Raimundo
Nonato Santos de Sousa
Acadêmico
do curso de Licenciatura em História pelo Centro de Estudos Superiores da
Universidade Estadual do Maranhão, CESC-UEMA. Atua como pesquisador-bolsista
PIBIC-FAPEMA e pesquisador-colaborador UNIVERSAL-FAPEMA.
Resumo:
O presente texto possui como objetivo principal
apresentar uma análise historiográfica sobre o livro “Formação do Brasil
Contemporâneo”, do prestigiado historiador brasileiro Caio Prado Júnior.
Considerado uma das referências obrigatórias para o estudo da história do
Brasil, da historiografia brasileira, assim como para a própria compreensão
histórica da formação econômico-social do Brasil, esse livro possui,
verdadeiramente, uma importância teórica indiscutível. Nesta análise, buscou-se
enfatizar as evidências que o livro nos apresenta e que servem de
demonstrativos da intencionalidade da sua elaboração, bem como das influências
e dos preconceitos do contexto em que ele foi produzido. Por isso, deu-se
destaque para o conceito de matriz disciplinar do historiador alemão Jörn Rüsen
que trata sobre os fatores que regulam a apropriação interpretativa do passado,
a qual resulta na produção do conhecimento histórico. Defende-se, dessa
maneira, que o livro “Formação do Brasil Contemporâneo” nos ajuda a entender
não somente a formação econômico-social do Brasil ou a historiografia brasileira,
mas principalmente a realidade nacional do contexto histórico em que ele foi
escrito, a saber, a década de 40 do século XX.
Palavras-chave:
Análise historiográfica. Formação do Brasil
Contemporâneo. Intencionalidade. Conhecimento histórico.
Considerações
iniciais
O
livro “Formação do Brasil Contemporâneo”, de Caio Prado Júnior,
indubitavelmente se trata de uma das obras consideradas como referências
básicas para o estudo da história do Brasil e da historiografia brasileira. De
autoria de um dos maiores historiadores do país, esse livro se caracteriza por
fazer uma abordagem do processo de formação econômico-social do Brasil, além de
apontar as características do contexto em que ele foi produzido. Por causa
disso, esse texto tem por objetivo apresentar uma análise historiográfica sobre
o livro “Formação do Brasil Contemporâneo”, dada a sua importância para a
historiografia brasileira e também para a nossa própria compreensão histórica
da formação e das tentativas de consolidação do Brasil, enquanto Estado-Nação.
Antes
de adentrarmos na análise historiográfica da obra propriamente dita, cumpre sublinhar,
mesmo que brevemente, algumas informações sobre a biografia do autor. Nascido em São Paulo no dia 11 de fevereiro de
1907 e considerado um grande historiador e um dos mais importantes intelectuais
marxistas do país, Caio Prado Júnior, certamente, pode ser chamado de um dos
grandes intérpretes do passado do Brasil. Isso é compreensível, uma vez que,
através das suas obras, pode-se facilmente conhecer e entender a história do
nosso país.
Autor
de clássicos da historiografia brasileira, tais como “Evolução política do
Brasil” (1933), “Formação do Brasil Contemporâneo” (1942), Caio Prado Júnior,
junto com Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda inauguram a partir da
década de 1930 uma nova maneira de se entender o Brasil. Em decorrência disso,
essa tríade de pensadores costuma ser chamada de “Os redescobridores do
Brasil”.
Caio
Prado Júnior se distanciou, intelectualmente, da burguesia, da qual fazia parte
ainda muito jovem. Contrariando todas as expectativas de seus familiares e da
própria sociedade, ele se filiou ainda no principio da década de 1930 ao
Partido Comunista Brasileiro (PCB). Apesar disso, Prado Júnior não era
totalmente benquisto pela esquerda e nem tampouco pelos seus companheiros de
sigla política. Por ele ser filho de uma das mais ricas famílias de São Paulo,
as pessoas ligadas aos setores da esquerda e do próprio PCB não conseguiam
acreditar verdadeiramente que um burguês pudesse está afeiçoado à causa
comunista. O que prova isso é que várias foram as vezes que Prado Júnior sofreu
preconceito e tratamento discriminatório por causa da sua origem de classe,
cometidos pelos seus próprios parceiros de luta política.
Ele
também sofria algumas acusações feitas pelo Comitê Regional de seu partido. Sem
dúvida esse tratamento foi muito injusto, haja vista que Prado Júnior, chegou a
financiar com seus próprios recursos algumas atividades do PCB e até mesmo
mobilizar campanhas com o fito de arrecadar verbas para custeio das despesas do
partido politico. É interessante que para os governos ditatoriais, como por
exemplo, o Estado Novo e a Ditadura Militar Caio Prado Júnior era considerado
uma ameaça comunista. Como consequência disso, ele chegou até ser exilado durante
os anos de 1937 e 1939 na França, ocorrido que lhe deu a oportunidade de manter
ligações com o Partido Comunista Francês. No entanto, seus companheiros
políticos ainda o consideravam como uma figura que inspirava desconfiança.
Apesar
disso, ele se mostrava compromissado com o PCB e com a sua militância politica.
Em virtude da sua orientação ideológica e da sua origem de classe, pode-se
dizer que no Brasil, durante sua vida, Caio Prado Júnior não recebeu o reconhecimento
correspondente a sua importância enquanto estudioso da história brasileira e
militante politico. A razão disso se abriga sob o fato de suas obras terem
ganhado notoriedade, na sociedade brasileira, tempos depois da sua morte.
Alguns que tentam minimizar a grandeza da produção teórica de Caio Prado Júnior
alegam que suas obras são sustentadas por um viés puramente economicista, e por
causa disso, elas se mostrariam insuficientes na tarefa de nos fazer compreender
as múltiplas facetas da realidade brasileira. É evidente que essa crítica não
se sustenta, dada à qualidade teórica já atestada dos livros de Caio Prado
Júnior.
Elementos
constitutivos da obra
Certamente,
uma das principais referências para se conhecer a história do Brasil é o livro “Formação
do Brasil Contemporâneo” de Caio Prado Júnior, originalmente publicado no ano
de 1942. O livro apresenta uma análise que contempla desde os tempos de colônia
à formação do “Estado-Nação” brasileiro em 1822. Por esse motivo, essa obra nos
ajuda a compreender a formação social, econômica e política do Brasil.
Outra
característica distintiva desse livro é a iniciativa ousada do autor em
recorrer às origens da formação do Brasil e não a esquemas interpretativos já
elaborados para pensar a realidade brasileira do seu tempo. Com isso, o que
Prado Júnior buscou foi elaborar uma interpretação própria, e, portanto,
original sobre a formação econômico-social do Brasil.
No
que tange à estrutura, o livro “Formação do Brasil Contemporâneo” está dividido
em cinco partes. São elas:
1. INTRODUÇÃO – texto único. Nesta parte
introdutória do livro, Caio Prado Júnior apresenta o objeto de estudo que será
analisado e ainda explica o porquê da escolha do século XIX como recorte
privilegiado em sua obra. Sobre isso, ele nos diz que ele corresponde a “[,,,]
chave preciosa e insubstituível para se acompanhar e interpretar o processo
histórico posterior e a resultante dele que é o Brasil de hoje” (PRADO JÚNIOR,
1999, p. 9). O autor também nos diz que:
Faço
primeiro um balanço geral da colônia em princípios do século passado, ou antes,
naquele período que cavalga os dois séculos que precedem imediatamente o atual;
teremos então uma síntese do Brasil que saía, já formado e constituído, dos
três séculos de evolução colonial; e tal será o objeto deste primeiro volume.
As transformações seguintes, que nos trouxeram até o estado atual virão depois
(PRADO JÚNIOR, 1999, p. 13).
2. SENTIDO DA COLONIZAÇÃO – texto único. Nesta parte, Prado Júnior trata da tese fundante da sua obra que
explicaria inclusive, segundo ele, a condição do país no momento em que o livro
foi produzido. A respeito desse sentido da colonização, Caio Prado Júnior
afirma que:
Tudo isto lança
muita luz sobre o espírito com que os povos da Europa abordam a América. A
idéia de povoar não ocorre inicialmente a nenhum. É o comércio que os
interessa, e daí o relativo desprezo por este território primitivo e vazio que
é a América (PRADO JÚNIOR, 1999, p. 23).
3. POVOAMENTO – estruturado
em quatro capítulos (Povoamento, Povoamento interior, Correntes de povoamento e
Raças). Nessa parte do livro, Prado Júnior aborda, dentre outros temas, os
processos de penetração e ocupação do território que atualmente configura o
atual Brasil, e ainda, se aproximando de Gilberto Freyre, ele afirma que a
mestiçagem foi a solução encontrada pelos portugueses para integrar as
populações indígenas e negras ao processo colonizador. Como fora dito, é nesse
último aspecto que se percebe a influência que Caio Prado Júnior recebeu de
Gilberto Freyre. As informações apresentadas podem ser confirmadas nas
seguintes passagens:
[...] 60% da
população colonial, ou seja, quase 2.000.000 de habitantes, concentram-se numa
faixa litorânea que não ultrapassa para o interior [...] Este desequilíbrio
entre o litoral e o interior exprime muito bem o caráter predominante da
colonização: agrícola – donde a preferência pelas férteis, úmidas e quentes
baixadas da marinha; e comercialmente voltada para o interior, onde estão os
mercados para seus produtos (PRADO JÚNIOR, 1999, p. 39).
É este aliás o
caráter mais saliente da formação étnica do Brasil: a mestiçagem profunda das
três raças [...] numa orgia de sexualismo desenfreado que faria da população
brasileira um dos mais variegados conjuntos étnicos que a humanidade jamais
conheceu (PRADO JÚNIOR, 1972, p. 107).
4. VIDA MATERIAL – estruturado em nove capítulos (Economia, Grande
lavoura, Agricultura de subsistência, Mineração, Pecuária, Produções
extrativistas, Artes e Indústria, Comércio e Vias de Comunicação e Transporte).
As informações congregadas nessa parte se referem à situação da economia brasileira
no período colonial. Nestas, há o destaque para a subordinação da Colônia aos
interesses metropolitanos. Isso fica evidente no fato de que o sistema
produtivo colonial estava voltado para o abastecimento das necessidades do
comércio europeu e não para o mercado consumidor interno. Com essa análise
original, Prado Júnior reitera a sua tese do sentido da colonização, dizendo
que:
Aquele sentido é o
de uma colônia destinada a fornecer ao comércio europeu alguns gêneros
tropicais ou minerais de grandes importâncias: açúcar, algodão, outro, etc.
(PRADO JÚNOR, 1999, p. 119).
Também nesta parte, Caio Prado Júnior
ressalta o caráter difícil das vias de comunicação e transportes, afirmando que
elas:
[,,,] que imprimem
às relações da Colônia um ritmo lento e retardado, responsáveis, em boa dose, pelo
tom geral de vida frouxa que caracteriza o país (PRADO JÚNIOR, 1999, p. 237).
5. VIDA SOCIAL – estruturado
em três capítulos (Organização social, Administração, Vida social e política). Nessa
parte, o autor fala sobre a organização social do Brasil Colônia, apresentando
a escravidão como uma prática negativa. Sobre esse particular, ele nos diz:
[...] um recurso de
oportunidade de que lançarão mão os países da Europa, a fim de explorar
comercialmente os vastos territórios e riquezas do Novo Mundo, insinuando-se
como um “corpo estranho na estrutura da civilização ocidental em que já não
cabia [e contrariando lhe] todos os padrões morais e materiais estabelecidos
(PRADO JÚNIOR,1999, p. 270).
Análise
da obra
Caio Prado ao produzir “Formação
do Brasil Contemporâneo” bebeu em fontes variadas, tais como documentos
oficiais, correspondências de autoridades e viajantes, memorias etc. Além
disso, é também evidente a influência do materialismo histórico de Karl Marx no
livro. Isso pode ser percebido na seguinte passagem:
[...] Para estes, o europeu só se
dirigi, de livre e espontânea vontade, quando pode ser um dirigente, quando
dispõe de cabedais e aptidões para isto; quando conta com outra gente que
trabalhe para ele. Mais uma circunstância vem reforçar esta tendência e
discriminação. É o caráter que tomará a exploração agrária nos trópicos (PRADO
JÚNIOR, 1999, p. 29).
Sobre
esse particular cumpre lembrar que Caio Prado Júnior se apropriou do
materialismo histórico como método de investigação e não como esquema
interpretativo. Isso quer dizer que ele o utilizou como ferramenta para a
apreensão das especificidades da formação econômico-social brasileira. Por
isso, o autor é considerado um marxista de postura não-dogmática, no sentido de
que ele não aderia ao materialismo histórico de maneira irrefletida ou
integral.
Desse
modo, pode-se dizer que Caio Prado Júnior conseguiu articular a teoria marxista
à realidade brasileira. Ele nacionalizou, por assim dizer, o marxismo no
Brasil. Prado Júnior conseguiu traduzir o modo de abordagem dessa teoria às
condições da experiência histórico-social do Brasil, não se mostrando, consequentemente,
consumidor de fórmulas teóricas prontas. Ele fez similarmente a Lênin em “O Desenvolvimento
do Capitalismo na Rússia”. Nesse livro, Lênin russificou o materialismo, por
adequar esse sistema teórico à sua realidade nacional. Da mesma maneira, Caio
Prado Júnior utilizou o materialismo histórico como ferramenta teórica para
entender a realidade brasileira. Confirmando isso, RICUPERO (2000), afirma que
o livro, aqui em análise, de Prado Júnior se trata de um caso exitoso de
nacionalização do marxismo.
Cumpre
salientar que em sua obra é possível perceber também que o autor empregou conhecimentos
próprios da área da geografia. Isso foi herança do período em que ele estudou
esse curso, não chegando a conclui-lo. Isso pode ser observado na seguinte
passagem do livro:
Além do rio
Turiaçu, a costa propriamente não é mais favorável ao povoamento que a do
trecho anterior. Mas acompanhando-a, pouco afastados da orla marítima, aparecem
estes característicos campos do noroeste maranhense, os perizes, tão
favoráveis, a certos respeitos, para o estabelecimento da criação (PRADO
JÚNIOR, 1999, p.44).
Com “Formação do Brasil
Contemporâneo”, Caio Prado Júnior buscou compreender a histórica da formação do
Brasil para superar os aspectos negativos do passado colonial que ainda se
mostravam latentes na sociedade brasileira, servindo de trava para a consolidação
do Estado-Nação. Assim, na leitura da obra é possível perceber que o que Caio
Prado Júnior objetiva mostrar é que existe, infelizmente, uma relação de permanência
e não de ruptura entre o Brasil da sua época e o passado colonial. A análise
feita pelo autor se harmoniza com a concepção de história de RÜSEN
(2001) expressa no seu texto “A constituição narrativa do sentido histórico
(apêndice à edição brasileira)” a partir do seu conceito de matriz disciplinar.
Essa concepção condicionada pelo
referido conceito diz que na produção do conhecimento histórico, diversos
fatores atuam, inclusive o desejo do próprio historiador de compreender a
situação do presente. É isso que ocorre no livro de Caio Prado Júnior. Explicando sobre a importância da análise proposta
em seu livro, ele nos diz:
O passado, aquele passado
colonial que referi acima, aí ainda está, e bem saliente; em parte modificado,
é certo, mas presente em traços que não se deixam iludir. Observando-se o
Brasil de hoje, o que salta à vista é um organismo em franca e ativa
transformação e que não se sedimentou ainda em linhas definidas; que não tomou
forma (PRADO JÚNIOR, 1999, p. 10-11).
É
importante lembrar que no contexto histórico em que a obra foi produzida
procuravam-se afirmar o Brasil como um país moderno, e, portanto, distanciado
do passado tenebroso da fase colonial. Além do mais, tal contexto foi marcado,
no âmbito cultural, pelo movimento modernista e também pelo esforço dos
intelectuais de compreender a realidade sócio-política brasileira em que
viviam, com o fito de transformá-la.
Apesar
de condenar a escravidão, Caio Prado Júnior não conseguiu se desprender dos
preconceitos do seu tempo a respeito dos índios e dos negros. Em consequência,
na sua obra é possível encontrar adjetivações desqualificadoras a esses grupos.
Isso se explica pelo fato de que Caio Prado Júnior era filho do seu tempo e
mesmo que tentasse não poderia se distanciar totalmente dele. As passagens a
seguir evidenciam os preconceitos da época do autor refletidos na obra:
Na América a situação se
apresenta de forma inteiramente diversa: um território primitivo habitado por
rala população indígena incapaz de fornecer qualquer coisa de realmente
aproveitável (PRADO JÚNIOR, 1999, p. 24).
[...] povos de nível cultural
ínfimo, comparado ao de seus dominadores, [...] simples máquina de trabalho
bruto e inconsciente [...] povos bárbaros e semibárbaros [...] pretos boçais e índios
apáticos (PRADO JÚNIOR, 1999, p. 272).
Considerações
finais
Como já fora dito, em
seu texto A constituição narrativa do
sentido histórico (apêndice à edição brasileira), o historiador alemão Jörn
Rüsen nos apresenta o conceito de matriz disciplinar. A partir desse conceito, é
possível perceber que o conhecimento histórico sempre é produzido para
satisfazer alguma necessidade, muitas vezes, exterior ao âmbito da produção
acadêmica. Isso nos faz constatar que não são apenas os interesses intelectuais
que interferem no processo de apropriação interpretativa do passado, mas os
interesses individuais, coletivos e políticos também. Ademais, esse historiador
alemão defende que a apropriação interpretativa do passado é capaz de orientar
o presente, afirmando, consequentemente, que o conhecimento histórico pode ser
útil à ação.
Isso é observado na
importantíssima obra de Caio Prado Júnior “Formação do Brasil Contemporâneo”,
haja vista que, como já fora apresentado, o autor busca, por meio da sua abordagem
original, comprovar a sobrevivência do passado colonial na sociedade brasileira
do seu tempo, com o fito de compreender e transformar a realidade nacional daquele
período, década de 40 do século XX. Essa transformação, conforme Prado Júnior,
seria viável somente através da superação do passado colonial.
Por tudo isso,
conclui-se que essa obra é uma referência obrigatória para o estudo da História
do Brasil, por realizar uma análise original que contempla o processo de
formação econômico-social do nosso país. Além disso, “Formação do Brasil
Contemporâneo” também pode nos informa sobre a realidade histórica do contexto
em que ela foi produzida, denunciando inclusive as influências e os
preconceitos do autor.
Referências
PRADO
JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. São Paulo:
Brasiliense, 1999.
RÜSEN,
Jörn. A constituição narrativa do
sentido histórico (apêndice à edição brasileira). In: RÜSEN,
Jörn. Razão histórica: teoria da
história: fundamentos da ciência histórica
/ Jörn Rüsen; tradução de Estevão de Rezende Martins. – Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 2001.
RICUPERO,
Bernardo. Caio Prado Júnior e a
nacionalização do marxismo no Brasil. São Paulo: Departamento de Ciências
Políticas da USP. FAPESP. Ed. 34, 2000.
Olá, Raimundo Nonato. Gostei muito da sua análise do Caio Prado Jr. A gente estudou essa obra agora no mestrado. Como você avalia o lugar dos elementos étnicos nesse autor?
ResponderExcluirComentado por: Francisco Adriano Leal Macêdo
Obrigado pelas palavras, jovem. Como foi sublinhado no texto as obras de Caio Prado Júnior, em especial a Formação do Brasil Contemporâneo, são de fato muito importantes para conhecermos a história do Brasil e por conseguinte a história do povo brasileiro. Além disso, assim como qualquer obra historiográfica, elas nos permitem também perscrutar o contexto em que foram produzidas. No caso particular de Formação do Brasil Contemporâneo, como fora destacado no texto, isso torna-se perceptível. Nela é possível confirmar a tese que se tornou praticamente um mantra entre os historiadores e apreciadores da Clio, segundo a qual o homem é filho do seu tempo. Prado Júnior apesar de se mostrar nesse livro contrário à escravidão, cede aos preconceitos raciais imperantes no seu tempo, e na sua escrita dá vazão a eles. Isso é observado em uma das passagens da obra, em que ele diz que a contribuição dada pelos indígenas e negros para o Brasil foi praticamente nula. O interessante é que ele, influenciado pelos estudos de Gilberto Freyre, também reconhecia, como o fez no livro em questão, que a mistura das três raças foi fundamental para a formação do povo brasileiro. Então, a partir disso nota-se que os elementos étnicos aparecem no livro Formação do Brasil Contemporâneo de forma dúbia, por assim dizer. Isso é significativo, porque serve-nos de indicativo da própria concepção da época sobre esse assunto. Vale lembrar que na década de 40 do século XX, os debates acerca da valorização do indígena e do negro na sociedade brasileira ainda estavam se desenvolvendo. Isso possivelmente explica a visão dúbia de Prado Júnior sobre esse tema.
ExcluirComentado por: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Olá, Raimundo Nonato. Achei muito interessante e profunda a sua análise com relação a essa grande obra do Caio Prado Júnior, que retrata tão bem a história brasileira em conjunto com autores como Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre também citados no texto. Gostaria de saber se na sua opinião com relação a intencionalidade da obra, pode-se pensar que as problemáticas averiguadas na contemporaneidade são decorrentes desse nosso processo de formação? Isso a partir da visão do Caio seria possível de se indicar?
ResponderExcluirComentado por: Ruan David Santos Almeida/ Acadêmico do CESC-UEMA.
Obrigado pelas palavras, jovem. Confesso que ampliei meu entendimento a respeito da situação do Brasil a partir da leitura de Formação do Brasil Contemporâneo. Nesta obra, Caio Prado Júnior expõe sua tese intitulada de sentido da colonização. De acordo com ela, o nascimento do Brasil estava relacionado, antes de tudo, à necessidade de atender aos interesses metropolitanos de Portugal. O autor é até enfático ao afirmar que a colonização das terras que hoje configuram o Brasil foi uma consequência não desejada da exploração portuguesa. Ainda nas primeiras partes da obra, ele faz inclusive uma comparação entre a colonização de povoamento e a colonização de exploração. Em resultado da sobrevivência do passado colonial, o Brasil, conforme o autor, se encontrava à época da escrita e publicação do livro em condição subjugada, notadamente representada pela dependência externa. Isso por si só mostra que para Prado Júnior, o passado colonial ainda se mostrando latente na sociedade brasileira do inicio do século XX, impedindo com isso o desenvolvimento do Estado-Nação brasileiro. Compactuando com o autor, considero que o processo de formação do Brasil explica a sua condição subjugada no cenário econômico e político.
ExcluirComentado por: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Muito bom artigo. Os materialistas tem essa pegada intelectual da análise econômica e formação social, e Caio Prado Júnior não fica atrás, constituindo-se um dos intérpretes do Brasil. Pergunto se a luta política deste intelectual afetou sua visão do Brasil?
ResponderExcluirObrigado pelas palavras, jovem. Sem dúvida, pode-se dizer que o Caio Prado Júnior foi uma figura muito desacreditada. Ainda que ele, por causa da sua orientação ideológica fosse perseguido e tratado como uma ameaça pelos regimes ditatoriais, seus companheiros políticos não conseguiam encará-lo sem desconfiança, em virtude da sua origem de classe. Apesar disso, como foi falado no texto, Caio Prado Júnior se manteve leal a sua militância politica. E isso é comprovado pela permanência dele no PCB e pelo seu desejo de contribuir para a mudança da realidade brasileira. Entendo que esse intento de mudar a realidade nacional do seu tempo se apresenta como demonstrativo da influência da luta politica de Caio Prado Júnior sobre sua visão acerca do Brasil na época.
ExcluirComentado por: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Muita boa sua análise. Mais levando em consideração o seu escrito, sobre análise do livro de Caio Pardo Júnior, com esta ideia de formação social brasileira e econômica. Com isto qual a influencia dos escrito de Caio Pardo Junior nós primórdio da historiografia do Brasil, partindo do pressuposto que somos herdeiros de um sistema colonial?
ResponderExcluirass: Josiel Luis Franco de Andrade Carvalho.
Obrigado pelas palavras, jovem. Caio Padro Júnior recebe notoriedade por ter inaugurado no Brasil uma maneira diferenciada de se trabalhar com o marxismo, a qual se distingue por propor uma aproximação entre este sistema teórico e a realidade histórico-social do nosso país. Isso, inclusive, está presente na obra considerada. Em consequência, pode-se apontar a nacionalização do marxismo como uma das principais influências dos escritos de Prado Júnior na produção historiográfica brasileira.
ExcluirComentado por: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito interessante sua análise sobre a obra de Caio Prado Júnior, uma das mais ricas da história brasileira e por contemplar a realidade de sua época. Muito rico como expõe seus pensamentos. Parabéns.
ResponderExcluirAtt. Emmanuele Vale Silva-UEMA- (Campos Caxias).
Obrigado pelas palavras, jovem.
ExcluirOlá boa tarde Raimundo Nonato Sousa.
ResponderExcluirParabéns pelo seu texto. Um dos pontos relevante nele , ocorre quando ressalta em alguns momentos que um dos seus objetivos é pensar a obra de Caio Prado Júnior estabelecendo vinculações com o contexto social em que essa obra foi produzida. Essa época foi marcada por uma mobilização de autores que promoveram pesquisas voltadas aos questionamentos sobre o Brasil contemporâneo, autores como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Assim como Prado Júnior possuem levantamentos significativos acerca do entendimento do Brasil.
Essa obra por exemplo, se constituiu na época como uma análise nova e relevante. As questões abordadas nesse livro, marca uma etapa determinante na evolução do Brasil, e destaca terrenos econômicos, políticos e sociais. Contém ainda elementos constituidores da nacionalidade brasileira, um ponto chave para se pensar o Brasil contemporâneo. Ressalto também outro ponto plausível no teu trabalho, quando aponta as fragilidades dessa obra. Prado Júnior discute eixos analíticos do comércio interno, a aquisição de terras e a escravidão, entretanto algumas abordagens sobre esses pontos silenciam outros pontos que também são importantes para a história brasileira. E volto a parabenizá-lo quando uniformemente destaca a importância desse livro, mas também enxerga-o enquanto questionável. Se ainda não leu, te indico a ler um texto que se encontra nesse simpósio do professor Lincoln Franco, “Como se deve escrever a História do Brasil”: panorama e perspectivas, Franco (2018) reflete o fazer historiográfico voltado para uma análise do tempo presente, onde reflete o oficio do historiador enquanto categoria importante para pensar esses clássicos, com outras perspectivas, análises e objetos.
Obrigado pelas palavras e também pela indicação, jovem. Como você salientou essa obra do Caio Prado Júnior nos ajuda a perceber também que, independentemente do nível de pesquisas, o trabalho do historiador sempre apresentará lacunas. Isso, inclusive, está relacionado com o próprio caráter inacabado e dinâmico da História.
ExcluirComentado por: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Em primeiro lugar, gostaria de parabenizar a escrita do trabalho, tendo em vista o objeto de análise , o livro de Caio Prado Junior, o que tornou a leitura compreensível , e de forma alguma maçante. Ao longo do texto, apesar de trazer recortes da obra, o seu ponto de vista se tece ao de Caio Prado de uma forma interessante, fazendo com que seja possível identificar quando são suas impressões ao longo do artigo. Outro ponto interessante, foi quando abordou acerca dos preconceitos que o Autor , filho de seu tempo teria, o que me fez refletir sobre duas perspectivas, a primeira que me recordou de Silvio Romero que em alguns de seus textos expressa uma visão negativa acerca de índios e Negros, chegando a afirmar que os males existentes seriam fruto da mistura dessas três raças , termo esse que hoje em dia nem deveria ser mais utilizado, a outra questão é sobre a imparcialidade do historiador, onde entendo que por mais que o mesmo tente se afastar de seu objeto para analisa-lo , sempre deixa suas impressões sobre o mesmo de forma explicita ou implícita, logo essa suposta imparcialidade que deveria existir seria uma completa ilusão. No mais, parabéns pelo trabalho e sucesso na carreira.
ResponderExcluircomentado por: Mirian da Silva Costa/ CESC-UEMA/ 621.704.253-40
Obrigado pelas palavras, jovem.
ResponderExcluirComentado por: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Boa noite.
ResponderExcluirquero parabenizar o autor por trazer um debate pertinente no que tange a obra do historiador, geógrafo, escritor, filósofo, político e editor Caio Prado Júnior que organizou um estudo para se compreender a formação econômico-social do Brasil que dialoga com a realidade nacional do contexto histórico em que ele foi escrito, a saber, a década de 40 do século XX.
Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.
Obrigado pelas palavras, jovem!
ExcluirPor: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Boa noite.
ResponderExcluirMe chamou bastante a atenção quando o autor desse artigo pontuou que Caio Prado Junior no seu livro a formação do Brasil Contemporâneo ele se utilizou de uma interpretação própria, e, portanto, original sobre a formação econômico-social do Brasil, deixando de lado aqueles esquemas interpretativos já elaborados para pensar a realidade brasileira do seu tempo. Neste sentido pode-se enfatizar uma verdadeira inovação metodológica e teórica no estudo da História do Brasil.
Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.
Obrigado pelas palavras, jovem!
ExcluirPor: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Boa noite.
ResponderExcluirDeve-se afirmar também que Caio Prado Junior apesar de ter uma origem social burguesa, veio a seguir um caminho diferente em razão de sua filiação ao partido Comunista Brasileiro (PCB) como o próprio artigo cita. E além do mais, ele sofreu preconceito sim devido ao de não ser muito bem visto pelos seus companheiros de sigla política, por vim de uma família que estava entre as mais ricas do estado de São Paulo.
Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.
Exatamente. Obrigado pelas palavras, jovem!
ExcluirPor: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Boa noite.
ResponderExcluirTenho uma dúvida. Para Caio Prado Júnior ter se tornado Marxista ele teve inspiração em algum teórico Marxista?
Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.
Obrigado pela pergunta, jovem. Caio Prado Júnior importava muitas obras marxistas, sobretudo aquelas que não estavam disponíveis em português. Em algumas situações, ele chegou até a empreender algumas tentativas de tradução de obras dessa espécie. Dentre suas principais referências, pode-se citar os escritos de Karl Marx e de Friedrich Engels.
ExcluirPor: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Primeiramente parabéns pelo o trabalho, já tinha ouvido falar muito sobre Caio Prado Júnior, mas não sabia da sua importância para a historiografia do Brasil, e algo que chamou minha atenção foi o fato do preconceitos do seu tempo a respeito dos índios e dos negros que fica bem claro em certo trecho do livro colocando os como simples marquinha de trabalho brutal e inconsciente, mais com tudo isso não deixa de ser uma grande escritor.
ResponderExcluirWelison Barbosa Resende- UESPI
Obrigado pelas palavras, jovem. O observado mostra que a imparcialidade, apregoada pelos positivistas, não existe na realidade.
ExcluirPor: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Bom dia, gostaria de lhe parabenizar pelo trabalho. E gostaria de saber algumas questões. Você pretende avançar na pesquisa? Caio Padro Júnior traz uma análise marxista mais direta da formação do Brasil é possível traçar uma ponte com a atualidade, e, de que forma as "herança" e questões apontadas pelo autor na formação chegam como resultados, mesmo que não favoráveis, ao contexto atual?
ResponderExcluirPatrícia da Silva Azevedo (PPGH-UFRN)
Obrigado pelas palavras, jovem. Sim! Me interesso muito pelo estudo da historicidade das obras historiográficas, sobretudo as de Caio Prado Júnior. No que se refere aos resquícios do passado colonial ainda pulsantes na sociedade brasileira, pode-se citar um que é a dependência da economia do país em relação ao capital externo.
ExcluirPor: Raimundo Nonato Santos de Sousa - CESC/UEMA.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns pela Análise do livro de Caio Prado Júnior foi bem feita e bem organizada colocando toda perspectiva essa colonização que ele coloca no livro em referência também a essas o costumes entre outras coisas que são deixadas dela atualização até o império muito bem feita essa análise
ResponderExcluirMatheus Wilson Silva dos Santos Universidade Estadual do Maranhão _ UEMA-CESC
61496994396
Obrigado pelas palavras, jovem.
ExcluirPor: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá, Boa Noite!!!
ResponderExcluirParabéns pelo texto maravilhoso, sobre A Formação do Brasil Contemporâneo de Caio Prado Júnior, é uma obra atual, essencial e de extrema importância para historiadores e para aqueles que se interessam pela história do Brasil.
NEUDIANE PEREIRA DOS SANTOS
Obrigado pelas palavras, jovem!
ExcluirOlá Raimundo Nonato. Parabenizo pelo exercício de escrita e pela pesquisa Fico muito feliz de ver textos tão competentes em nosso simpósio temático não tenho muito o que acrescentar no seu texto indicaria apenas um certo cuidado com adjetivos em relação à obra e ao autor. Analise sempre a contrapelo.
ResponderExcluirObrigado novamente pela participação.
Jônatas Lincoln Rocha Franco (PPGHB-UFPI)