabéns pelo trabalho! Na história nacional apenas a história dos vencedores foi divulgada como a história do Brasil, muitos outros personagens que foram importantes para a constituição do país foram silenciados na historiografia brasileira. O texto se mostra pertinente dado que pretende discutir teorias raciais que várias sociedades adotaram para determinar um grupo superior em detrimento de outro e conduzir tal debate pelo viés educacional é revelar que ideologias difundidas nesse campo podem ser difíceis de desconstruir.
    Thais da Silva Portela (UEMA)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E essed debates ñ apenas fazem parte da História, narrativas do que aconteceu, mas tbm estão muito presentes no nosso cotidiano, algumas vezes mais explícito, outras vezes mais latente. O antisemitismo, a xenofobia, a misoginia, entre outros temas, são muito presentes ainda em nossas sociedades. E vemos muito nos discursos de algumas figuras públicas, e que reflete no entendimento da própria população de algum modo. Obrigado pelo comentário, Thaís.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  12. Muito interessante quando você lembra que os africanos e indígenas também possuíam e criavam suas estratégias de enfrentamento e resistência às imposições. Durante a graduação desenvolvi uma pesquisa sobre a ocupação da Baixada Maranhense no século XVIII, e foi interessante encontrar nas Cartas de Sesmarias (documentos do Arquivo Histórico Ultramarino) a presença do índios e suas resistências as práticas dos sesmeiros que ocupavam suas terras. Então o que percebemos é que cada povo tem ao longo de sua história resistindo ao processo de dominação. Parabéns pelo trabalho.

    Alessandra Cristina Costa Monteiro- UFMA

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente, Alessandra. A escrita tradicional da história do Brasil privilegiou (e ainda privilegia de alguma maneira) muito a versão dos colonizadores, "conquistadores" branco-europeus, e seus herdeiros, o que invisibiliza(va) a existência dos outros grupos étnicos. Mas, estes resistiam sim, tinham suas estratégias de enfrentamento, de negociação e conflitos, que só com muita luta foi conquistando espaço nas produções historiográficas.

      Rafael Souza Ferreira(UFPA)

      Excluir
  13. Boa noite.
    Como o autor bem discorreu Refletir sobre as relações étnico-raciais raciais e o ensino de História se insere como uma ação social resistência frente à opressão e como assinala o educador Paulo Freire uma conduta de educar para a liberdade no sentido de se estar trabalhando como um processo de ensino e aprendizagem que se basei na liberdade de expressão e de pensamento ou seja, um modelo de educação que se conecta a noção de direitos humanos.
    Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, Francielcio. A ideia de liberdade, por exemplo, é algo que muito nos cerca na atualidade. Mas será que a temos mesmo? Será que somos livres completamente? Pudemos ser, ter e fazer o que gostamos, por exemplo?!.. Apesar de termos uma liberdade teoricamente presente, se pensarmos bem, vamos perceber muita opressão ainda nos aprisiona.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  14. Boa noite.
    Existe alguma legislação especifica no Brasil ou no mundo que trabalhe a noção de relações étnico raciais?
    Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Francielcio, boa noite. No link abaixo vc pode estar tendo contato com leis que tratam de relações étnico-raciais. Bons estudos!!

      http://portal.mec.gov.br/formacao/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/12990-relacoes-etnico-raciais-sp-2079273009

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  15. Rafael Ferreira seu trabalho traz uma reflexão importante e necessária. Nós precisamos inserir esse debate na educação básica. Nós nos deparamos com inúmeros problemas a começar pelo material didático disponibilizado, que contém lacunas enormes quando o assunto é história indígena ,africana ou afro-brasileira. Levando em consideração sua abordagem, qual seria o recorte temporal de sua análise e quais suas fontes?

    Comentado por Michelle Araújo Dias

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Michelle. Como mencionado no resumo, as reflexões do texto emergem a partir do contato com bibliografias sobre a temática desenvolvida. Das pesquisas e análises bibliográfica foi que se construiu os entendimentos expostos no decorrer do texto acerca das relações étnico-raciais e ensino de História.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
    2. O texto compreende, contextualiza e traça diálogos entre diferentes períodos da história brasileira, evidenciando aspectos socioculturais e político-econômicos concernentes, por exemplo, à colonização, escravidão, era Vargas e a conjuntura atual.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  16. Que textos rico, Rafael. Gostaria de saber se você já trabalhou ou como costuma trabalhar essa temática em sala de aula, tendo em vista que é uma temática que vem sendo (re)pensada constantemente e que vem trazendo uma grande contribuição para o conhecimento principalmente das populações tradicionais, saindo um pouco das teorias
    eurocentricas ?

    Att. Aline de Freitas Lemos Paranhos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Alinne. Como professor de História ainda ñ pude trabalhar o conteúdo em sala, mas já desenvolvi atividades com essas temáticas como ministrante do componente curricular Arte, no qual tbm tenho uma formação. Normalmente, quando possível, busco contextualizar e conectar os conteúdos curriculares com os temas da cultura afro-brasileira e indígena, sem esquecer evidentemente de ñ apenas expor o tema em sala, mas buscar com que os alunos tbm expressem suas opiniões, pra justamente ir levantando debates maia críticos e analíticos sobre a presença dos distintos grupos étnicos na nossa realidade.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  17. Olá! Seu trabalho é muito representativo, refletir sobre as relações étnico-raciais e o ensino de História no Brasil não é uma tarefa fácil, haja vista que, a realidade vivencia em nosso país não é propiciadora a esta questão, isso também esbarra na questão crucial que é a formação de professores. Não podemos nos esquecer que estamos vivenciando tempos de censura e negação da história e dos direitos sociais e individuais. Abordar a temática das relações entre os diversos grupos que formam nossa gênese, assim como, suas particularidades, trajetórias, manifestações políticas, culturais e religiosas, se constitui como um ato político de luta e resistência frente à opressão exercida por aqueles que tentam apagar nossa história.
    Concordo com Freire quando afirma que é preciso que tenhamos uma resistência que nos preserva vivos. Educar é um ato de amor, precisamos educar para a liberdade. A discussão realizada em seu trabalho nos mostra que é possível continuar lutando.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tbm vejo a formação de professores como algo central nesse assunto, Nazaré. Devemos, na medida do possível, sempre tbm estar buscando alternativas para tentar suprir nossas necessidades e dos alunos em sala, já que o nosso cenário político não está atualmente nem um pouco preocupado com isso. Sigamos juntos, companheiros!

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  18. Olá Rafael Ferreira, boa tarde. Parabéns pelo seu trabalho! É um tema de grande relevância, pois sabemos que a sociedade brasileira é composta por uma diversidade de raças e etnias e, por isso, deve-se valorizar a pluralidade racial no ensino de História, buscando a igualdade e o respeito pelas diferenças.

    Isaildo de Carvalho Veloso - UFPI

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Isaildo. Tratar da nossa diversidade social e cultural sempre é necessário, principalmente agora em tempos de censuras à liberdade de expressão dos mais diferentes grupos que compõem nossa sociedade.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
    2. Verdade companheiro Rafael! Na conjuntura atual é necessário discutir sobre temáticas tão importantes que estão sendo invisibilizadas pela sociedade autoritária e excludente. Que governa nosso país.

      Nazaré do Socorro Bitencourt Viegas.

      Excluir
  19. As populações quilombolas, afrodescendentes, indígenas e tradicionais ao longo da história vêm exercendo forte influência nos lugares onde se estabelecem, essas populações se organizam em movimentos sociais que são considerados como uma fonte de formação política e tem um papel de destaque nas lutas em prol dos seus direitos. Ao trabalhar essas temáticas em sala de aula o professor abre possibilidades para que os alunos tenham diferentes olhares sobre quem fez e faz a nossa história.

    Nazaré do Socorro Bitencourt Viegas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente, Nazaré. E, antes de tudo, são grupos que tbm construíram a sociedade que somos hoje, mas que foram e ainda são excluídos e vítimas de preconceitos e intolerância, no entanto resistem e criam suas estratégias de enfrentamento à opressão, como bem os relatos históricos nos mostram.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  20. Elkiaer Abensur de Aquino2 de agosto de 2019 às 15:36

    Rafael Souza Ferreira, parabéns pela rica pesquisa. Para agregar ao que dialoga com as relações étnico-raciais, pelo menos na Região Norte que eu resido, temos um novo perfil de alunos que precisamos lidar. Um numero quantitativo cresncente de refugiados imigrantes venezuelanos e haitianos. De acordo com a política de governo daqui eles estão se inserindo nas séries escolares básicas. Percebo agora, como uma possibilidade do que buscamos na nossa formação enquanto docentes, um ensino de história e cidadania como já encontrei em outras leituras como da Profª Drª Selva Guimãres, que traga oportunidades de formar no aluno uma consciência histórica de respeito ao outro. Desde modo procuro em minha formação até disciplinas que me proporcionem um nível de conversação em espanhol, a fim ter um alcance de todos os alunos da classe que estou presente, para que estes que falem línguas espanhola se sintam num processo de inclusão e integralização ao saber Histórico.

    Elkiaer Abensur de Aquino

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que interessante, Elkiaer. Essas práticas de inclusão é que permitem mesmo com que aprendamos mais com as experiências de outras culturas. Embora o caso desses imigrantes seja algo que deva muito debatido e colocado em pauta sempre para que se busque soluções aos problemas, ter esse contato com os mesmos nas escolas enriquece ainda mais os conhecimentos de ambos.


      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  21. Parabéns pelo texto Rafael!
    Um dos destaques dos debates das relações étnico-raciais, principalmente no que engloba a negritude, seria a própria questão do lugar de fala!
    Vivemos em uma sociedade onde é comum pardos e ate brancos ocuparem o lugar de fala das pessoas pretas!
    Como o ensino de história pode, Diante dos novos estudos, auxiliar nas reflexões dessas questões para criar uma representatividade real para pessoas pretas?

    Marcos de Araújo Oliveira- UPE

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Existem várias maneiras de trabalhar em sala de aula, por exemplo, a questão do respeito e representatividade dos distintos grupos socioculturais que constituem o Brasil. Ñ há uma receita de bolo pronta, como se diz popularmente. O processo de ensino e aprendizagem em/da História deve ser contextualizado, estabelecendo diálogos com o cotidiano dos alunos, da comunidade, buscando alternativas para inclusão e equidade entre os alunos, valorizando o que cada um trás como parte de suas experiências, buscando traçar diálogos e práticas com elementos das culturas afro-brasileira e indígena, por exemplo, mostrando como elas se fazem presentes nas nossas vivências, o que representam para tais grupos, entre outros aspectos. Penso que o lugar de fala realmente é algo delicado, a questão da identidade, da identificação, da experiência. Mas, tbm penso que podemos trabalhar para despertar e aguçar uma consciência histórica nas pessoas, para que as mesmas, numa atitude mais humanitária, compreendam a importância e o significado da pluralidade cultural da qual fazem parte, e com isso possam conviver mais harmoniosamente.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  22. Esse tema de estudos é muito bom de ser debatido nas aulas por apontar, primordialmente, para problemas que temos e que não aparecem com frequência a exemplo dos muitos preconceitos que acabam por gerar o racismo. Parabéns pela escolha do tema.

    Cleberson Vieira de Araújo - CENID/UFERSA

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso mesmo, Cleberson. Muitas vezes o preconceito existe de maneira velada, em situações que foram sendo transmitidas tradicionalmente como naturais, de pai pra filho e de geração em geração. Tratar a história e a cultura sob diferentes abordagens, como numa perspectiva afro-brasileira e indígena, por exemplo, mas ñ apenas, contribui para que muitos esteriótipos construídos com uma visão etnocêntrica, eurocêntrica, sejam desconstruídos e dê lugar aos entendimentos da própria cultura praticante.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  23. Boa noite! Parabéns pelo trabalho, sabemos que é de grande importância tratar acerca das relações étnicos raciais em sala de aula, somos um país resultado da mistura de diferentes origens e culturas e as discussões em sala de aula em torno destas questões devem ser frequentes, assim os alunos podem ter a oportunidade de analisar não apenas as visões europeias cheias de esteriótipos, mas analisar a História de diversos ângulos, assim, compreender o processo de formação da sociedade brasileira bem como a importância da diversidade cultural.

    Meyrilene de Sousa Pacheco

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E o mais interessante é q podemos, por exemplo, ir instigando e trazendo a tona, durante as aulas, as próprias experiências dos alunos, já q eles constituem tbm essa pluralidade sociocultural. São riquíssimas as experiências deles. Isso tbm enriquece as práticas no processo de ensino e aprendizagem, compartilhando experiências entre os alunos e suas distintas visões de mundo, e com isso tbm ir contextualizando/dialogando com os conteúdos curriculares do tema da aula em questão, no caso história e cultura afro-brasileira e indígena, por exemplo.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  24. Você aborda com propriedade em seu trabalho o tema sobre a história da formação da população brasileira que é marcada pela visão eurocêntrica que vem se perpetuando desde o inicio do processo de colonização do Brasil. Parabenizo você pela discussão.
    Aqui gostaria de realizar uma reflexão sobre o entendimento de que a escola possui um papel social imprescindível, e o professor pode desenvolver um trabalho em parceria com a comunidade que poderá servir como resgate da identidade cultural para as populações tradicionais quilombolas, indígenas, afro-brasileiras e outras. É necessário que o sujeito seja acionado como ator social com capacidade de promover e provocar ações sociais que contribuam para o fortalecimento das identidades dessas pessoas.
    Pois, a cultura de um povo é uma expressão da construção humana que se constitui e se constrói por meio do diálogo entre os sujeitos, da interação social que é construído gradativamente através de símbolos e significados que tem sentido para essas pessoas dentro do contexto em que são compartilhados entre elas para a preservação de suas heranças, garantindo assim, a preservação de seus costumes, tradições e modos de vida para a preservação da identidade cultural dessa população que tem singularidades e particularidades individuais e coletivas.

    Nazaré do Socorro Bitencourt Viegas -UFPA/PPEB.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente. Algo que vc mencionou é importantíssimo: a atenção para a comunidade. Tbm compartilho desse pensamento, de sempre estar permitindo o diálogo, a construção do diálogo e de conhecimento entre escola e comunidade. E possibilitar com que as pessoas da comunidade se sintam mesmo inseridas, parte do processo, que sejam atores sociais ativos na construção da cidadania, de um mundo menos desigual.

      Rafael Souza Ferreira (UFPA)

      Excluir
  25. Olá e que eu mudei de e-mail. E queria saber se o certificado vai para o e-mail.

    ResponderExcluir

Postar um comentário