CONSTRUINDO O IMAGINÁRIO DA CIDADE: O MUSEU XUCURUS COMO ESPAÇO DE MEMÓRIA E ESQUECIMENTO NO MUNICÍPIO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS / AL
Aline de Freitas
Lemos Paranhos
Licencianda em História – UNEAL
Bolsista do Programa Residência Pedagógica e
Integrante do Grupo
de Estudo de Patrimônio Cultural, Imagem e Memória –
GEPIM
Resumo: Pretende-se com
esse trabalho discorrer sobre o Museu Xucurus de História, Artes e Costumes
como um lugar de memória a partir das disputas identitárias e na construção dos
espaços pertencentes ao branco, ao negro e ao índio nessa instituição que fica
localizado no centro da cidade de Palmeira dos Índios, município localizado no
interior do estado de Alagoas. Instaurado no edifício
da antiga Igreja do Rosário dos Pretos,
construída por negros fugidos, o acervo constituiu-se a partir de doações
feitas por diversos moradores da região; o referido museu foi fundado em 1971
por personagens da elite palmeirense e membros da Igreja Católica, que
vislumbravam a criação de um espaço capaz de conservar a memória da cidade.
Desse modo, este trabalho tem como objetivo analisar a forma como essa
instituição elabora a distribuição desse espaço, voltando suas lentes à
história elitista e silenciando o protagonismo desses povos tradicionais na
atualidade através de sua exposição. A pesquisa se materializa em dois
momentos; a primeira etapa é construída a partir do estudo bibliográfico
baseado nos pressupostos de CHAVES (2014), HALL (2015/2016), PEIXOTO (2013),
POLLAK (1989/1992), POULOT (2009), SAMAIN (2012), entre outros; já no segundo,
realizou-se uma pesquisa de campo, na qual contou com visitas periódicas ao
museu e seu entorno para coleta de fotografias, conversas informais e
entrevistas Além disso, visitou-se a aldeia indígena Mata da Cafurna e a
comunidade quilombola da Tabacaria no intuito de estudarmos a divergência entre
as representações contidas nesses diferentes espaços memorialísticos, buscando
preencher algumas lacunas historiográficas sobre o tema a partir dos usos e/ou
desusos da capacidade memorialística e patrimonial.
Palavras-chave: Identidade.
Imagem. Representação.
Introdução
O município de
Palmeira dos Índios é situado no interior de Alagoas;
conhecido como a Princesa do Sertão e está na
zona de transição entre o agreste e o sertão num clima semiárido cortado pelo
Planalto da Borborema. Graças à sua posição geográfica, é marcada por
ser rota de passagem de negros fugidos e conta,
atualmente, com a presença de remanescentes dos
quilombos que formam a comunidade quilombola da Tabacaria e vivem na zona
serrana da região.
Nesse sentido, A
história de Palmeira dos Índios, desde sua constituição, encontra-se
entrelaçada a um processo de disputas memorialísticas e territoriais. Segundo
Peixoto (2013), os dois grupos indígenas que deram início ao povoamento do
território, os Xukuru e os Kariri, foram submetidos ao catolicismo pelo frei
Domingos de São José, que no ano de 1773 solicitou a D. Maria Pereira
Gonçalves, herdeira da sesmaria de Burgos, meia légua de terra para construção
de uma capela.[1]
Com a
documentação lavrada em cartório, começava então a ganhar forma o território de
Palmeira dos Índios. Após construção da primeira capela e com o desenvolvimento
da catequese indígena, o frei construiu uma segunda, na parte mais elevada da
planície, tendo como principal objetivo o povoamento daquele local. Desse modo,
com a criação da igreja, aumentara o fluxo de pessoas naquela região, e entre
elas alguns comerciantes que foram estabelecendo residência no entorno da
capela, criando assim um pequeno aglomerado populacional.
Diante do
processo de povoamento dessa região, começa então a desencadear-se as primeiras
disputas territoriais, tendo em vista que os indígenas eram privados de
entrarem em determinados locais pelos novos moradores da localidade. De acordo
com algumas documentações encontradas no NEPEF[2], a
elevação do povoamento à categoria de vila foi em 10 de abril de 1835, a partir
da resolução nº 10. Em 1853 foi elevada à categoria de cidade e em 1872 teve a
criação da sua comarca. Seu termo fazia parte da comarca de Atalaia, passando
para Anadia em 1838.
Outra versão
encontrada com frequência na região é a do memorialista Luiz Barros Torres, que
vem sendo construída a partir de uma série de elementos que contribuem para a
criação de um discurso que ecoa pela municipalidade, como a lenda[3]
sobre a fundação da cidade, sua bandeira e imagens de índios encontrados ao
longo do território palmeirense. Com as escavações feitas durante o século XX,
uma série de igaçabas e outros artefatos indígenas foram encontrados em
diversas partes do município de Palmeira dos Índios. Diante disso, Teixeira
(2012) explicou que esse procedimento se fez necessário para que “[...] ocorresse uma apropriação local de valor da cultura
material relacionada aos xucurus-kariri [...]” (TEIXEIRA, 2012,). Logo, esse processo exerce extrema relevância para que a
presença indígena venha a ser associada como referência histórica para a
edificação da cidade. Na mesma perspectiva, durante uma conversa, um informante
(Informante 1) nos relata o seguinte:
Na rádio Palmeira FM, quando
aquilo ali foi construído, era uma churrascaria, foi encontrado um quintal de
igaçabas, ai o que fizeram ?! Quebraram tudinho e passaram pedra por cima,
brita.. Concretaram e cabousse... [...] é para não perder o prédio... (INFORMANTE
1, 2017)
Diante
disso, se por um lado há todo um
processo de valorização histórica e identitário por meio desses objetos; por
outro, eles são vistos, para alguns, como uma ameaça à medida em que o
território que conta com a presença desses artefatos passam a ser considerados
territórios indígenas, dando aos indíos o direito à reinvindicação e posse da
terra. No entanto, os artefatos encontrados durante as escavações, tanto na
cidade, quanto na zona rural de Palmeira, são fundamentais e talvez, segundo
Chaves (2014), o motivo que impulsionou a criação de um museu que evidenciasse
a “[...] preocupação da sociedade palmeirense com a preservação da memória
local.” (CHAVES, 2014). Nesse contexto
destaca-se Luiz Torres, memorialista responsável por uma contribuição
significativa sobre a história de município, que
Durante o tempo em que viveu em Palmeira dos Índios, de 1943 a
1992, Luiz Torres se dedicou a colecionar fotografias, documentos e recortes de
jornal sobre a história da cidade. Deixando um acervo considerável em posse do
seu filho Luiz Byron Passos Torres, além de ter fundado o Museu Xucurus de
História Arte e Costumes onde expôs muitos dos artefatos que conseguiu
arrecadar nos mais variados pontos do município. (PEIXOTO, 2013)
A
partir da contribuição dada por Luiz Torres para a história de Palmeira dos
Índios fica evidente que, se por um lado a
memória, o esquecimento e o silêncio[4]
andam juntos, por outro, existe uma teia que a interliga à identidade ao
patrimônio. Nesse sentido, o Museu Xucurus de História, Artes e costumes,
construído a partir da ideia de criação de Luis Torres trabalha tanto como
patrimônio, quanto como espaço de silenciamento. O que para Paranhos (2017) é
uma situação na qual a imagem do negro e o índio é vista de maneira
estereotipada, negando em seu discurso que esses indivíduos desempenham um
papel importantíssimo no estabelecimento de um sistema cultural.
Museu
Xucurus: entre colecionismos, imagens e representações
[...] o Museu Xucurus de História,
Artes e Costumes perpetuou-se como local de memórias em Palmeira dos Índios,
configurando-se num ambiente que transmite uma imagem própria, uma narrativa
sobre a história da cidade, tecida a partir da visão dos seus idealizadores.
(SOARES, 2017).
A princípio, como Luiz
Torres era responsável por uma contribuição
significativa sobre a história do município e vinha de uma série de escavações
feitas na cidade e seu entorno, onde
foram encontradas igaçabas e outros artefatos indígenas que, de acordo
com o Termo de Convênio entre a Secretaria da Educação e Cultura e o Museu
Xucurus, publicado no Diário Oficial do Estado (D.O.E de 20/04/1983) na Portaria nº 497, de 19 de
abril de 1983, cláusula primeira; o objetivo deste “museu-popular” era promover
o desenvolvimento cultural, a conservação do acervo indígena e o fomento da
indústria do turismo.
Partindo
desta premissa, é criado o Museu Xucurus, que nasce da parceria entre o
memorialista Luiz Torres, o bispo Dom Otávio Aguiar e o tenente Alberto de
Oliveira; que o instaurou no prédio que outrora formava a Igreja
do Rosário dos Pretos, erguida pelos escravos que viviam nessa localidade
durante o século XVIII, que estava desativada. Face a isso, se por um lado Luiz
Torres fundamenta a ideia de construir uma instituição memorialística para
salvaguardar os artefatos indígenas; por outro, o bispo cedeu o local para que
essas aspirações fossem concretizadas. Além do mais, sua presença foi
fundamental para a coleta de objetos que seriam expostos no museu devido a
campanha que ele criou para a arrecadação de peças que durou de dois a três
meses e teve como apoio a Rádio Educadora Sampaio (dados retirados de acordo
com o relatório feito pela Biblioteca de Palmeira dos Índios no dia 25 de
novembro de 1974 e assinada por Luiz Torres, presidente do Museu Xucurus, em 16
de julho de 1979).
Desse modo, em 1971 foi
fundado o Museu Xucurus de História, Artes e Costumes; contendo um acervo bem
diversificado, constituído a partir de doações feitas pelas elites da região
que pertencia à diocese de Palmeira dos Índios, na época, através dos objetos
como armas, louças, moedas, máquinas de escrever, bem como uma parte destinada
a arte sacra, correntes e objetos que serviam para torturar os negros, além de
um acervo de artefatos indígenas. Durante a inauguração, não há relatos da
presença de indígena e quilombola no local, no entanto, comerciantes,
empresários, vereadores e outros personagens do tipo, lá estiveram.
Nos dias atuais, ao nos
deparamos em frente ao museu, observamos paredes com suas tintas descascadas,
ao entrar a primeira imagem que se tem é a de um altar com algumas imagens de
santos e caixas de vidro com as vestes de um padre da igreja católica que viveu
e atuou na cidade. Na nave direita, estão expostas fotografias de alguns
prefeitos do município, e à esquerda, uma coleção de santuários e fotos da
primeira paixão de Cristo que aconteceu na Serra do Goití. Subindo a escadaria,
nos deparamos no topo da escada, com três manequins: à direta, uma figura com
calça branca acorrentada com a frase “Ladrão e Fujão” estampada no peito. No
centro, a representação de uma mucama e à esquerda, um manequim acorrentado com
uma mordaça tapando-lhe a boca. Na última sala estão expostos alguns artefatos
indígenas como arcos, flechas, igaçabas e vestes religiosas.
A partir disso,
acentua-se uma discussão acerca das formas como estão expostos os artefatos da
cultura branca, negra e indígena e como cada um deles se percebem neste espaço.
Quando pergunto a uma entrevistada que vive na comunidade quilombola do
munícipio se ela já havia visitado o Museu Xucurus que fica na antiga igreja
que havia sido construída por negros ela me responde que nunca foi no museu,
mas que já ouviu falar nessa igreja. Então, ao ver algumas fotos referentes a
cultura negra que estão expostas no museu (fotos dos manequis acorrentados, do
tronco e das telhas e potes de barro) ela diz emocionada, o seguinte:
É muita, é muita coisa minha
fia... [...] Eu sinto muito probrema, porque você ver a gente que é negro...
Hoje tá melhor, porque no tempo dos antepassados a gente era humilhado [...]
(INFORMANTE 2, 2019)
Em contrapartida com a
fala do Informante 2, durante uma visita ao Museu com outra entrevistada, também
quilombola, ela diz o seguinte em relação aos manequins dos negros que estão
expostos no museu:
Olha a estética... Esse negro
está totalmente europeu, não que ele não tenha havido a miscigenação, só que
pra um negro requinto, com a pele super escura, como é que ele vai ter esses
traços? Esses olhos que não são escuros? [...] Ai você trás um período tão
longo que foi a escravidão e você traz três negros que foram responsáveis?
[...] Você trás três negros pra representar [...] ai tipo, só foram esses três
que ajudaram a construir aqui? Ai quando você coloca... olha a formosura que
está no inicio do museu. Olha a riqueza de detalhes [...] protegido... Olha
como está exposto! Olha a cor que está!
Não é tirado, não é tido manutenção e além do mais não é valioso [...]
Um manequim de plástico que vai ser substituído, que eles tentaram escurecer.
Eles pintaram [...] foram tentar modificar o nariz e alargar [...] E olha só
como eles colocam as marcas e os lábios tentando recortar os lábios dando
aquela ideia de negro europeu [...] E outra coisa, só tem isso aqui relacionado
à escravidão da população negra [...] e a maioria dos quilombos não é isso. Os
quilombos não são isso. Eles tem a sua história ! (INFORMANTE 3, 2019)
A partir das narrativas
da Informante 3, fica evidente a divergência que há em relação a imagem negra
que está contida no Museu Xucurus e o que de fato eles simbolizam na
atualidade.
Corroborando com isso,
destacamos alguns elementos que envolvem a divergência entre aquilo que é
projetado através das representações negras e indígenas contidas no museu e o
que de fato simbolizam para os povos esquecidos pelo conjunto de relações
econômicas, políticas e sociais. Para alguns Quilombos da Tabacaria, ver os
objetos da cultura negra expostos no museu os trazem lembranças de dor e embora
façam parte de sua trajetória, não mostram de fato o que eles são hoje. Já na
perspectiva dos Xukuru-Kariri, os artefatos do sagrado indígena expostos são
tidos como uma ofensa para sua cultura e para sua religião, além de seus mortos
terem sidos desenterrados e se tornado peça de museu.
Conclusão
Ao compreendermos a
impossibilidade de preenchermos completamente lacunas historiográficas, ao considerarmos suas continuidades e rupturas
presentes na produção de documentos, ou na memória dos envolvidos nos
processos históricos; apresentamos,
nessa pesquisa, várias faces do cotidiano palmeirense, descritas a
partir do Museu Xucurus de História, Artes e Costumes e, com isso, um pouco de
como sua identidade é construída, transparecendo sua singularidade à medida em
que deixa florescer as múltiplas expressões étnicas que dão, tanto o índio
quanto o não-índio, o valor simbólico de sua cultura e marca as fronteiras
sociais existentes entre eles.
Baseada nas relações
socioculturais que ocorrem em meio a diversidade cultural do município, as
análises e reflexões aqui feitas nascem da ideia de Certeau (2011), vinculadas
a operação historiográfica, onde as imagens projetadas dos índios Xukuru-Kariri
são influenciadas pelo tempo e espaço e assim pela subjetividade de cada
indivíduo que está disposto a analisá-las, buscando romper com as barreiras que
geram poucos ou um só eco, causadas pelos silenciamentos e pelos esquecimentos.
Assim, discutimos sobre
como o museu pode representar o contexto de conflito em que se encontra o local
no qual foi fundado. Esse caso nos faz refletir sobre quais são as histórias,
as artes e os costumes neles representados, privando os usos e/ou desusos da
capacidade memorialística e patrimonial. Compondo enfim, uma instituição capaz
de demostrar a predominância e o prestígio de mais de uma memória e, assim,
mais de uma história que descreve o município de Palmeira dos Índios.
Referências
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Mário. Memória e poder: dois movimentos. Cadernos de Sociomuseologia, [S.I.], v.19, n.19, jun, 2009. p. 43 – 80.
CHAVES,
Julio Cézar. “Eu não queria que
índio se tornasse peça de museu”: polifonias dos Xukuru-Kariri sobre
museus. Especialização – Programa de Pós-Graduação em Antropologia, da
Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Maceió, 2014.
CERTEAU,
Michel de. A escrita da História. Tradução de Maria de Lourdes Menezes;
revisão técnica Arno Vogel. 3ª ed. Rio de Janeiro, Forense, 2011.
Diário
Oficial do Estado (D.O.E de 20/04/1983)
na Portaria nº 497, de 19 de abril de 1983. Termo de Convênio entre a Secretaria da Educação e Cultura e o Museu
Xucurus.
HALL
Stuart. A identidade cultural na
pós-modernidade; tradução
Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Lamparina. 2015.
______
Cultura e representação;
Organização e Revisão Técnica: Arthur Ituassu; tradução: Daniel Miranda e
William Oliveira. Rio de Janeiro: Ed: PUC-Rio: Apicuri, 2016.
PARANHOS,
Aline de Freitas Lemos. NAS
FRONTEIRAS DO SILÊNCIO: a presença negra e indígena no acervo
museológico de Palmeira dos Índios/AL. In: MARIA NETA, Francisca; PEIXOTO, José
Adelson Lopes. Alagoas nos trilhos das memórias: imagens patrimônios e oralidades; prefácio Edson Silva. Recife:
Libertas, 2017. p. 221 – 233.
PEIXOTO, José
Adelson Lopes. Memórias e imagens em confronto: os Xucuru-Kariri nos acervos de Luiz Torres e Lenoir Tibiriçá.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da
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POLLAK,
Michael. Memória e Identidade Social. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p.
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______
Memória, Esquecimento, Silêncio. In:
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POULOT,
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Brunemberg da Silva; SILVA, Edson. Os
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TEIXEIRA, Luana. Para
além da “pedra e caco”: o patrimônio arqueológico e as igaçabas de
Palmeira dos Índios, Alagoas. Monografia (Mestrado Profissional em Preservação
do Patrimônio Cultural) – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – Iphan/ Superintendência Estadual de Alagoas, Rio de Janeiro, 2012.
TORRES,
Luiz B. Tilixí e Txiliá. Lenda da
fundação da cidade de Palmeira dos Índios. Texto não publicado. 1971.
[1] Lembrando que na época, uma
légua de terra era equivalente a 6.600 metros. Devida a essa vasta extensão
territorial, eram feitas escrituras de doações de terras pertencentes a uma
determinada sesmaria, fazendo com que novas sesmarias fossem criadas. Ver (VERÇOSA, 2018).
[2] Núcleo de Estudos Políticos,
Estratégicos e Filosóficos da Universidade Estadual de Alagoas, campus de
Palmeira dos Índios - AL.
[3] A lenda da fundação de Palmeira
dos Índios, criada por Luiz B. Torres em 1971 foi feita em formato de quadrinhos.
A versão original está no acervo de Luiz Byron Torres que se encontram no
Núcleo de Estudos Políticos, Estratégicos e Filosóficos - NEPEF da Universidade
Estadual de Alagoas, campus de Palmeira dos Índios - AL.
[4] Na relação entre a memória, a
história e o esquecimento trabalhado por Michael Pollak, podemos perceber que o
indivíduo e/ou a coletividade não só escolhe, mas também seleciona o que deve
ser lembrado e o que deve ser esquecido. Ver (POLLAK, 1989).
Texto muito bom, e bem construído. Quero saber se é bom trabalhar museus dialogando com os novos conceitos antropológicos, de representação, de cultura?
ResponderExcluirAllef Gustavo Silva dos Santos
Universidade estadual do Maranhão
61348763302
Obrigada Aleff. A princípio comecei a trabalhar o tema do museu a partir dos conceitos de identidade, memória e patrimônio, mas com o caminhar da pesquisa e principalmente com a ida à campo pude perceber o quanto os conceitos de cultura e representação estão interligador a ele. Isso fez com que eu abrisse os olhos para novos horizontes ao que diz respeito construção da pesquisa.
ResponderExcluirAtt. Aline de Freitas Lemos Paranhos
Aline, bom dia. Que lindo trabalho! Minha maior curiosidade a respeito é: Como/quando a formação e a constituição do Museu Xucurus começou a te incomodar? Como você enquanto pesquisadora percebe essa questão identitária nesse espaço de representação que é o museu?
ResponderExcluirFiquei pensando também... será que há realmente disputas identitárias? As falas que você trouxe, sobretudo a da Informante 3 (2019) e a percepção dos indígenas me parecem caminhar mais para a negação da identidade representada no museu. Nesse sentido, eu investiria no campo das representações e identidades. Desejo que você continue sua pesquisa, importantíssima para os estudos relacionados aos espaços que (re)produzem "partes da história" do Brasil. Um abraço!
Camila de Brito Quadros Lara - PPGH/UFGD.
Olá Camila, muito obrigada por participar e perguntar.
ExcluirQuando entrei no curso e História e comecei a conhecer um pouco as discursões acerca das populações indígenas, principalmente as de Palmeira dos Índios (município onde moro), comecei a perceber uma certa distância entre e o que circulava na cidade e as formas como eles vivem, devido principalmente as lutas por demarcação de terra indígena, entre os posseiros e os índios . Nisso, passei a participar de um projeto de iniciação à docência e uma das atividades era trabalhar com a memória e o patrimônio da cidade, onde marcamos uma visita ao Museu Xucurus. Ao visitá-la com os alunos e discutirmos sobre ele, fui percebendo que a forma como ele era organizado corroborava justamente com os discursos que circulavam de que praticamente não se existia mais Índios no município, na tentativa de relacioná-lós ao passado ou ate mesmo a aquela ideia de povos primitivos ou algo do tipo, formando o estereótipo criado ao longo de toda história do Brasil. Com a temática negra não é tão diferente, eles são diretamente relacionados com a escravidão.
Inclusive, uma das críticas que as populações indígena e negrada de Palmeira dos Índios fazem é justamente a de não se reconhecerem mais dessa forma, pq por trás de sua história existe toda uma cultura que não é mostrada, nesse sentido, quando falo das disputas de identidade, tento me referir também a essa mistura cultural que existe no município/Brasil e que de alguma forma acaba levando, ao meu ver a um conflito de memórias (as que a elite de Palmeira dos Índios que ajudaram a criar o museu querem deixar e a das comunidades tradicionais da região). Talvez não tenha ficado tão claro assim por esse artigo se tratar de um recorte da pesquisa. Te agradeço, inclusive, por pontuar essa questão e pelas contribuições com seu comentário.
Att. Aline de Freitas Lemos Paranhos
Sim, claro, entendo perfeitamente a questão do recorte. Parabéns pelo depoimento pessoal e siga em frente com essa bela pesquisa!
ExcluirCamila de Brito Quadros Lara- PPGH/UFGD
Boa tarde a todos, gostei dos comentários dos participantes, lembrando a todos que a frequência será contabilizada pela participação através de comentários, perguntas e sugestões.
ResponderExcluirPrezada Aline, parabéns pelo trabalho! é realmente uma temática bastante relevante que chama atenção para construção de diferentes discursos em torno do processo de construção do povoamento e atualmente a cidade de Palmeiras dos Índios, nota-se que existem conflitos sobre quem primeiro teria povoado a região? apesar dos vestígios históricos comprovarem que realmente foram os índios Xucurus e kariris, que aliás tiveram grande importância na formação cultural e identidade da cidade, percebe-se muitos foram expulsos e isso se constitui como uma tentativa de apagar a importância dos mesmos para a cidade, assim o museu Xucurus hoje funciona como um espaço de memória que tem a função de "guardar" a memória dos diferentes grupos culturais, não só índios, mas também o branco e o negro. No entanto, observamos que em determinados momentos algumas memórias são silenciadas e estereotipadas e muitos até criticam a forma como determinados grupos são representados como os escravos negros. Acho que sua pesquisa ficaria mais rica se trabalhasse com a metodologia da História oral, pois a partir disso, você veria porque existe esses conflitos e disputas de memória, sugiro a leitura de alguns autores:FERNANDES, Cleudemar Alves. A análise do discurso: reflexões introdutórias ( 2008); HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva ( 2004); Michael Pollak. Memória, esquecimento, silêncio (1989) e Memória e Identidade Social (1992). Acredito que essas leituras são indispensáveis para você entender como funciona as disputas de memória principalmente quando se trata de identidade cultural. Abraços!
ResponderExcluirAtenciosamente, Pauliana Maria de Jesus (UESPI-UFPI)
Agradeço pelas indicações e comentários, Pauliana. É justamente uma tentativa de silenciamento, principalmente se pensarmos a questão do território e das lutas pela demarcação de terra que existem no município e que acaba gerando uma série de discursões entre posseiros e indígenas.
ExcluirAtt. Aline de Freitas Lemos Paranhos.