HISTÓRIA, AMÉRICA LATINA E BRASIL: REFLEXÕES EM TORNO DE HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA EM AMÉRICA LATINA: MALES DE ORIGEM, DE MANOEL BOMFIM
Rômulo Rossy Leal Carvalho
Graduando
em Licenciatura Plena em História na Universidade Federal do Piauí – Campus
Senador Helvídio Nunes de Barros. Bolsista CAPES do Programa Institucional de
Residência Pedagógica.
Resumo: O presente
artigo discute alguns dos diálogos em torno da constituição discursiva da
América Latina e do Brasil, pensando a miscigenação nesse contexto, a partir do
médico Manoel Bomfim, refletindo sobre sua importância na historiografia, no
início e decurso do século XX. Objetiva-se, por meio dessa análise, investigar
em que medida essas visões congregaram uma ideia do Brasil, no contexto da
América Latina, na demarcação de alguns aspectos elementares da obra, como a
ideia de parasitismo no território
latino-americano e brasileiro. Nossa proposta consiste, ainda, em realizar uma leitura do autor supramencionado
enquanto clássico, elencando algumas
das premissas que fazem jus à colocação histórica em que se encontra e de que forma
sua leitura subsiste como relevante para os historiadores/pesquisadores.
Palavras-Chave: História.
Manoel Bomfim. Historiografia Brasileira. Clássicos.
Considerações iniciais: um clássico e a
historiografia brasileira
O que faz de uma obra um clássico?
É essa uma das indagações correntes de muitos pesquisadores quando, por
exemplo, deparam-se com uma extensa bibliografia a ser consultada, partindo,
inclusive, do pressuposto de que a leitura é fundamental e quanto mais ampla
melhor, para, no caso do historiador, investigar o máximo que lhe é exequível
no tocante à(s) sua(s) fonte(s). Sob essa condição, alguns aspectos são prévios
para definir se uma obra é clássica ou não: sua durabilidade, repercussão, eixo
temático, diálogos com a realidade que apresenta e, a nosso ver, como um dos
basilares, a originalidade, figuram entre os mais recorrentes no cerne da
legitimação de um clássico na
historiografia.
Partindo de uma obra denominada
clássica, podemos mapear quais circunstâncias permitiram com que assim ela
fosse canonizada em determinada história, neste caso, da América Portuguesa,
futuro Brasil. Não seria inoportuno atribuir êxito a um trabalho a partir da
trajetória de construção, elaboração pelo qual passa e as ideias que transmite
a obra, a partir, também, da aceitação desta e de ideias que atendem a demandas
locais em seus contextos de produção. Seja um discurso ou um contradiscurso,
determinante para o momento histórico de que se fala, observar a trajetória do
pesquisador e da pesquisa se faz fundamental para entender não só o contexto do
trabalho, mas principalmente o sentido que buscou denotar determinado autor e
autora, como frutos de um tempo e de um objetivo a ser cumprido.
Dito isto, pensar uma obra que tenha
passado por várias edições, no contexto da historiografia brasileira, pressupõe
a análise do clássico como uma referência, ou seja, um trabalho mediado de
informações consistentes à época e aos grupos sociais que localizavam-se em um
patamar destacável, além da percepção veiculada sobre outros grupos que não se
encontravam nessa esteira. Ademais, ler um clássico em si mesmo, isto é, além
da leitura de outrem, faz-se uma tarefa indispensável para sua compreensão.
Ítalo Calvino nos instiga a pensar
nossa trajetória de leitura, ou seja, por mais que ao longo de uma formação
tenhamos uma lista ampla de leituras e informações, sempre haverão outras que
ainda não foram apreciadas, sobretudo criticamente. Os clássicos são, em sua
interpretação, “(...) aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as
marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram
na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem
ou nos costumes)” (CALVINO, 1993, p.11).
Obras
chegam a nós, nós vamos a elas, e nesse sentido as interpretamos; também estão
carregadas de marcas da época em que foram produzidas, além da filiação
institucional a que o(a) autor(a) estava ligado, ou até mesmo fatores contidos
no livro clássico que surpreenda — de modo individual — a cada leitor que o
folhear. O clássico, dessa maneira, também poderá ser responsável por
(...)
oferecer-nos alguma surpresa em relação à imagem que dele tínhamos. Por isso,
nunca será demais recomendar a leitura direta dos textos originais, evitando o
mais possível bibliografia crítica, comentários, interpretações. (...) O
clássico não necessariamente nos ensina algo não sabíamos; às vezes descobrimos
nele algo que sempre soubéramos (ou acreditávamos saber), mas desconhecíamos
que ele o dissera primeiro (ou que de algum modo se liga a ele de maneira
particular) (CALVINO, 1993, p.12).
Os clássicos têm muito a nos oferecer. Não são trabalhos comuns. Geralmente, são frutos de anos de pesquisa, de produções com forte embasamento teórico e, muitos deles, empírico. Neste artigo, traremos algumas das questões mais pontuais acerca de discursos em torno da constituição discursiva da América Latina e do Brasil, a partir do estudioso, médico e pesquisador Manoel Bomfim, no início do século XX, percebendo quais caminhos o autor aponta como responsáveis pelo “parasitismo” da América, que se estendeu ao Brasil, além dos possíveis mecanismos de “cura” ao que tece enquanto um mal de origem, além de percebermos, brevemente, a localização desse discurso e o que ele nos tem a oferecer na contemporaneidade.
A historiografia brasileira em Manoel Bomfim: uma análise em
torno de América Latina: males de
origem
É nobre e humano, desde que, pugnando pelos interesses e
necessidades de um povo, não busque resolvê-los em oposição aos interesses
gerais da espécie, desde que, nos choques provocados pelo egoísmo em fúria,
cada patriota se limite a defender seu ideal, a repelir as agressões injustas,
e a rebater as explorações e privilégios; a lutar pelo progresso moral da
nacionalidade, e a anular as influências contrárias a esse progresso. (...) Este livro deriva diretamente do amor de um
brasileiro pelo Brasil, da solicitude de um americano pela América (BOMFIM,
2008, p.02, grifo nosso).
A
apresentação feita por Manoel Bomfim[1] à
sua obra América Latina: males de
origem[2],
publicada, no Brasil, em 1905, nos diz muito sobre a época — final do século
XIX e início do XX — em que fora publicada. Nas suas considerações, derivadas
de um “amor pela pátria”, em um momento que o nacionalismo aflorava-se, outras
questões insurgiam nos debates intelectuais, entre elas a miscigenação como o
problema do atraso cultural do país. Além desta, outro ponto dividia opiniões:
seria possível que a América Latina se civilizasse tendo em vista sua formação
a partir de homens e mulheres moral e fisicamente “degenerados”?
Nesse
sentido, ruma-se um que, segundo Paula Rejane Fernandes, é um dos aspectos
marcantes da obra: a defesa da América Latina e do Brasil, situando a educação
como um passo decisório na superação do conservantismo e na própria alteração
cultural positiva para o território latino-americano, aquém a outros discursos
que faziam prevalecer ideias de ordem imperialista que “afirmava ser
inconcebível que ‘milhões de preguiçosos, mestiços degenerados, bulhentos e
bárbaros se digam senhores de imensos e ricos territórios’ enquanto que a
Europa ‘rica, sábia e ‘civilizada’ se comprimia em pequenos territórios”
(BOMFIM, 1905, p.04 apud SILVA, 1998, p.84).
Desse modo, neste trabalho de Bomfim
pode-se diagnosticar a inquietação do autor em relação ao discurso dominante da
época, segundo o qual o problema de atraso cultural do país estava diretamente
relacionado à miscigenação. Pela análise de Bomfim, sustenta Flora Sussekind
(2002, p.620-621), o movimento por ele promovido reúne a superação de
dicotomias e de férreas oposições, cujos resultados desembocavam nas reflexões
latino-americanas.
Como em outras análises históricas e
produções voltadas para este fim, alguns discursos são marcadamente
intencionados e escritos para setores ou autores específicos. O incômodo de
Bomfim serviu como contraponto ao discurso de que as pessoas, por sua bagagem
biológica, genética, não poderiam desenvolver-se, civilizar-se moralmente. O
excerto abaixo nos auxilia nesta compreensão:
A
teoria da desigualdade inata das raças, defendidas por Gobineau e Gustave Le
Bon influenciou, sobremaneira os intelectuais brasileiros e, consequentemente o
pensamento social e político do Brasil. Pensadores como Oliveira Martins,
Oliveira Viana e Silvio Romero viam na questão racial o grande problema da
inferioridade brasileira (CAMARA; COCKELL, 2011, p.298).
O discurso inflado de Manoel Bomfim
em América Latina: males de origem,
conflitava com a posição assumida acima, principalmente pela crítica elevada ao
que se podia chamar de “tirania europeia”, sobretudo pelo que se referia a
Portugal e Espanha, a quem ele se refere como “parasitas” — metáfora que
emprega ao longo do livro — para explicar que a América Latina, por ter sido
colonizada, majoritariamente, por estes dois países, teria herdado esses traços
que, por sua vez, só poderiam ser solucionados por meio da educação, preliminar
à mudança de hábitos, para a construção de uma nova nação, de fato, livre,
autônoma.
Nas
colocações do próprio autor, são três as causas por meio das quais a dominação
externa (europeia) se impôs na América: “o enfraquecimento do parasitado; as
violências que se exerceram sobre eles; e a sua adaptação às condições de vida
que lhe eram impostas pelos predadores” (BOMFIM, 2008, p.254). Essa impressão
acerca da Europa, anulava, em muitos momentos, uma possível percepção dos
nativos ameríndios enquanto sujeitos capazes de reagir, resistir à “dominação”,
haja vista, outrossim, as relações multidirecionais levadas a prumo pela
colonização. Em suma, a crítica de Bomfim incidia preponderantemente no aspecto
negativo da colonização portuguesa/espanhola para com a América Latina.
De
acordo com José Maria de Oliveira Silva (SILVA, 1998, p.84), para Bomfim, as
duas causas centrais por meio das quais o povo latino-americano era malquisto
tinham sua gênese numa causa intelectual —
desconhecimento da realidade histórica da América e seu passado colonial —, e
uma causa interesseira — ambição
pelas terras latino-americanas por parte de países da Europa. Segundo Silva
(1998), ainda haviam outras críticas que permeavam o trabalho de Bomfim,
sobretudo atinentes à busca de uma unidade para os povos da América Latina no
intuito de fazer frente aos investimentos contrários aos seus interesses, o que
acentua a procura por uma defesa, não apenas no seu bojo territorial, mas na
sua afirmação política, na consolidação do seu próprio espaço por meio da
educação. Essa busca, porém, era interceptada pelas próprias diferenças e
distanciamentos concentrados entre os próprios países vizinhos, no que se
decalca uma falta de solidariedade entre estes.
É
importante salientar que Bomfim, ao passo que criticava e resistia ao
imperialismo, defendendo o ideal de solidariedade latino-americana, não
desconsiderava os problemas que “afligiam” a América Latina como um todo:
“revoluções frequentes”, “irregularidade do câmbio”, “instabilidade dos
governos”, alegando que o atraso cultural do continente não derivava dos
supracitados, mas sim dos “males” infligidos a partir do colonialismo
metropolitano, que encontrou, posteriormente, respaldo na ação conservadora das
classes que passaram a dirigir os países. Estes males, por sua vez, assumiram
as motivações por meio das quais se passou a estereotipar o continente
latino-americano como o território dos “desvalidos”, “desafortunados”, da
“miséria” e da “fome” (SILVA, 1998, p.91).
Lendo
Manoel Bomfim, podemos diagnosticar uma reflexão que dialoga, mesmo após tantos
anos, com diversas situações político-administrativas que ainda residem na
América Latina e no Brasil. Seus estudos, nessa obra especificamente, lançam
base para apontar, pensar e, sobretudo, investigar em que medida o
conservantismo, a escassez de investimentos em educação e a manutenção de
estruturas arcaicas de poder ainda são coniventes entre si com o intuito de
reproduzir os mesmos sistemas e as mesmas estratégias políticas de dominação
política, econômica e cultural.
Considerações finais: as conformações acerca da constituição
de uma historiografia brasileira
A instrução escolar ajudaria a constituir um povo livre de males como o mandonismo, o conservadorismo político, o cultivo da aparência e o desprezo pelo trabalho. E dentro de alguns anos, a América Latina seria reconhecida, de acordo com Bomfim, não mais por seus males e infortúnios, mas, pelo seu sucesso e por suas riquezas. Como vemos, Manoel Bomfim é um convite a pensar a América Latina a partir de outros referenciais teóricos, e mais do que isso, é um convite à esperança (FERNANDES, 2012, p.117).
Mesmo
não se tratando de uma análise linearizada, tal como propunham os positivistas,
tendo o “progresso como meta”, a reflexão de Paula Rejane Fernandes (2012) nos
aponta um ideal marcadamente histórico de um médico que atuou como pesquisador,
crítico de sua época. Estivemos diante — no sentido mais próximo do termo — de
um autor consentâneo à compreensão do Brasil. Não foi o único, mas, pela
contribuição ao pensar acerca de quais discursos se sobrepujaram na
historiografia brasileira, foi um sujeitos que se preocupou com sua realidade
e, para sermos mais pontuais, estranhou-se com ela. Partindo do seu presente,
buscou no passado determinadas explicações que tendemos a ver que não foram
vãs, pois nos ajudaram e são significativas à história do Brasil, quiçá, da
América Latina. Mesmo sendo médico, assemelhou-se ao ser historiador por inquietar-se, estranhar-se com sua realidade.
O trabalho de Bomfim aparece como um
contradiscurso, nasce de suas perguntas ora nacionalistas e é também sugestivo:
propõe soluções e dialoga com a realidade da época, de forma promissora. Por
conseguinte, esteja apontado como um clássico, embora nem sempre lido como tal.
Disso reiteramos uma lição: as leituras também são modeladas, forjadas e tendem
a atender projetos políticos distintos.
Entre
outros elementos, procuramos dar enfoque à originalidade enquanto constituinte de
um fator essencial no sucesso de uma obra, em específico, América Latina: males de origem. Isso, no entanto, não implica em
dizer que o autor tratará de criar densamente uma explicação sem antes ter se
amparado em uma gama de leituras, que, a seu momento histórico, poder-se-iam
também ser chamadas de clássicas.
Existem outros muitos pesquisadores
que tentaram descrever, no máximo e mínimo de suas possibilidades, integrar uma
visão à história do Brasil, fosse na macro ou micro concepção do real, da sua própria
história e do vínculo desta com a história do país. Somos sujeitos inúmeros,
atravessados por características peculiares e, ao mesmo tempo, decifradoras do
que nos tornamos, à busca incessante de nos explicar.
Entre outros aspectos, os clássicos
nos servem para pensar quem somos. Nos ajudam a entender questões que ora
sombrias se apresentam, outras que são susceptíveis de clarificação, até
aquelas que nos mostram que somos parte dessa história, fruto dela e agentes
sociais que precisam, politicamente, participar dessas decisões, agir em prol
de mudanças, transformações concretas, posicionamentos não reducionistas e
ações no invólucro e no cume das mais diversas configurações sociais.
O
clássico é, destarte, um instrumento de ação política, não apenas na sua
acepção de poder, mas na política da originalidade, da problemática trazida; na
política de construção de outro viés, talvez bem mais distante daqueles
pretensamente elaborados por determinados grupos a fim de “oficializar” uma
única história para determinado sujeito, lugar, época.
A história é um conhecimento humano.
Não é possível, cremos, tratar dela sem prezarmos pela experiência do sujeito,
isto é, em como indivíduos de um grupo social, de uma classe, estabelecem
respostas, soluções a seus problemas, evidenciando que são participantes da
história mesmo quando, no papel, não recebem o devido crédito. E, a partir
disso, adentra uma nova possibilidade de pesquisa: estudar esses novos
sujeitos, ou melhor dizendo, sujeitos que não foram ouvidos. Analisar, pois,
suas experiências à época em que foram veiculadas, suas manifestações
socioculturais, suas concepções de mundo. O que o clássico que analisamos evidencia, não discrepa dessa posição.
No
caso específico de Bomfim —, na procura pela vinculação concreta à sua história
para transformá-la, para fazê-la diferente, para assumi-la e, sobretudo, com as
questões de seu tempo, que não se findam, ou seja, muitas das problemáticas
levantadas há tantos anos e que ainda não foram atendidas ou resolvidas como
pressupunham que fosse com um novo tempo, com uma nova sociedade. Até porque
não existe o novo ou velho na história, mas as mudanças e as permanências.
E o que o nosso século (XXI) demonstra é que as permanências parecem sempre
bradar com contundência.
O
nosso tempo hoje, mais de um século depois, ainda se encontra permeado por
“parasitas”, “parasitários” e “parasitados” – e não se trata apenas, como
apontou Bomfim, de uma disputa binária, história de vencedores ou vencidos, mas
sim de problemas que subsistem de um lado e outro, em especial, na educação, e
ainda, o que é bem notório e singular numa obra clássica, como é a de Manoel
Bomfim: passe o tempo que passar, o clássico alcança uma longitude, no tempo,
no espaço, na história, mostrando que a velhos documentos podem sim ser feitas
outras e/ou “novas” perguntas.
Referências
AGUIAR, Ronaldo
Conde. O rebelde esquecido: tempo,
vida e obra de Manoel Bomfim. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000.
BOMFIM, Manoel. A América Latina: males de origem. Rio
de Janeiro: Biblioteca Virtual de Ciências Humanas, 2008. Disponível em: <https://static.scielo.org/scielobooks/zg8vf/pdf/bomfim-9788599662786.pdf> Acesso em:
30/03/2018.
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos? In:_________. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p.09-16.
CAMARA, Sônia; COCKELL, Marcela. O intelectual educador Manoel Bomfim e a interpretação do Brasil e da América Latina. Revista HISTEDBR On-line, n.44, Campinas-SP, dez. 2011, p. 293-307
FERNANDES, Paula Rejane. América Latina aos olhos de Manoel Bomfim: análise da obra “A América Latina: males de origem”. Dimensões, vol. 29, 2012, p. 100-118, ISSN: 2179-8869. Disponível em: <www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/viewFile/5401/3989> Acesso em: 09/04/2018.
SILVA, José Maria de Oliveira. Manoel Bomfim e a ideologia do imperialismo na América Latina. Revista de História, n.13, São Paulo, 1998, p.83-92.
SUSSEKIND, Flora. Introdução. In SANTIAGO, Silvianol. (Org.). Intérpretes do Brasil. Volume I. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, p.620-621, 2002.
VALENTE, Luiz Fernando. “Nós outros, neo-ibéricos”: o entre-lugar da identidade nacional no pensamento de Manoel Bomfim. Gragoatá, n.22, Niterói, 2007, p.85-98. Disponível em: <gragoata.uff.br/index.php/gragoata/article/download/280/282> Acesso em: 02/06/2018.
[1] “Manoel José Bomfim nasceu em
1868 na cidade de Aracaju, província de Sergipe. Era filho do casal José
Paulino do Bomfim e Maria Joaquina. Aquele era um ex-vaqueiro tangedor de gado
do sertão para o litoral e que se tornou comerciante após o casamento, e ela
era uma viúva descendente de portugueses. Bomfim morreu em 1932 no Rio de
Janeiro.” Ver: AGUIAR, Ronaldo Conde. O
rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Rio de Janeiro:
Topbooks, 2000. O livro narra, de forma detalhada, traços biográficos de Manoel
Bomfim, por tempos esquecido, sendo a primeira biografia sociológica sobreo
autor.
[2] “Em 1905, Manoel José Bomfim
publicou seu livro “A América Latina: males de origem” pela editora Francisco
Alves. Começou a redigi-lo no ano de 1903, quando estagiava no laboratório do
psicólogo e pedagogo Alfred Binet, em Paris; concluindo um ano depois, em 1904,
na cidade do Rio de Janeiro. A obra reunia questões que o autor vinha pesquisando
e investigando de longa data, e inclusive, algumas delas já haviam sido
expostas ao público quando escreveu, em 1899, o parecer a respeito da
monografia “Compêndio de história da América”, escrita por José Francisco da
Rocha Pombo para o concurso criado pelo Conselho Superior de Instrução Pública
do Distrito Federal, que elegeria o melhor compêndio sobre história da América
a ser utilizado pela Escola Normal.” FERNANDES, Paula Rejane. América Latina
aos olhos de Manoel Bomfim: análise da obra “A América Latina: males de
origem”. Dimensões, vol. 29, p.
100-118, 2012. ISSN: 2179-8869. p.101.
Rômulo, gosto muito dessa discussão. Os "males de origem" aos quais o Bonfim se refere são recorrentes em diversos dos chamados "intérpretes do Brasil". Eu pesquiso História Intelectual e vejo isso no meu próprio personagem de pesquisa, que é um intérprete "discreto". Como você percebe o Manuel Bonfim dentro dos explicadores do Brasil e as possibilidades de pesquisa tornando-o como personagem?
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho!
Comentado por : Francisco Adriano Leal Macêdo
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá, Adriano.
ExcluirGrato pelas considerações. Percebo Bomfim como um sujeito importante no quadro de explicação do Brasil, tendo em vista uma de suas teses em Males de Origem: a educação como alternativa para a superação do conservantismo social.
Olá meu caro Rômulo Carvalho. Em primeiro lugar agradeço, em nome de nosso evento, a sua participação no I Simpósio Nacional de História e Historiografia, assim como agradeço a participação no ST com o envio de seu trabalho. Farei alguns apontamentos.
ResponderExcluirI: Gostei de sua proposta e de sua escrita;
II: É muito interessante pensarmos as origens de textos que ao passar do tempo vão sendo considerados como clássicos.
III: Entrei em contato com o Manoel Bonfim ainda em minha graduação, e tenho ótimas recordações desse texto. Na verdade os apontamentos que Bonfim faz no início do século podem ser considerados vanguardas para uma época.
IV: Uma provocação, Os males de origem, de Manoel Bonfim é uma clássico da historiografia brasileira?
V: Pesquisas sobre personagens que concedem notas que podem auxiliar na explicação do que seria o Brasil, ou de uma identidade nacional, tem ganhado muito fôlego nas últimas décadas na chamada História Intelectual, você tem se enveredado por essas rotas?
Novamente meus parabéns pelo esforço de escrita.
Jônatas Lincoln Rocha Franco (PPGHB-UFPI)
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá, Lincoln!
ExcluirGrato pelas considerações. Primeiro, fiz uma discussão sobre as características de um clássico devido o trabalho pertencer à disciplina Historiografia Brasileira. Depois, me debrucei sobre Males de Origem, vendo-o como um clássico em ocasião da tese do parasitismo social e da educação como parâmetro para a superação do conservantismo social e de práticas arraigadas à sobreposição de uma elite colonialista no Brasil. Alguns desses pontos não foram superados por nós, historiadores nem a sociedade no seu todo.
A preocupação de Bonfim é retratar e problematizar algo tão pertinente quando se trata "dos males de origem". Inicialmente o autor traz referencias importantes quanto as questões sociais, econômicas e sobretudo quando discute acerca da América Latina e parasitismo social, e como a opinião pública europeia pensa este continente. Parabéns pela contribuição do seu texto sobretudo para a historiografia.
ResponderExcluirVânia Maria Carvalho de Sousa
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ExcluirOlá, Vânia!
ExcluirObrigado pelas considerações. Lembrei-me de quando Bomfim escreve que, para a Europa, era "intragável comprimir-se em um território pequeno face à imensidão de uma América incivilizada, selvagem". Esses argumentos, munidos de preconceito, são questionados por Bomfim, que, consequentemente, sugere a educação e a superação do conservantismo a fim de que a América torne-se, de fato, livre; por isso, a justificativa de redigir esse pequeno artigo.
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ResponderExcluirOutro ponto que gostaria de destacar nesse trabalho, apontando-o como clássico, deve-se ao lugar do qual escreve Manoel Bomfim. Ele não pertencia à sociologia, à história, mas à medicina; ainda assim, buscou e realizou uma interpretação do Brasil, que não é perfeita, como muitos supuseram. O coringa do baralho é que, no início do século XX, enquanto muitos, entre os quais Silvio Romero, se incumbia de apontar a miscigenação como razão para o atraso do país, Bomfim contrapunha esse discurso, e, defendendo a educação como "saída", rumava a outros moldes que, como vemos hodiernamente, ainda não são levados a sério como deveria.
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