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HISTÓRIA, AMÉRICA LATINA E BRASIL: REFLEXÕES EM TORNO DE HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA EM AMÉRICA LATINA: MALES DE ORIGEM, DE MANOEL BOMFIM


Rômulo Rossy Leal Carvalho
Graduando em Licenciatura Plena em História na Universidade Federal do Piauí – Campus Senador Helvídio Nunes de Barros. Bolsista CAPES do Programa Institucional de Residência Pedagógica.

Resumo: O presente artigo discute alguns dos diálogos em torno da constituição discursiva da América Latina e do Brasil, pensando a miscigenação nesse contexto, a partir do médico Manoel Bomfim, refletindo sobre sua importância na historiografia, no início e decurso do século XX. Objetiva-se, por meio dessa análise, investigar em que medida essas visões congregaram uma ideia do Brasil, no contexto da América Latina, na demarcação de alguns aspectos elementares da obra, como a ideia de parasitismo no território latino-americano e brasileiro. Nossa proposta consiste, ainda, em realizar uma leitura do autor supramencionado enquanto clássico, elencando algumas das premissas que fazem jus à colocação histórica em que se encontra e de que forma sua leitura subsiste como relevante para os historiadores/pesquisadores.

Palavras-Chave: História. Manoel Bomfim. Historiografia Brasileira. Clássicos.

Considerações iniciais: um clássico e a historiografia brasileira
            O que faz de uma obra um clássico? É essa uma das indagações correntes de muitos pesquisadores quando, por exemplo, deparam-se com uma extensa bibliografia a ser consultada, partindo, inclusive, do pressuposto de que a leitura é fundamental e quanto mais ampla melhor, para, no caso do historiador, investigar o máximo que lhe é exequível no tocante à(s) sua(s) fonte(s). Sob essa condição, alguns aspectos são prévios para definir se uma obra é clássica ou não: sua durabilidade, repercussão, eixo temático, diálogos com a realidade que apresenta e, a nosso ver, como um dos basilares, a originalidade, figuram entre os mais recorrentes no cerne da legitimação de um clássico na historiografia.
            Partindo de uma obra denominada clássica, podemos mapear quais circunstâncias permitiram com que assim ela fosse canonizada em determinada história, neste caso, da América Portuguesa, futuro Brasil. Não seria inoportuno atribuir êxito a um trabalho a partir da trajetória de construção, elaboração pelo qual passa e as ideias que transmite a obra, a partir, também, da aceitação desta e de ideias que atendem a demandas locais em seus contextos de produção. Seja um discurso ou um contradiscurso, determinante para o momento histórico de que se fala, observar a trajetória do pesquisador e da pesquisa se faz fundamental para entender não só o contexto do trabalho, mas principalmente o sentido que buscou denotar determinado autor e autora, como frutos de um tempo e de um objetivo a ser cumprido.
            Dito isto, pensar uma obra que tenha passado por várias edições, no contexto da historiografia brasileira, pressupõe a análise do clássico como uma referência, ou seja, um trabalho mediado de informações consistentes à época e aos grupos sociais que localizavam-se em um patamar destacável, além da percepção veiculada sobre outros grupos que não se encontravam nessa esteira. Ademais, ler um clássico em si mesmo, isto é, além da leitura de outrem, faz-se uma tarefa indispensável para sua compreensão.
            Ítalo Calvino nos instiga a pensar nossa trajetória de leitura, ou seja, por mais que ao longo de uma formação tenhamos uma lista ampla de leituras e informações, sempre haverão outras que ainda não foram apreciadas, sobretudo criticamente. Os clássicos são, em sua interpretação, “(...) aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes)” (CALVINO, 1993, p.11).
Obras chegam a nós, nós vamos a elas, e nesse sentido as interpretamos; também estão carregadas de marcas da época em que foram produzidas, além da filiação institucional a que o(a) autor(a) estava ligado, ou até mesmo fatores contidos no livro clássico que surpreenda — de modo individual — a cada leitor que o folhear. O clássico, dessa maneira, também poderá ser responsável por
(...) oferecer-nos alguma surpresa em relação à imagem que dele tínhamos. Por isso, nunca será demais recomendar a leitura direta dos textos originais, evitando o mais possível bibliografia crítica, comentários, interpretações. (...) O clássico não necessariamente nos ensina algo não sabíamos; às vezes descobrimos nele algo que sempre soubéramos (ou acreditávamos saber), mas desconhecíamos que ele o dissera primeiro (ou que de algum modo se liga a ele de maneira particular) (CALVINO, 1993, p.12).

          
Os clássicos têm muito a nos oferecer. Não são trabalhos comuns. Geralmente, são frutos de anos de pesquisa, de produções com forte embasamento teórico e, muitos deles, empírico. Neste artigo, traremos algumas das questões mais pontuais acerca de discursos em torno da constituição discursiva da América Latina e do Brasil, a partir do estudioso, médico e pesquisador Manoel Bomfim, no início do século XX, percebendo quais caminhos o autor aponta como responsáveis pelo “parasitismo” da América, que se estendeu ao Brasil, além dos possíveis mecanismos de “cura” ao que tece enquanto um mal de origem, além de percebermos, brevemente, a localização desse discurso e o que ele nos tem a oferecer na contemporaneidade.

A historiografia brasileira em Manoel Bomfim: uma análise em torno de América Latina: males de origem

É nobre e humano, desde que, pugnando pelos interesses e necessidades de um povo, não busque resolvê-los em oposição aos interesses gerais da espécie, desde que, nos choques provocados pelo egoísmo em fúria, cada patriota se limite a defender seu ideal, a repelir as agressões injustas, e a rebater as explorações e privilégios; a lutar pelo progresso moral da nacionalidade, e a anular as influências contrárias a esse progresso. (...) Este livro deriva diretamente do amor de um brasileiro pelo Brasil, da solicitude de um americano pela América (BOMFIM, 2008, p.02, grifo nosso).

A apresentação feita por Manoel Bomfim[1] à sua obra América Latina: males de origem[2], publicada, no Brasil, em 1905, nos diz muito sobre a época — final do século XIX e início do XX — em que fora publicada. Nas suas considerações, derivadas de um “amor pela pátria”, em um momento que o nacionalismo aflorava-se, outras questões insurgiam nos debates intelectuais, entre elas a miscigenação como o problema do atraso cultural do país. Além desta, outro ponto dividia opiniões: seria possível que a América Latina se civilizasse tendo em vista sua formação a partir de homens e mulheres moral e fisicamente “degenerados”?
Nesse sentido, ruma-se um que, segundo Paula Rejane Fernandes, é um dos aspectos marcantes da obra: a defesa da América Latina e do Brasil, situando a educação como um passo decisório na superação do conservantismo e na própria alteração cultural positiva para o território latino-americano, aquém a outros discursos que faziam prevalecer ideias de ordem imperialista que “afirmava ser inconcebível que ‘milhões de preguiçosos, mestiços degenerados, bulhentos e bárbaros se digam senhores de imensos e ricos territórios’ enquanto que a Europa ‘rica, sábia e ‘civilizada’ se comprimia em pequenos territórios” (BOMFIM, 1905, p.04 apud SILVA, 1998, p.84).
            Desse modo, neste trabalho de Bomfim pode-se diagnosticar a inquietação do autor em relação ao discurso dominante da época, segundo o qual o problema de atraso cultural do país estava diretamente relacionado à miscigenação. Pela análise de Bomfim, sustenta Flora Sussekind (2002, p.620-621), o movimento por ele promovido reúne a superação de dicotomias e de férreas oposições, cujos resultados desembocavam nas reflexões latino-americanas.
            Como em outras análises históricas e produções voltadas para este fim, alguns discursos são marcadamente intencionados e escritos para setores ou autores específicos. O incômodo de Bomfim serviu como contraponto ao discurso de que as pessoas, por sua bagagem biológica, genética, não poderiam desenvolver-se, civilizar-se moralmente. O excerto abaixo nos auxilia nesta compreensão:
A teoria da desigualdade inata das raças, defendidas por Gobineau e Gustave Le Bon influenciou, sobremaneira os intelectuais brasileiros e, consequentemente o pensamento social e político do Brasil. Pensadores como Oliveira Martins, Oliveira Viana e Silvio Romero viam na questão racial o grande problema da inferioridade brasileira (CAMARA; COCKELL, 2011, p.298).
           
            O discurso inflado de Manoel Bomfim em América Latina: males de origem, conflitava com a posição assumida acima, principalmente pela crítica elevada ao que se podia chamar de “tirania europeia”, sobretudo pelo que se referia a Portugal e Espanha, a quem ele se refere como “parasitas” — metáfora que emprega ao longo do livro — para explicar que a América Latina, por ter sido colonizada, majoritariamente, por estes dois países, teria herdado esses traços que, por sua vez, só poderiam ser solucionados por meio da educação, preliminar à mudança de hábitos, para a construção de uma nova nação, de fato, livre, autônoma.
Nas colocações do próprio autor, são três as causas por meio das quais a dominação externa (europeia) se impôs na América: “o enfraquecimento do parasitado; as violências que se exerceram sobre eles; e a sua adaptação às condições de vida que lhe eram impostas pelos predadores” (BOMFIM, 2008, p.254). Essa impressão acerca da Europa, anulava, em muitos momentos, uma possível percepção dos nativos ameríndios enquanto sujeitos capazes de reagir, resistir à “dominação”, haja vista, outrossim, as relações multidirecionais levadas a prumo pela colonização. Em suma, a crítica de Bomfim incidia preponderantemente no aspecto negativo da colonização portuguesa/espanhola para com a América Latina.
De acordo com José Maria de Oliveira Silva (SILVA, 1998, p.84), para Bomfim, as duas causas centrais por meio das quais o povo latino-americano era malquisto tinham sua gênese numa causa intelectual — desconhecimento da realidade histórica da América e seu passado colonial —, e uma causa interesseira — ambição pelas terras latino-americanas por parte de países da Europa. Segundo Silva (1998), ainda haviam outras críticas que permeavam o trabalho de Bomfim, sobretudo atinentes à busca de uma unidade para os povos da América Latina no intuito de fazer frente aos investimentos contrários aos seus interesses, o que acentua a procura por uma defesa, não apenas no seu bojo territorial, mas na sua afirmação política, na consolidação do seu próprio espaço por meio da educação. Essa busca, porém, era interceptada pelas próprias diferenças e distanciamentos concentrados entre os próprios países vizinhos, no que se decalca uma falta de solidariedade entre estes.
É importante salientar que Bomfim, ao passo que criticava e resistia ao imperialismo, defendendo o ideal de solidariedade latino-americana, não desconsiderava os problemas que “afligiam” a América Latina como um todo: “revoluções frequentes”, “irregularidade do câmbio”, “instabilidade dos governos”, alegando que o atraso cultural do continente não derivava dos supracitados, mas sim dos “males” infligidos a partir do colonialismo metropolitano, que encontrou, posteriormente, respaldo na ação conservadora das classes que passaram a dirigir os países. Estes males, por sua vez, assumiram as motivações por meio das quais se passou a estereotipar o continente latino-americano como o território dos “desvalidos”, “desafortunados”, da “miséria” e da “fome” (SILVA, 1998, p.91).
Lendo Manoel Bomfim, podemos diagnosticar uma reflexão que dialoga, mesmo após tantos anos, com diversas situações político-administrativas que ainda residem na América Latina e no Brasil. Seus estudos, nessa obra especificamente, lançam base para apontar, pensar e, sobretudo, investigar em que medida o conservantismo, a escassez de investimentos em educação e a manutenção de estruturas arcaicas de poder ainda são coniventes entre si com o intuito de reproduzir os mesmos sistemas e as mesmas estratégias políticas de dominação política, econômica e cultural.

Considerações finais: as conformações acerca da constituição de uma historiografia brasileira

A instrução escolar ajudaria a constituir um povo livre de males como o mandonismo, o conservadorismo político, o cultivo da aparência e o desprezo pelo trabalho. E dentro de alguns anos, a América Latina seria reconhecida, de acordo com Bomfim, não mais por seus males e infortúnios, mas, pelo seu sucesso e por suas riquezas. Como vemos, Manoel Bomfim é um convite a pensar a América Latina a partir de outros referenciais teóricos, e mais do que isso, é um convite à esperança (FERNANDES, 2012, p.117).
Mesmo não se tratando de uma análise linearizada, tal como propunham os positivistas, tendo o “progresso como meta”, a reflexão de Paula Rejane Fernandes (2012) nos aponta um ideal marcadamente histórico de um médico que atuou como pesquisador, crítico de sua época. Estivemos diante — no sentido mais próximo do termo — de um autor consentâneo à compreensão do Brasil. Não foi o único, mas, pela contribuição ao pensar acerca de quais discursos se sobrepujaram na historiografia brasileira, foi um sujeitos que se preocupou com sua realidade e, para sermos mais pontuais, estranhou-se com ela. Partindo do seu presente, buscou no passado determinadas explicações que tendemos a ver que não foram vãs, pois nos ajudaram e são significativas à história do Brasil, quiçá, da América Latina. Mesmo sendo médico, assemelhou-se ao ser historiador por inquietar-se, estranhar-se com sua realidade.
            O trabalho de Bomfim aparece como um contradiscurso, nasce de suas perguntas ora nacionalistas e é também sugestivo: propõe soluções e dialoga com a realidade da época, de forma promissora. Por conseguinte, esteja apontado como um clássico, embora nem sempre lido como tal. Disso reiteramos uma lição: as leituras também são modeladas, forjadas e tendem a atender projetos políticos distintos.
Entre outros elementos, procuramos dar enfoque à originalidade enquanto constituinte de um fator essencial no sucesso de uma obra, em específico, América Latina: males de origem. Isso, no entanto, não implica em dizer que o autor tratará de criar densamente uma explicação sem antes ter se amparado em uma gama de leituras, que, a seu momento histórico, poder-se-iam também ser chamadas de clássicas.
            Existem outros muitos pesquisadores que tentaram descrever, no máximo e mínimo de suas possibilidades, integrar uma visão à história do Brasil, fosse na macro ou micro concepção do real, da sua própria história e do vínculo desta com a história do país. Somos sujeitos inúmeros, atravessados por características peculiares e, ao mesmo tempo, decifradoras do que nos tornamos, à busca incessante de nos explicar.
            Entre outros aspectos, os clássicos nos servem para pensar quem somos. Nos ajudam a entender questões que ora sombrias se apresentam, outras que são susceptíveis de clarificação, até aquelas que nos mostram que somos parte dessa história, fruto dela e agentes sociais que precisam, politicamente, participar dessas decisões, agir em prol de mudanças, transformações concretas, posicionamentos não reducionistas e ações no invólucro e no cume das mais diversas configurações sociais.
O clássico é, destarte, um instrumento de ação política, não apenas na sua acepção de poder, mas na política da originalidade, da problemática trazida; na política de construção de outro viés, talvez bem mais distante daqueles pretensamente elaborados por determinados grupos a fim de “oficializar” uma única história para determinado sujeito, lugar, época.
            A história é um conhecimento humano. Não é possível, cremos, tratar dela sem prezarmos pela experiência do sujeito, isto é, em como indivíduos de um grupo social, de uma classe, estabelecem respostas, soluções a seus problemas, evidenciando que são participantes da história mesmo quando, no papel, não recebem o devido crédito. E, a partir disso, adentra uma nova possibilidade de pesquisa: estudar esses novos sujeitos, ou melhor dizendo, sujeitos que não foram ouvidos. Analisar, pois, suas experiências à época em que foram veiculadas, suas manifestações socioculturais, suas concepções de mundo. O que o clássico que analisamos evidencia, não discrepa dessa posição.
No caso específico de Bomfim —, na procura pela vinculação concreta à sua história para transformá-la, para fazê-la diferente, para assumi-la e, sobretudo, com as questões de seu tempo, que não se findam, ou seja, muitas das problemáticas levantadas há tantos anos e que ainda não foram atendidas ou resolvidas como pressupunham que fosse com um novo tempo, com uma nova sociedade. Até porque não existe o novo ou velho na história, mas as mudanças e as permanências. E o que o nosso século (XXI) demonstra é que as permanências parecem sempre bradar com contundência.
O nosso tempo hoje, mais de um século depois, ainda se encontra permeado por “parasitas”, “parasitários” e “parasitados” – e não se trata apenas, como apontou Bomfim, de uma disputa binária, história de vencedores ou vencidos, mas sim de problemas que subsistem de um lado e outro, em especial, na educação, e ainda, o que é bem notório e singular numa obra clássica, como é a de Manoel Bomfim: passe o tempo que passar, o clássico alcança uma longitude, no tempo, no espaço, na história, mostrando que a velhos documentos podem sim ser feitas outras e/ou “novas” perguntas.

Referências

AGUIAR, Ronaldo Conde. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000.

BOMFIM, Manoel. A América Latina: males de origem. Rio de Janeiro: Biblioteca Virtual de Ciências Humanas, 2008. Disponível em: <https://static.scielo.org/scielobooks/zg8vf/pdf/bomfim-9788599662786.pdf> Acesso em: 30/03/2018.

CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos? In:_________. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p.09-16.

CAMARA, Sônia; COCKELL, Marcela. O intelectual educador Manoel Bomfim e a interpretação do Brasil e da América Latina. Revista HISTEDBR On-line, n.44, Campinas-SP, dez. 2011, p. 293-307

FERNANDES, Paula Rejane. América Latina aos olhos de Manoel Bomfim: análise da obra “A América Latina: males de origem”. Dimensões, vol. 29, 2012, p. 100-118, ISSN: 2179-8869. Disponível em: <
www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/viewFile/5401/3989> Acesso em: 09/04/2018.

SILVA, José Maria de Oliveira. Manoel Bomfim e a ideologia do imperialismo na América Latina. Revista de História, n.13, São Paulo, 1998, p.83-92.

SUSSEKIND, Flora. Introdução. In SANTIAGO, Silvianol. (Org.). Intérpretes do Brasil. Volume I. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, p.620-621, 2002.
                                                                                                                             
VALENTE, Luiz Fernando. “Nós outros, neo-ibéricos”: o entre-lugar da identidade nacional no pensamento de Manoel Bomfim. Gragoatá, n.22, Niterói, 2007, p.85-98. Disponível em: <gragoata.uff.br/index.php/gragoata/article/download/280/282> Acesso em: 02/06/2018.



[1] “Manoel José Bomfim nasceu em 1868 na cidade de Aracaju, província de Sergipe. Era filho do casal José Paulino do Bomfim e Maria Joaquina. Aquele era um ex-vaqueiro tangedor de gado do sertão para o litoral e que se tornou comerciante após o casamento, e ela era uma viúva descendente de portugueses. Bomfim morreu em 1932 no Rio de Janeiro.” Ver: AGUIAR, Ronaldo Conde. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000. O livro narra, de forma detalhada, traços biográficos de Manoel Bomfim, por tempos esquecido, sendo a primeira biografia sociológica sobreo autor.
[2] “Em 1905, Manoel José Bomfim publicou seu livro “A América Latina: males de origem” pela editora Francisco Alves. Começou a redigi-lo no ano de 1903, quando estagiava no laboratório do psicólogo e pedagogo Alfred Binet, em Paris; concluindo um ano depois, em 1904, na cidade do Rio de Janeiro. A obra reunia questões que o autor vinha pesquisando e investigando de longa data, e inclusive, algumas delas já haviam sido expostas ao público quando escreveu, em 1899, o parecer a respeito da monografia “Compêndio de história da América”, escrita por José Francisco da Rocha Pombo para o concurso criado pelo Conselho Superior de Instrução Pública do Distrito Federal, que elegeria o melhor compêndio sobre história da América a ser utilizado pela Escola Normal.” FERNANDES, Paula Rejane. América Latina aos olhos de Manoel Bomfim: análise da obra “A América Latina: males de origem”. Dimensões, vol. 29, p. 100-118, 2012. ISSN: 2179-8869. p.101.

Comentários

  1. Rômulo, gosto muito dessa discussão. Os "males de origem" aos quais o Bonfim se refere são recorrentes em diversos dos chamados "intérpretes do Brasil". Eu pesquiso História Intelectual e vejo isso no meu próprio personagem de pesquisa, que é um intérprete "discreto". Como você percebe o Manuel Bonfim dentro dos explicadores do Brasil e as possibilidades de pesquisa tornando-o como personagem?

    Parabéns pelo trabalho!

    Comentado por : Francisco Adriano Leal Macêdo

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    1. Olá, Adriano.

      Grato pelas considerações. Percebo Bomfim como um sujeito importante no quadro de explicação do Brasil, tendo em vista uma de suas teses em Males de Origem: a educação como alternativa para a superação do conservantismo social.

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  2. Olá meu caro Rômulo Carvalho. Em primeiro lugar agradeço, em nome de nosso evento, a sua participação no I Simpósio Nacional de História e Historiografia, assim como agradeço a participação no ST com o envio de seu trabalho. Farei alguns apontamentos.

    I: Gostei de sua proposta e de sua escrita;

    II: É muito interessante pensarmos as origens de textos que ao passar do tempo vão sendo considerados como clássicos.

    III: Entrei em contato com o Manoel Bonfim ainda em minha graduação, e tenho ótimas recordações desse texto. Na verdade os apontamentos que Bonfim faz no início do século podem ser considerados vanguardas para uma época.

    IV: Uma provocação, Os males de origem, de Manoel Bonfim é uma clássico da historiografia brasileira?

    V: Pesquisas sobre personagens que concedem notas que podem auxiliar na explicação do que seria o Brasil, ou de uma identidade nacional, tem ganhado muito fôlego nas últimas décadas na chamada História Intelectual, você tem se enveredado por essas rotas?

    Novamente meus parabéns pelo esforço de escrita.

    Jônatas Lincoln Rocha Franco (PPGHB-UFPI)

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    1. Olá, Lincoln!

      Grato pelas considerações. Primeiro, fiz uma discussão sobre as características de um clássico devido o trabalho pertencer à disciplina Historiografia Brasileira. Depois, me debrucei sobre Males de Origem, vendo-o como um clássico em ocasião da tese do parasitismo social e da educação como parâmetro para a superação do conservantismo social e de práticas arraigadas à sobreposição de uma elite colonialista no Brasil. Alguns desses pontos não foram superados por nós, historiadores nem a sociedade no seu todo.

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  3. A preocupação de Bonfim é retratar e problematizar algo tão pertinente quando se trata "dos males de origem". Inicialmente o autor traz referencias importantes quanto as questões sociais, econômicas e sobretudo quando discute acerca da América Latina e parasitismo social, e como a opinião pública europeia pensa este continente. Parabéns pela contribuição do seu texto sobretudo para a historiografia.
    Vânia Maria Carvalho de Sousa

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    1. Olá, Vânia!

      Obrigado pelas considerações. Lembrei-me de quando Bomfim escreve que, para a Europa, era "intragável comprimir-se em um território pequeno face à imensidão de uma América incivilizada, selvagem". Esses argumentos, munidos de preconceito, são questionados por Bomfim, que, consequentemente, sugere a educação e a superação do conservantismo a fim de que a América torne-se, de fato, livre; por isso, a justificativa de redigir esse pequeno artigo.

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  4. Outro ponto que gostaria de destacar nesse trabalho, apontando-o como clássico, deve-se ao lugar do qual escreve Manoel Bomfim. Ele não pertencia à sociologia, à história, mas à medicina; ainda assim, buscou e realizou uma interpretação do Brasil, que não é perfeita, como muitos supuseram. O coringa do baralho é que, no início do século XX, enquanto muitos, entre os quais Silvio Romero, se incumbia de apontar a miscigenação como razão para o atraso do país, Bomfim contrapunha esse discurso, e, defendendo a educação como "saída", rumava a outros moldes que, como vemos hodiernamente, ainda não são levados a sério como deveria.

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