EM BUSCA DO ESTADO-NAÇÃO: DEVIRES DO PENSAMENTO SOCIAL E FORÇAS DA TRADIÇÃO NAS IDEIAS DE JÚLIO DE MESQUITA FILHO
Francisco Adriano Leal
Macêdo (Mestrando PPGHB – UFPI)
Shirley Pereira Cardoso
(Mestranda – UFAM)
Resumo: Este
artigo é parte constitutiva de uma pesquisa mais ampla que toma a trajetória do
jornalista e intelectual paulistano Júlio de Mesquita Filho, a pretexto de
estudar as maneiras de pensar o Brasil entre os anos de 1925 e 1964. Proprietário do jornal “O Estado de São Paulo”, Mesquita Filho
esforçou-se para definir a Nação que habitou a partir de textos e modificá-la
através de ações. Não obstante a isso, o seu olhar de observador atento do
Brasil está situado no universo mental do seu tempo. É a partir deste
pressuposto que tomamos seu primeiro texto publicado, intitulado A crise nacional (1925), em diálogo com
o livro Nordeste (1963) e o livro
homônimo de Gilberto Freyre de 1937 no intuito de perceber constantes e
variações do pensamento social desses sujeitos.
Palavras-chave: Intelectuais. Nordeste.
Júlio de Mesquita Filho. Gilberto Freyre.
Cada atualidade
reúne movimentos de origem e de ritmo diferente: o tempo de hoje data
simultaneamente de ontem, de anteontem, de antanho.
(Fernand
Braudel)
Grandes causas e grandes efeitos: a
dialética mecânica da crise em 1925
Para situar qual era o projeto de
Nação que Júlio de Mesquita Filho pensara antes do início de sua carreira como
jornalista, utilizaremos a sua primeira obra publicada, A Crise nacional (1925). Esse livro marca o início das suas
atividades intelectuais, e, como sugere seu título, atesta que existe uma crise
generalizada no Brasil e estabelece suas causas e possíveis soluções. Em sua
escrita, fala desde os “efeitos da lei de 13 de maio”, dá sua posição sobre modelos
de governo, economia e demonstra interesse pela criação das universidades.
Nesse ponto, a ideia de crise manifesta posição de discordância conflituosa com
o status quo. Essa é a primeira
relação notada na qual são confrontados o intelectual e a realidade nacional.
Os manifestos estiveram em evidência
naquela década que seria a última da chamada “República Velha”. Como comburente
desses ditos e escritos, uma certa vontade de resolver as coisas. Mas não
apenas isto. Implicitamente, o desejo de vanguarda e de preconizar os tempos
vindouros fazia-se presente em cada palavra. O Manifesto do Pau Brasil de Oswald de Andrade e O Manifesto regionalista de Gilberto
Freyre são exemplares clássicos de tentativas de fundação de ética e estéticas nacionais. Em São Paulo, em quinze de
novembro de 1925, um intelectual que fazia carreira como dono do matutino O Estado de São Paulo ensaiava o seu
projeto vanguardista para a Nação. O texto de debute de Júlio de Mesquita Filho
possui um título forte, mostrando a que veio – A crise Nacional. O Estado havia lançado nomes como Euclides
da Cunha, a saber, pelo próprio membro fundador, Júlio Mesquita. A sede desse
empreendimento de imprensa era assiduamente frequentada por intelectuais e
homens das letras já proeminentes como Monteiro Lobato e Olavo Bilac, sequiosos
pela divulgação que um noticioso de ampla circulação poderia proporcionar.
Talvez encorajado por esses sujeitos, Mesquita Filho lança o primeiro livro,
fortemente engajado em torno da ideia de República.
O texto integral foi publicado
originalmente na edição do jornal na data em que se comemorava a proclamação da
República – daí o subtítulo “reflexões em torno de uma data”. Esse escrito
ganharia formato de livro provavelmente pelo fato do seu autor tê-lo
considerado merecedor de um formato menos efêmero. A “secção de obras d’O Estado de São Paulo” diagramou o livro
de tal modo que trazia uma citação de Goethe na capa: “Onde vejo grandes
effeitos, sempre supponho grandes causas”. Essa epígrafe reforça a ideia de uma
visão dialética de sociedade que revela o pensamento do autor. Em sua análise
de “grandes causas” que geraram “grandes efeitos” – a crise –, o primeiro tema
é a monarquia. Com os tempos do Segundo Reinado descrito com palavras otimistas
– saudosas, até – essa é uma das primeiras evidências do passado de tradição que Mesquita Filho atribui como
sendo um período em que se havia neutralizado “os males que mais tarde tão
grandes proporções assumiriam, inerentes a tendência autocrática do brasileiro”.
O que teria mantido esses “males” distantes: “a presença de Pedro II, espírito
culto [...] figura serena do soberano” (MESQUITA FILHO, 1925, p. 8).
Esse tempo de suposta estabilidade
política cairia por terra por ocasião do “decreto de 13 de maio, [quando]
entrou a circular no sistema arterial do nosso organismo político a massa
impura e formidável de dois milhões de negros” [Sic!] (Ibidem). Esse brusco diagnóstico remete a notas de um
pensamento sociológico amplamente difundido nas academias a partir do século
XIX, cujas pistas mais veladas puderam ser parcialmente desvendadas apenas nos
estudos antropológicos recentes. As referências a “massa impura e formidável”
dos antigos escravos na sociedade possui fundamentos e lugares-comuns sobre
cultura. A historicidade da ideia de cultura perpassa pela construção dos
Estados-Nacionais e, nesse caso, instrumentaliza um intelectual a refletir
sobre “a crise nacional” brasileira na terceira década do século XX. Mesquita
Filho demonstra estar entre aqueles que epistemologicamente “proclamam a
necessidade de um período de incubação ética para preparar homens e mulheres
para a cidadania política” e que, por outro lado “negam aos povos coloniais o
direito à autodeterminação até serem suficientemente «civilizados» para o
exercício das suas responsabilidades” (EAGLETON, 2003, p. 18).
Em termos crus, acrescenta que “o
afluxo repentino de toxinas” – em referência a inserção dos antigos escravos
como cidadãos – levou a “consciência nacional” que estaria se fortalecendo nos
tempos imperiais a apresentar imediatamente “os mais alarmantes sintomas de
decadência moral” (MESQUITA FILHO, 1925, p. 11). Os fundamentos dessa
dialética, onde grandes causas e grandes efeitos são axiomas de processos
mecanicistas, não usa eufemismos ou subterfúgios. Afirma peremptoriamente: a
abolição da escravidão tem como desfecho o que chamou de “crise nacional”. O
fatalismo em torno de ideias que remete a esse “mal” traz um obscuro
determinismo. Através de algumas analogias e termos médicos, Júlio de Mesquita
Filho afirma que a “doença” política e cultural do Brasil vem de uma “vibração
sempre maior do elemento patógeno”. A catástrofe política que ele observava no
Brasil nos anos derradeiros da Primeira República seria outra manifestação da
visão epistemológica de mundo que pensava o globo terrestre como um continuum de tempos diferentes e um
desenvolvimento unilinear (LANDER, 2005).
A partir dessas afirmações
tautológicas em seu livro inaugural, salta aos olhos uma lógica de sentido
transcendente e exterior. Não existe traços de hesitação nesses argumentos. Um
sólido construto teórico amparava aquelas conclusões, a exemplo da bibliografia
europeia que se fazia presente na sua biblioteca pessoal. Dentre as concepções
de Estado-nação moderno, se avultou na Europa a ideia de homogeneidade étnica e
cultural da população, tema de estudo de Benedict Anderson em Comunidades imaginadas (ANDERSON, 2008),
com menções diversas, como a de Hannah Arendt em texto clássico sobre o nazismo
(ARENDT, 1999, p. 198). Esse
pressuposto terminaria ecoando pelo mundo, chegando com grande rapidez na
América Latina. Esse fenômeno de intelectuais engajados em construir nações
latinas articulado em torno da ideia de raça já conta com excelentes análises,
como a de Jeane Delaney sobre as tentativas da intelligentsia e ações de Estado para consolidar uma nacionalidade
argentina (DELANEY, 2014). No caso da retórica de Mesquita Filho Sobre a Nação,
o fim da escravidão e a súbita transformação de “coisas” em cidadãos deitaria
por terra as esperanças de um país aos moldes etnicamente “civilizados”.
De acordo com a volumosa quantidade
de informação deixada por este intelectual que exerceu uma atuação sui generis em empreitadas tão
heterogêneas, pode ser percebida uma atmosfera de tradição, como uma busca
constante por recuperar “o chão sob seus pés”. Dentro daquilo que Michel
Foucault chamou de “crise da representação”, o sujeito que escreve A crise nacional dedica sua eloquência
ao estudo de um objeto ao qual ele próprio se mistura. Na mise en scène da sociedade brasileira representada nesse livro –
que localizo com tons de manifesto, apesar de não ter se colocado claramente
com esse objetivo –, a nostalgia de um tempo perdido é o elemento sensível. Uma
lista de mazelas começa a ser apontada, ainda sob a fórmula de “grandes causas
e grandes efeitos”. O sistema de oligarquias, por exemplo, é localizado como
causa direta da “mentalidade primitiva” a circular no metabolismo político do
país, já que estava convencido de que a nação havia “entrado para a categoria
daqueles povos que ‘preferem um governo qualquer a se governarem por si
mesmos’” (MESQUITA FILHO, 1925, p. 16).
Se considerarmos o autor de A crise nacional dentro do que
estudiosos críticos como Stella Bresciani e Carlos Guilherme Mota chamaram de
intérpretes ou ideólogos do Brasil – visto que além desse livro diagnóstico,
escreveu outros com escopo semelhante –, vemos alguns ineditismos em suas
análises, pelo menos acerca do que é mais divulgado. Em termos de circulação,
talvez devido a concepções hoje claramente inadmissíveis nos círculos
intelectuais, seus livros não são mais publicados. Dentro do que pode ser
considerado em suas análises como ineditismo nessa sua “interpretação” é o fato
de que, ao falar de crise, não retorna à colonização (BRESCIANI, 2004, p. 406),
mas se detém na abolição da escravidão como “mal de origem”. Compartilhava com
outros pensadores da época, a abordagem intelectual de um dos chamados
universais – O Estado –, que implicava em vários outros, como Verdade, Justiça
e Lei, investidos igualmente de teor meta-histórico.
Os
“nordestes” de Gilberto Freyre e de Júlio de Mesquita Filho
Os escritos a serem
utilizados como âncora de tópico possuem o mesmo título – Nordeste –, um de autoria do proprietário do Jornal O Estado de São Paulo – Júlio de
Mesquita Filho – no início da década
de 1960 (MESQUITA FILHO, 1963) e o outro do sociólogo pernambucano Gilberto
Freyre, publicado a primeira vez em 1937 (FREYRE, 1967). A edição aqui
trabalhada é, todavia, do ano de 1967 – que traz consigo um prefácio lavrado em
1961. A análise comparada desses textos indicam os percursos das ideias que
germinaram de um significante comum, possibilitando escrutinar em que medida as
noções de evolução e progresso no terreno do pensamento social se aplicam.
No caso de Gilberto
Freyre, o seu Nordeste é
caracterizado por um intenso e contraditório processo de rupturas epistemológicas,
com algumas permanências que faz o enunciado do livro ser quase paradoxal. A
confluência de paradigmas das ciências sociais e mesmo da ecologia produzem uma
forte verossimilhança, demonstrando a força da narrativa das obras dos chamados
“intérpretes do Brasil” – título atribuído aos intelectuais que se aventuraram
em nomear o que era o Brasil. Júlio de Mesquita Filho escreveu os textos
reunidos sob o título de “Nordeste” originalmente como editorial do próprio
jornal, mais de duas décadas depois do lançamento da primeira edição do livro
de Freyre.
Claude Lévi Strauss,
antropólogo que curiosamente esteve no Brasil nos anos 1930 a convite do grupo
de Júlio de Mesquita Filho na USP, escreveu em Raça e história que o chamado “progresso” humano e cultural não é
linear ou cumulativo. Essa acepção teórica dá a ver que as temporalidades não
teleológicas que norteiam a produção e circulação de ideias (LÉVI-STRAUSS,
1980). Nos interciclos das durações históricas é possível notar a curvatura e
profundidade de metamorfoses no pensamento e na circulação de ideias. Os sulcos
cavados pelo rio das novas ou velhas ideias nas margens das ciências sociais
também são elementos passíveis de análise histórica. Para empreender um estudo
desse tipo, é importante manter os olhos na advertência braudeliana sobre
pontos de inflexão abruptos serem, em grande medida, elementos enganadores (BRAUDEL,
1976, p. 14). Partindo dessa formulação do historiador francês, encontramos um
caminho possível para conhecer as transformações no pensamento de estudiosos
brasileiros do século XX, que inseridos em perspectivas diferentes, chegam a
conclusões algumas vezes opostas.
Mesquita Filho fala de
uma “incontestável inferioridade do trabalhador rural baiano [...] trata-se de
uma questão de mentalidade, que faz com que o camponês da Bahia permaneça de
mais próximo das suas origens sociais africanas” [sic]. Segue ele argumentando
que esse fenômeno torna “o elemento humano dessa região num ser híbrido que
ainda está longe de se integrar definitivamente na estrutura essencialmente
econômica da civilização contemporânea” (MESQUITA FILHO, 1963, p. 16). Nordeste de Freyre é confessadamente impressionista,
buscando retratar uma presença sobre o assim chamado Nordeste, em suas
essências sensoriais e subjetivas. O movimento de vanguarda impressionista
pretendia apelar para a dimensão subjetiva em busca de “criar” uma realidade,
sempre aliado com traços científicos que forneceram ao texto um “charme de
ciência”. Freyre alia isso a elementos empíricos e de pesquisa, resultando num
texto fortemente sedutor. Os elementos centrais abordados: a monocultura da
Cana-de-açúcar e sua relação com a terra, água, mata, animais e homens, tendo
sempre em vista como as suas análises irão romper ou dar continuidade com elementos
epistemológicos da época.
Considerações finais:
Ocupando locus privilegiados durante regimes
políticos como a ditadura civil-militar brasileira, Freyre se inseriu na ordem
do discurso para a invenção e cimentação desse Brasil, com o seu esforço
interpretativo que, ao mesmo tempo que valorizava o elemento negro em certos
aspectos, também narrava o “Brasil profundo” a partir da ideia do “mundo que o
português criou”. Apesar disso, e deixando escapar em diversos pontos que a
escravidão foi um meio que terminou justificando seu fim – insistindo na
suposta inabilidade do africano em se rebelar, silenciando as resistências
miúdas e o escravizado como sujeito político – Gilberto Freyre trouxe pontos de
um argumento inovador que trinta anos depois Mesquita Filho pareceu ignorar.
A saber, Freyre escreve
que a atribuição recorrente de preguiça e incompetência do negro para atividade
ditas civilizadas “seria torcer um fenômeno de causas nitidamente sociais para
acomodá-lo a um ‘racismo’ muito suspeito”, acrescentando ainda que isso se
manifesta “quase sem nenhum cheiro de ciência e com um odor cada dia mais
carregado de intenção política”. Reforço: o texto de Gilberto Freyre foi
editado a primeira vez em 1937; o de Júlio de Mesquita Filho, em 1963.
Isso
significa duas coisas: em primeiro lugar, que o "progresso" (se este
termo ainda é adequado para designar uma realidade muito diferente daquela a
que se tinha primeiramente aplicado) não é nem necessário nem contínuo; procede
por saltos, ou, tal como diriam os biólogos, por mutações. Estes saltos não
consistem em ir sempre mais longe na mesma direção; são acompanhados por
mudanças de orientação, um pouco à maneira dos cavalos do xadrez que têm sempre
à sua disposição várias progressões mas nunca no mesmo sentido. A humanidade em
progresso nunca se assemelha a uma pessoa que sobe uma escada, acrescentando
para cada um dos seus movimentos um novo degrau a todos aqueles já
anteriormente conquistados, evoca antes o jogador cuja sorte é repartida por
vários dados e que, de cada vez que os lança, os vê espalharem-se no tabuleiro,
formando outras tantas somas diferentes. O que ganhamos num, arriscamo-nos a
perdê-lo noutro e é só de tempos a tempos que a história é cumulativa, isto é,
que as somas se adicionam para formar uma combinação favorável (LÉVI-STRAUSS, p.
9).
Compreendendo
suas motivações intelectuais, podemos vislumbrar esquematicamente os “cheiros
de ciência” ao lado das “intenções políticas”. Segundo a assertiva de
Lévi-Strauss acima transcrita, os tempos das ideias não seguem um progresso
linear. Questões que parecem superadas e obvias, retornam de maneira “tardia” e
anacronicamente. Ao retomarmos a epígrafe de Fernand Braudel, essa questão fica
bastante clara. Os pensamentos em torno do social entre os intelectuais
brasileiros estão repletos de (com)tradições fundantes, nem sempre coerentes no
tempo e no espaço.
Referências
Bibliografia
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre
a origem e a difusão do nacionalismo. Tradução Denise Bottman. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008.
ARENDT,
Hannah. Eichmann em Jerusalém.
Tradução José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
BRESCIANI,
Maria Stella Martins. Identidades inconclusas no Brasil do Século XX –
fundamentos de um lugar comum. In: _________; NAXARA, Márcia. Memória e (res)sentimento: indagações
sobre uma questão sensível. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2004.
LÉVI-STRAUSS,
Claude. Raça e História. Lisboa:
Presença, 1980.
BRAUDEL, Fernand. História e Ciências sociais. Lisboa: Editorial Presença, 1976.
DELANEY, Jeane. “Imaginando La raza argentina”. In:
PAMPLONA, Marco A.; DOYLE, Don H. Nacionalismo
no Novo Mundo: A formação dos Estados-Nação no século XIX. São Paulo:
Record, 2014.
EAGLETON,
Terry. A ideia de cultura. Lisboa:
Temas e Debates, 2003.
LANDER,
Edgardo. A colonialidade do saber e
eurocentrismo nas ciências sociais: perspectiva latino-americanas. Buenos
Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – CLACSO, 2005.
Fontes:
FREYRE,
Gilberto. Nordeste: aspectos da influência da cana sobre a vida e a
paisagem do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1967.
MESQUITA FILHO,
Júlio de. Nordeste. São Paulo: Anhambi, 1963.
______________. A crise nacional: reflexões em torno de
uma data. Secção de obras d’O Estado de São Paulo, 1925.
Olá meu caros Francisco Adriano e Shirley Cardoso. Agradeço em nome da organização do I Simpósio Nacional a distância de História e Historiografia a participação de vocês e a escrita do texto para nosso Simpósio Temático. De início gostaria de parabenizar pelo texto e pela pesquisa. Muito me interessa os temas voltados a História Intelectual que é um dos ramos que tem se apresentado com maior fôlego nas últimas décadas e a produção de pesquisas nessa seara tem auxiliado no entendimento do conceito de nação a partir de diferentes perspectivas e sujeitos.
ResponderExcluirJônatas Lincoln Rocha Franco (PPGHB-UFPI)
Gostaria de destacar alguns elementos para que possamos travar um diálogo sobre a pesquisa:
ResponderExcluirI: Júlio de Mesquita Filho era um homem das letras, com considerável atuação intelectual no recorte temporal de sua pesquisa, contudo a historiografia nacional pouco toca em seu nome. Como você chegou a esse sujeito e sua trajetória, e o que você considera como uma possíveis razões para que sua atuação não tenha sida tão "valorizada" pela historiografia nacional?
II: Através da leitura de seu texto, é perceptível que o intelectual que escreve na terceira década do século XX, tem uma formação calcada no que pode ser considerado como práticas higienistas europeias do século XIX, assim como uma espécie de Darwinismo social. Sei que no artigo o espaço é pequeno, mas o que poderia destacar sobre essa circulação de ideias e como elas (essas ideias) eram possivelmente recebidas pelos círculos intelectuais que JMF fazia parte?
III: Você faz um relato de analogias que JMF fazia com a "degeneração" dos tipos sociais que compunham os quadros étnicos brasileiros com doenças. Não sei se é o caso, mas esse período coincide com o que a historiografia recente sobre a saúde e doença, nação e região, tem apontado como uma Era do saneamento no Brasil. Que é composto exatamente pela preocupação das elites com a saúde pública nas regiões de sertão no Brasil. Pensa em estabelecer alguma conexão com esses debates? Pelo título do manifesto estabeleci quase que naturalmente essas conexões. Fica a sugestão.
HOCHMAN. Gilberto. A Era do Saneamento: as bases da política de saúde pública no Brasil. São Paulo: Hucitec Editora, 2012.
No mais, novamente parabéns pelo texto.
Jônatas Lincoln Rocha Franco (PPGHB-UFPI)
Muito obrigado pelos comentários e sugestões, professor Lincoln.
ExcluirSobre o JMF ser um homem das letras que não foi contemplado pela historiografia, isso é parte do que alguns autores têm chamado de interpretações "apócrifas" de Brasil. Até onde a pesquisa avançou, caracterizamos como fatores centrais disso dois elementos: 1: As matrizes epistemológicas seguidas por JMF estava caindo em desuso, sendo ele um darwinista social tardio. 2: as fontes estavam de posse da família Mesquita, obtidas por meio de contato pessoal com os herdeiros.
Sobre a recepção das ideias, a sua força era muito mais como dono de um dos maiores jornais do país do que como cientista social.
Acerca dos debates de higienização, é possível estabelecer essas conexões sim. Em trabalhos futuros, essa questão será abordada. Grato pela indicação.
Comentado por: Francisco Adriano Leal Macêdo
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ResponderExcluirParabéns pelo texto, Adriano e Shirley!
ResponderExcluirA escrita de vocês é clara, consistente, e realiza um apanhado interessante sobre um tema caro a pesquisadores da História Política e História Intelectual, a meu ver: as tentativas de nomeação do Brasil, suas regiões e seus regionalismos. Recentemente, tive um contato mais propínquo com alguns escritos de Freyre - pouco diante da vastidão de sua obra -, em sua Casa/Fundação, em Apipucos, no Recife. Percebi, em suas crônicas, um autor diferente daquele que escreveu Casa-grande & Senzala, Nordeste, Vida Social no Brasil, Assombrações do Recife Antigo, Açúcar, porque, segundo ele, escrevendo para seu amigo e confrade no Diário de Pernambuco, Lula Ayres Cardoso, "ninguém é o mesmo ao longo de toda uma vida". Com Júlio de Mesquita Filho é interessante notar o seu lugar na tentativa de demarcar que ele próprio era e a sua sujeição ao que a memória de sua família carrega, como acontece - pude perceber - com Freyre. O seu olhar para a interpretação do Brasil se sujeita à manutenção, até hoje, de uma mata atlântica ao redor de sua casa, os azulejos católicos que incumbiu aos filhos, Fernando e Sônia, de montarem; a cama baixa, a escadaria, a mesa de recepção dos amigos, o viveiro dos jabutis, os manuscritos, a predisposição de ter escrito, ao longo de sua vida inteira, apenas à mão. Entre tantos fatores, acredito estarmos montando parte desse quebra-cabeça que é a historiografia brasileira, que é o Brasil, porque não são uníssonas as vozes que ecoam por suas labaredas.
Abraço,
Rômulo Rossy Leal Carvalho (UFPI/CSHNB)
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ResponderExcluirO intelectual Julio de Mesquita Filho sem dúvidas deu uma importante contribuição para a construção do Pensamento Social Brasileiro, ao propor uma visão diferenciada do Brasil. Autores como ele proporcionaram uma visão de um Brasil plural e recheado de desigualdades e preconceitos. Jamais um Brasil igual e justo.
ResponderExcluirGraduando Rômulo Cardozo Coelho - Universidade Federal do Maranhão - UFMA