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LUGARES DE TRABALHO E MEMÓRIA: PATRIMÔNIO INDUSTRIAL FERROVIÁRIO EM PARNAÍBA-PI, 1916-1980


Lêda Rodrigues Vieira
Mestrado em História do Brasil pela UFPI
Professora Assistente II da UESPI, Campus Professor Alexandre Alves de Oliveira


Resumo: A ferrovia chegou no Piauí depois de muitas paralisações, sendo somente em 1916 a inauguração do primeiro ramal ferroviário, ligando Portinho à Cacimbão na região norte do Estado. Nesta região foram inaugurados outros trechos e estações ferroviárias entre os anos de 1920 a 1937, atingindo cidades como Parnaíba, Amarração (atual Luís Correia), Bom Princípio, Frecheiras, Cocal, Deserto, Piracuruca e Piripiri. Com as ferrovias, a paisagem urbana e rural se modifica, as ruas assumem novos contornos e funções, o que antes funcionava como símbolo do movimento de pedestres, com o trem passa a ter outros significados: espaço de velocidade, barulho das locomotivas, perigo dos atropelamentos, trabalho, etc. A proposta deste artigo é problematizar o legado do patrimônio industrial ferroviário na cidade de Parnaíba no período de 1916 a 1980, uma das primeiras cidades do Estado a ser contemplada por trilhos de ferro e a ter sua paisagem transformada com a passagem do trem. Para isso, analisamos elementos materiais da cidade dotados de diferentes temporalidades, sendo os espaços da ferrovia marcados pelo fervilhar humano (do passageiro ao trabalhador ferroviário) por meio da estação ferroviária, da guarita, das oficinas, etc. Além disso, as memórias escritas e orais dos atores sociais, por meio de crônicas publicadas em jornais e entrevistas orais com ferroviários aposentados da Central do Piauí na busca de compreender os diversos sentidos atribuídos ao espaço ferroviário e a relação com a história da cidade.

Palavras-chave: História. Trabalho. Memória. Patrimônio Industrial. Ferrovia.


Nos primeiros anos do século XX, o Piauí ainda não possuía um quilômetro sequer de trilhos ferroviários assentados. Foi somente em 19 de novembro de 1916, que ocorreu a inauguração do primeiro trecho ferroviário na região norte do Estado, entre Portinho e Cacimbão, com 24 km de extensão. Nesse mesmo dia foi também lançada a pedra fundamental da Estação Ferroviária de Parnaíba.
A ferrovia chegou ao Piauí num momento em que o governo federal começa a se preocupar em integrar e desenvolver as diversas regiões brasileiras através da construção de rodovias em todo o país. Nesse sentido, as ferrovias assume uma posição secundária nos programas de transporte do governo federal, ficando muitos projetos ferroviários esquecidos e/ou abandonados durante anos. No Piauí não seria diferente, antes da implantação dos primeiros trechos ferroviários, inúmeros estudos e projetos foram produzidos e mantidos no esquecimento durante os anos finais do século XIX e início do século XX, mas por iniciativa do governo federal acabou sendo efetivado alguns desses trechos, principalmente aqueles que interligavam Amarração (Atual Luís Correia) às principais cidades da região norte do estado: Parnaíba (1920), Cocal (1923) e Piracuruca (1923).
As cidades contempladas por estradas de ferro tiveram sua paisagem urbana transformada devido a presença de diferentes edificações construídas para auxiliar as diversas atividades profissionais realizadas no espaço ferroviário, bem como ao atendimento dos passageiros: estações, armazéns de carga e mercadorias, oficinas de manutenção, local para manobra de composições, caixas d’água suspensas, casas para funcionários (vilas ferroviárias), depósito de carvão, curral, etc. Essas edificações tornaram-se o maior legado das ferrovias em cidades contempladas por essa modalidade de transporte, pois contribuíram para o surgimento de cidades e povoados em regiões antes desertas e consolidou os núcleos urbanos já existentes.
Nesse sentido, realiza-se uma análise do legado das ferrovias no Piauí, sobretudo na cidade de Parnaíba uma das primeiras do Estado a ser contemplada por trilhos de ferro e a ter sua paisagem transformada com a passagem do trem. O historiador ao narrar a história da cidade precisa investigar, recolher e analisar diversos vestígios de uma determinada época desde o material ao simbólico. Para isso, o investigador precisa de um olhar atento e apurado para perceber nos elementos materiais da cidade diferentes temporalidades. Para Brescianni,  “na cidade, a história se constrói no espaço e no edifício público; nesses espaços, instauram-se possibilidades de ação pela presença coletiva dos atores sociais e pelo registro dessa presença dramatizada em espetáculo” (OLIVEIRA In BRESCIANI, 2002, p. 30), e os espaços da ferrovia traduzem, muito bem, esse fervilhar humano: do passageiro ao trabalhador ferroviário.
No entanto, não é somente os elementos materiais que dar a ver o passado da cidade, mas também as memórias escritas e orais dos atores sociais. Desse modo, na tentativa de compreender as transformações sociais, culturais e econômicas ocorridas em Parnaíba, principalmente no espaço ferroviário recorremos a metodologia da História Oral para aproximarmos das experiências no trabalho e na cidade presentes nas memórias construídas de ferroviários aposentados da Estrada de Ferro Central do Piauí. Quais as representações construídas em torno da ferrovia? Como representavam o espaço ferroviário enquanto lugar de trabalho? E enquanto lugar de sociabilidade?
A metodologia da História Oral representa uma possibilidade de alargar os horizontes do pesquisador em relação as diferentes vivências humanas, mas para isso é indispensável um trabalho histórico, de pesquisa prévia para compreender as expressões de vida e acompanhar o relato do interlocutor. Nesse sentido, as vivências narradas pelos interlocutores permitem ao historiador conhecer diferentes interpretações e experiências do cotidiano do entrevistado, mas não esquecendo que a entrevista de história oral é uma fonte, uma versão dentre outras constituída de subjetividades, distorções, erros, omissões e silêncios possíveis de serem interpretados pelo historiador. Para Verena Alberti,

[...] a história oral é um método de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica etc.) que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar do objeto de estudo. Como consequencia, o método da história oral produz fontes de consulta (as entrevistas) para outros estudos, podendo ser reunidas em um acervo aberto a pesquisadores. [...] A entrevista de história oral – seu registro gravado e transcrito – documenta uma versão do passado. (ALBERTI, 2005, p. 18-19)

As entrevistas de história oral permitem ao historiador realizar comparações das diferentes versões sobre o acontecido, compreender que o passado não constitui um só, mas é plural. Ecléa Bosi ao realizar entrevistas com antigos moradores de São Paulo percebeu que “a memória dos velhos desdobra e alarga de tal maneira os horizontes da cultura que faz crescer junto com ela o pesquisador e a sociedade em que se insere”. (BOSI, 2003, p. 199) Nesse sentido, se faz a análise das memórias de ferroviários aposentados da Central do Piauí na busca de compreender os diversos sentidos atribuídos ao espaço ferroviário e a relação com a história da cidade. Nas entrevistas realizadas com esses atores sociais se pode perceber que ao lembrarem de seu tempo de trabalho na ferrovia apoiavam-se muitas vezes nas “pedras da cidade”, remetiam aos “lugares de memória” ainda hoje existentes no cenário urbano como, por exemplo, a estação. De acordo com Vera Dodebei:

[...] Para a imaginação histórica, há a necessidade de dar sentido ao material do passado, ao material morto ou às ruínas. Tais ruínas estão sempre presentes nas construções da memória, de tal sorte que não representam a degradação ou perda de uma possível identificação cultural; ao contrário, fundam o imaginário histórico. (DODEBEI, 2005, p. 47)

Os trabalhos de construção dos primeiros trilhos de Ferro no Piauí foram iniciados em 1916, através da iniciativa do governo do Estado. Anteriormente, através do Decreto n. 8.711, de 10 de maio de 1911, ficara a construção da linha de Amarração à Campo Maior a cargo da Companhia South American Railway Ltda que construiu 23 km de ferrovia, sendo paralisados os serviços em 1913. Em 1915, com o decreto de caducidade do contrato celebrado com a companhia South American Railway Ltda, a estrada de ferro piauiense passou a ser subordinada pelo governo federal, através da Rede de Viação Cearense e tendo como sede de seu escritório central na cidade de Parnaíba. Em portaria de 28 de maio de 1920, a estrada de ferro Amarração-Campo Maior passou à Superintendência da Inspetoria Federal das Estradas com a denominação de Estrada de Ferro Central do Piauí. Nesse período, foram planejadas e construídas por engenheiros e trabalhadores diversas obras d’arte: estações, pontes e pontilhões, bueiros, assentamento de trilhos etc. que contribuiram para a formação de cidades e povoados na região norte do Estado.
A história da construção da ferrovia no Piauí pode ser narrada por antigos ferroviários que trabalharam de sol a sol para ver concluído um grande sonho, ver o território piauiense cortado por trilhos de ferro. São trabalhadores constituídos de engenheiros e operários que povoaram os mais diferentes espaços da ferrovia acompanhados do desejo de trabalhar para o sustento próprio e de sua família. Esses trabalhadores eram contratados para os diversos serviços: construção de pontes, pontilhões e bueiros, implantação de dormentes e trilhos, manutenção e conservação do material rodante, etc. Na lembrança de Francisco de Sousa Marques, admitido em 9 de setembro de 1950 e aposentado em 30 de setembro de 1979 como supervisor especial de linha da Central do Piauí e filho de ex-ferroviário, João Marques de Melo, que trabalhou na construção do primeiro trecho ligando Portinho à Cacimbão, afirmava que uma das obras mais importantes numa ferrovia é a construção de uma ponte. Francisco Marques (2006) citou o exemplo de seu pai que

[...] foi um dos primeiros funcionários, ele veio pra construir, ele veio pra construir os serviços de obras artes, obras artes que chamamos era bueiros e pontes não sabe? Chamam-se obras artes, ele veio pra fazer estas construções. Primeiro veio construir os pilares da ponte lá do rio Portinho depois foi que os engenheiros veio localizar a parte metálica, já com as placas e o concreto armado.

As “obras artes” mencionadas por Francisco Marques eram representadas pelas pontes metálicas, aterros, bueiros e pontilhões, construídas ao longo da ferrovia para permitir a passagem do trem em lugares cortados por rios, riachos e pequenas serras. Na construção da Estrada de Ferro Central do Piauí foram edificadas diversas obras artes, dentre elas, podemos destacar a ponte metálica sobre o rio Portinho, inaugurada em 1922 e cuja implantação objetivava ligar a localidade de mesmo nome a Cacimbão. Atualmente essa ponte encontra-se abandonada precisando de reparos e manutenção.
No município de Parnaíba, cidade situada a 345 km da capital Teresina e a poucos quilômetros do mar, à margem direita do rio Igaraçú, nos tempos áureos da ferrovia entre os anos de 1920 a 1960 teve diversos povoados circunvizinhos formados e desenvolvidos pela presença da estrada de ferro como Marruás, Bom Princípio e Cocal. Este último desenvolveu-se com maior proporção ao se destacar no intercâmbio comercial com o Ceará através da cidade de Viçosa, absorvendo toda a produção agrícola e pecuária da Ibiapaba. A estação de Cocal foi inaugurada em 13 de fevereiro de 1923, pelo então diretor da Central do Piauí, Miguel Furtado Bacelar. Com o início do tráfego ferroviário, a cidade passou por um desenvolvimento comercial muito significativo, contribuindo para a formação de pequenas aglomerações populacionais que atualmente são cidades ou povoados como Cocal dos Alves e Freicheiras[1].
Em algumas cidades brasileiras os trilhos percorriam diversos lugares, principalmente cortando ruas e avenidas, ocasionando um novo reordenamento e assumindo novos significados dentro do espaço urbano. Em Parnaíba, o visitante ao percorrer os trilhos de ferro podiam observar uma cidade dividida entre o “pra cá” e o “pra lá” dos trilhos, setorizando, parte das vezes as classes sociais e em seu percurso os passageiros podiam visualizar paisagens diversas desde edificações comerciais, fábricas e praças até residências com estilo colonial.
A paisagem urbana sofre diversas modificações com a presença da ferrovia quando o silêncio é interrompido pela passagem rápida e esfolegante da locomotiva e de seus apitos estridentes que avisava a população a hora da partida e chegada e quando o ar é envolvido por rolos de fumaça e faíscas. Para Certeau, dentro do vagão de trem o viajante é “uma célula racionalizada” experienciando na estação a “imobilidade de uma ordem” onde “reinam o repouso e o sonho” para logo ao adentrar no trem se deparar com a imobilidade das coisas de fora “montanhas solenes, extensões verdes, aldeias sossegadas, colunatas de prédios, negras silhuetas urbanas contra a rosa do entardecer, brilhos e luzes noturnas em um mar de antes ou depois de nossas histórias”. (CERTEAU, 1996, p. 194) O historiador para chegar ao conhecimento do passado da cidade acumula através da investigação diferentes fontes que auxiliam em sua interpretação e
a cidade, processo de construção coletiva, acumula em sua paisagem os momentos da história de uma coletividade e os elementos da paisagem urbana, manifestações da vida social e, portanto, prova viva de valores, culturas, memórias e identidades de uma época. (PASSARELLI, 2006, p. 370)

A chegada da ferrovia na cidade representou uma mudança na rotina das pessoas, a velocidade do trem impõe aos passageiros uma nova percepção da paisagem e os horários de chegada e partida do trem passam a controlar o tempo obrigando “os passageiros a ajustarem suas particularidades e o próprio cotidiano”. (POSSAS, 2001, p. 57) A estação ferroviária se coloca como referência arquitetônica e urbana do lugar, “pelo fato de ligarem a via férrea com as respectivas aglomerações” e, muitas vezes chega a originar uma avenida ou praça à sua frente. (POSSAS, 2001, p. 63)

Referências


ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.

BOSI, Ecléa. Memória da cidade: lembranças paulistanas. Estudos avançados, v. 17, n. 47, 2003.

BRESCIANI, Maria Stela. Cidade e história. In: OLIVEIRA, Lúcia Lippi (Org.). Cidade: história e desafios. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, 2002.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.

DODEBEI, Vera. Memória, circunstância e movimento. In: DODEBEI, Vera; GONDAR, Jô. (Org.). O que é memória social. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2005.

MARQUES, Francisco de Sousa. Depoimento concedido a Lêda Rodrigues Vieira. Cocal, 22 dez. 2006.

PASSARELLI, Silvia Helena Facciolla. Paisagem ferroviária: memória e identidade na metrópole paulista. Exacta, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 363-373, jul./dez. 2006.

POSSAS, Lidia Maria Vianna. Mulheres, trens e trilhos: modernidade no sertão paulista. Bauru, SP: EDUSC, 2001.


[1] Frecheiras é um povoado situado a 13 km de Cocal, no qual a estação ferroviária foi inaigurada em 19 de janeiro de 1923.

Comentários

  1. Interessante o texto, bem como as relações entre os sujeitos e os elementos da modernidade como, uma ferrovia, por exemplo, modifica e ressignifica a urbanidade
    Diego Silva Lima-UFPI
    032.728.663-61

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    1. Caro Diego Lima, fico imensamente feliz que tenha gostado da leitura. Espero que possas instigá-lo a ampliar as pesquisas sobre as ferrovias no Piauí.

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  2. Parabéns pelo texto e pela pesquisa. Uma leitura agradável que instiga a imaginação. Lendo, tentei imaginar essas paisagens que você descreve e interpreta. Nesse sentido, pensando a paisagem como uma interpretação de um espaço e de um momento histórico, fiquei curiosa: já pensou em trabalhar as fontes orais juntamente com as fotográficas (se existirem essas fontes, mas acredito que existam, certo)? Outra questão que me parece interessante diz respeito aos sujeitos que foram trabalhar na ferrovia. De onde saíram, quais ficaram, os que foram embora... onde se estabeleceram? Como se percebem inseridos nessa paisagem cultural? Enfim... sua pesquisa nos instiga a pensar um pouco mais além. Desejo sucesso em futuros trabalhos! Abraço.
    Camila de Brito Quadros Lara - PPGH/UFGD.

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    1. Prezada Camila de Brito, agradeço suas observações e questionamentos. Diante desses questionamentos, informo-lhe que venho desenvolvendo pesquisas sobre o patrimônio industrial da Central do Piauí e, para isso, busco realizar uma análise de diferentes fontes históricas, sendo as fotografias e as memórias orais as principais. Em meu acervo pessoal possuo muitas imagens do período de implantação dos trilhos ferroviários, da rotina de trabalho dos trabalhadores ferroviários em diferentes espaços da ferrovia (estação, guarita, trilhos, oficinas, almoxarifado, gráfica, etc.) e tenho realizado entrevistas com ex-funcionários da RFFSA em projetos PIBIC e PIBEU desenvolvidos por orientandos sob minha orientação na UESPI de Parnaíba. A ideia é futuramente disponibilizar esse acervo no site do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Cidade, Memória e Patrimônio em que sou coordenadora.

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    2. Que ótimo! Questões respondidas e as indagações esclarecidas. No mais, desejo grande sucesso em sua pesquisa. Quem ganha são os estudos patrimoniais do Brasil. Abraço!
      Camila de Brito Quadros Lara-PPGH/UFGD.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Allef Santos1 de agosto de 2019 12:58
    Excelente texto. Fiquei fascinado com o diálogo sobre memória e transformação do espaço urbano. A cidade para mim é objeto de estudo porque neste núcleo menor do estado nação se passará o cotidiano, as relações institucionais mais próximas, os lugares de memória em disputa, as transformações gradativas que o estado nação verá em longo espaço de tempo, mas que dentro da cidade parece como relâmpago. Tudo isto dentro da cidade me fascina. Parabéns pelo artigo.
    Quero saber até que ponto a memória coletiva de um espaço pode sofrer transformações quando se introduz um elemento novo no espaço, neste caso as linhas férreas?
    Allef Gustavo Silva dos Santos
    Universidade estadual do Maranhão
    61348763302

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    1. Caro Allef Santos, grata por suas considerações. Quanto ao seu questionamento, conforme Michel Pollak, "a memória também sofre flutuações que são função do momento em que ela é articulada, em que ela está sendo expressa", com isso, quando um espaço social sofre alterações, consequentemente afeta a construção de memórias daquele espaço. Em Cidades invisíveis, de Ítalo Calvino é uma obra que nos ajuda a compreender o quanto as alterações do tempo e dos homens podem mudar o nosso olhar sobre determinado espaço.

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  5. Boa tarde, prezada professora Lêda Rodrigues, parabéns pelo belíssimo trabalho, muito bem escrito dialogando perfeitamente com as fontes e referências teóricas, acredito que seu trabalho está bem encaminhado! é interessante perceber como a construção das linhas férreas no Piauí foi modificando as paisagens urbanas, trazendo não só a integração de várias cidades, como também contribuído para desenvolvimento das mesmas, é interessante ressaltar a importância da metodologia da história oral para trazer para o âmbito da história a memória desses trabalhadores da linha férrea! ótimo trabalho! Abraços!

    Atenciosamente, Pauliana Maria de Jesus( UESPI-UFPI)

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    1. Cara Pauliana Maria, agradeço por suas palavras. Essa pesquisa desenvolvo desde 2007 e, a cada ano venho encontrando novas perspectivas de análise para a temática das ferrovias no Piauí. É um tema que possibilita percorrer histórias de vida de sujeitos que trabalharam de sol a sol, sofrendo as intempéries do tempo, mas que sabiam utilizar o tempo livre para as sociabilidades com a família e amigos.

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  6. Em primeiro lugar, parabéns pelo trabalho!
    É interessante notar a transformação da paisagem natural e material das cidades por onde a via férrea passa. Sua temática é bastante interessante a mim uma vez que a minha tese de doutorado tem como um dos objetivos abordar o local de trabalho dos funcionários da Comissão Mista Ferroviária Brasileiro-Boliviana (C.M.F.B.B.) responsável por construir a estrada de ferro do Brasil, em Corumbá até a Bolívia, na cidade de Santa Cruz de la Sierra. Embora o foco da sua pesquisa esteja ligado a perspectiva patrimonial, elemento que descartei para a minha tese porque faltaria tempo para escrever, ele contribui para pensar a cidade antes, durante e após a construção da via férrea.
    Na cidade de Corumbá-MS, houve a construção da linha férrea da Noroeste do Brasil (NOB), inaugurada, parcialmente, em 1914, dois anos antes da ferrovia piauense. Logo, em 1920 discute-se a conclusão da referida estrada que chegava ao distrito de Porto Esperança e não na cidade de Corumbá (projeto incial) Assim, com a política de Vargas da Marcha para o oeste, em 1952 a estrada fica totalmente pronta e, o que, por sua vez, viabiliza a construção da estrada de ferro internacional feita pela Comista. Sem o prolongamento da NOB a Brasil-Bolívia seria inviável.

    Daiane Lima dos Santos

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    1. Prezada Daiane dos Santos, sua pesquisa será de grande contribuição as produções historiográficas sobre as ferrovias no Brasil e, parabenizo por seu empenho em nos trazer essa História da ferrovia NOB Brasil-Bolívia. Se desejares dialogar comigo sobre esse tema de pesquisa podes entrar em contato que será um prazer. Lêda Rodrigues Vieira

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    2. Olá, boa tarde!

      Que ótimo Lêda, entrarei em contato em breve.


      Muito agradecida.

      Daiane Lima dos Santos

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  7. Estimada Lêda,

    A perspectiva de compreensão do espaço e do processo de urbanização das cidades devido à estrada de ferro permite compreender um universo muito mais amplo. Nesse sentido, interessa a mim saber, se puder falar mais um pouco, de como trabalhou a metodologia em História Oral? Qual o critério de escolha dos colaboradores?
    Além disso, com relação ao trecho da entrevista com o colaborador Francisco é possível notar a percepção da construção de pontes como verdadeiras obras de arte, mas ao mesmo tempo, devido às dificuldades naturais e de acesso, poderiam acarretar acidentes e mortes. Nesse sentido, você conseguiu localizar dados ou fontes a respeito disso?

    Daiane Lima dos Santos

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    1. Cara Daniane, com relação ao seu primeiro questionamento acerca do critério de escolha dos entrevistados, no primeiro momento preferi realizar entrevista de História de vida e temática com ex-funcionários da Central do Piauí que atuaram na ferrovia em diferentes funções. Esses entrevistados foram encontrados em bairros próximos as estruturas da ferrovia - estações, vilas ferroviárias, etc. A maioria dos entrevistados concederam as entrevistas com muito entusiasmo, pois sabiam eles que suas memórias estariam sendo conhecidas por diferentes pessoas. Já acerca do segundo questionamento sobre as fontes das obras d'arte da ferrovia, informo-lhe que encontrei mapas, gráficos, informações das estruturas nos relatórios anuais da RFFSA (podendo ser acessados no site da RFFSA) e, quando em pesquisa no acervo da RFFSA em São Luís-MA consegui acesso a pastas funcionais dos funcionários da RFFSA e Central do Piauí e, nessas pastas, pude encontrar informações adicionais sobre casos de acidentes no trabalho, principalmente em locais com grande dificuldade de acesso a serviço de saúde.

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    2. Olá, Lêda, boa tarde!



      É possível observar que você teve facilidade no acesso às fontes e isso é imprescindível no trabalho de quem escreve textos. O acesso às fontes impressas é um desafio muito gratificante quando se encontra determinadas fontes que contribuirão diretamente com a pesquisa.

      Eu, por minha vez, obtive acesso às fontes digitais e impressas (essas com um pouco mais de dificuldade). E, desse modo, a pesquisa está sendo encaminhada.

      Daiane Lima dos Santos



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  8. Lêda,

    Ainda com relação ao processo de transformação e reordenamento dos espaços em decorrência da estrada de ferro, você conseguiu localizar algum elemento, por meio das fontes escritas, que tenha contribuído para alguma mudança ou conflito no que diz respeito aos lugares de memória ou de trabalho? E, se puder, por gentileza, falar um pouco mais das fontes escritas e a metodologia adotada no trabalho, ficaria grata.

    Daiane Lima dos Santos

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    1. Cara Daiane, ao realizar iniciar a pesquisa sobre esse temática a maior dificuldade foi encontrar fontes escritas que narrassem de forma direta sobre as ferrovias no Piauí. Diante disso, busquei analisar fontes escritas oficiais - mensagens de governo, relatórios da assembleia legislativa do Estado do Piauí, jornais (a imprensa me ajudou a analisar os discursos do poder acerca dos transportes no Piauí, sobretudo quando os governos buscavam por meio da imprensa justificar a decadência da ferrovia em detrimento das rodovias). Além dessas fontes, acessei a literatura produzida (livros de crônicas, memorialistas, poesias, etc) que me oportunizou acessar as sensibilidades em torno da ferrovia e informações dos trabalhadores ferroviários em seu cotidiano de labuta e no tempo livre. Lêda Rodrigues Vieira

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    2. Estimada Lêda,

      Observo um ponto em sua fala que é de suma relevância: trabalhar as crônicas e a produção memorialística regional. Essas fontes auxiliam bastante na compreensão de processos históricos, mas sempre aliada a análise de outros documentos.
      Nesse sentido, cabe destacar que também trabalho uma fonte memorialística de um escritor e poeta local e, a partir dele, fui encontrando sinais e evidências para a busca de outras fontes. De fato, a contribuição desse tipo de fonte é importante para uma pesquisa.

      Daiane Lima dos Santos

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  9. Parabéns pelo trabalho!
    Gostaria de saber se membros de todas as classes sociais tiveram acesso a esse meio de transporte desde o inicio de sua inauguração?

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