Adomiran
Moreira de Araújo Junior
Graduando
do curso de História da Universidade da Amazônia-Unama
Resumo:
Este artigo tem o objetivo de discutir os possíveis
usos de espaços públicos na cidade de Belém do Pará no ensino de história na
educação básica, nesta perspectiva propõem-se que estes espaços tenham relações
com o conteúdo de história. Mesmo a escola não possuindo estrutura para
deslocar os alunos a estes espaços, o professor pode introduzir no processo de
ensino/aprendizagem discussões sobre praças, monumentos e museus que façam
alusão a processos históricos, personagens e símbolos, no entanto este processo
não deverá reforçar uma história oficial, mas problematizar estes espaços e
fomentar nos educandos a possibilidade de relacionar os conteúdos de sala de
aula com a cidade de Belém.
Palavras-chave: Ensino de História, Espaços Públicos, Cidade de Belém
Introdução
Pretende-se
discutir as várias possibilidades dos usos dos espaços públicos (Praças,
Monumentos e Museus) da Cidade de Belém do Pará no ensino de história na
educação básica, esta proposta não se baseia somente na ideia de que esse
patrimônio material pode dar conta de abarca todas as dimensões possíveis de
analise nestes espaços, ao invés disso busca-se a problematização das
edificações construídas aos longos dos mais de 400 anos da capital paraense.
Vejamos o exemplo da cidade do Rio de Janeiro, como o que nos aponta Maria
Cecília Londres Fonseca.
Quando se olha, por exemplo, a Praça
XV, no centro do Rio de Janeiro, um dos ícones do patrimônio histórico
nacional, a evocação mais óbvia é a do poder real, suscitada pelo Paço
Imperial, sede da Corte. Ao fundo, a antiga catedral, hoje igreja de Nossa
Senhora do Carmo, atesta a importância, no Brasil colonial e imperial, do poder
da igreja. Esses são testemunhos materiais imponentes, tanto do ponto de vista
da ocupação e permanência no espaço da cidade, quanto dos padrões estéticos
hegemônicos, valorizados como expressões de cultura à época do tombamento
desses bens pelo SPHAN. Essa leitura da Praça XV, no entanto, está longe de
evocar plenamente o passado, a sociedade da época e a vida que se desenvolvia
naquele espaço. Poucos foram os registros que, como os deixados por Debret,
Hildebrant (FUNDAÇÃO....,2000) e outros, captaram ainda a presença, nesses
espaços, de mercadores, escravos domésticos, negros de serviço e alforriados,
enfim, da sociedade complexa e multifacetada que por ali circulava. (FONSECA,
Marília Cecília Londres, Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla de
patrimônio cultural, 2003, p. 56-67).
No
trecho acima é possível perceber que somente a análise estética das edificações
não é o suficiente para a compreensão ampla do que estes espaços representaram
e representam na história, devido a isso é fundamental a desconstrução da
história oficial, utilizando como referencial teórico a história problema
postulada pelos “Annales” no século XX. Podemos verificar conforme o
historiador Jacques Le Goff que a história deve partir do presente, ou melhor,
dos “problemas” do presente para a busca da compreensão do passado, isso
possibilita a superação de uma história “automática” por uma história
“problemática”. Diante disto esta pesquisa propõem-se a compreensão dos espaços
públicos como espaços não formais de educação que podem ser relacionados com a
disciplina de história na educação básica possibilitando que os educandos façam
relações entre a história do Brasil e a realidade local, além disso esta
proposta permite uma aproximação dos conteúdos de história com o cotidiano dos
alunos, pois os espaços, como por exemplo a Praça da República que é um espaço
que os moradores de Belém em algum momento de sua trajetória tiveram contato,
pode ser utilizado nas aulas de República, pois a praça apresenta diversos
símbolos da República, que podem ser utilizados pelo professor de história para
discutir o processo de mudança de regime político de império para república,
por que a praça foi denominada de República? Qual o significado dos símbolos?
Que governo construiu a praça? Em que contexto a praça foi construída? Como foi
o processo de implantação da República em Belém? Quais sujeitos ficaram alheios
a este processo?
Fonte: Almanaque Belém 400 anos
Espaços
Públicos como espaços não formais de Educação
O professor de História ao introduzir
em suas aulas essa relação entre os espaços públicos e os conteúdos da disciplina de história, precisa compreender
que estes espaços devem ser problematizados junto aos alunos e que as
informações que os educandos trazem consigo devem fazer parte do processo de
construção do conhecimento, como nos assinala Paulo Freire que toda ação
educativa deve ser fundamentada na participação popular em todas as fases do
processo de ensino/aprendizagem.
Além da discussão dos aspectos
históricos da praça, essa prática pode contribuir para o processo identitário
dos educandos com a cidade e a
aproximação da história ensinada em sala de aula com espaços que fazem parte da
vida dos alunos, com isso pode-se trabalhar o ensino de história, educação
patrimonial, formação cidadã e com isso a possibilidade dos educandos se
“enxergarem” como sujeitos ativos no processo histórico capazes de intervir no mundo
como assinala Paulo Freire em sua pedagogia da autonomia.
O professor que pensar certo deixa
transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no
mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo,
conhecer o mundo. Mas, histórico como nós, o nosso conhecimento do mundo tem
historicidade (FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia,
1996, p.15.).
Nesta
perspectiva os educandos precisão passar pelo processo de assunção do seu lugar
no mundo como sujeitos históricos, e o ensino de história vinculado ao
cotidiano dos educandos é essencial para este processo.
Igreja de Santo Alexandre como possibilidade
de análise da Inquisição na Amazônia
Fundada
em 12 de janeiro de 1616, Belém do Pará apresenta diversos vestígios materiais
de seu período colonial, andado por bairros como os da Cidade Velha e da
Campina, é possível visualizar construções que datam dos séculos XVII e XVIII,
além de diversas praças que guardam um pouco da memória da capital paraense.
Pensando nesses diversos espaços como locais potencialmente privilegiados para
o ensino de história na educação básica, propõem-se alguns exemplos para se
trabalhar na educação histórica. Vamos pensar em uma aula de história moderna
aonde o professor trabalhe com sua turma o processo de contra reforma católica
em oposição a reforma protestante, e diante disto propor uma analise da ação da
Santa Inquisição de Lisboa, mas pensando em uma relação com a cidade de Belém,
neste caso pode-se discutir com os alunos a ação da Inquisição em Belém do
Grão-Pará com a visita da mesa da Inquisição à cidade, está visita que ocorreu
entre os anos de 1763 e 1769 estabeleceu a mesa da Inquisição no Hospício São
Boaventura e depois na Igreja de Santo
Alexandre conforme apontamento do historiador Yllan de Mattos. Abaixo temos o
possível local de instalação da mesa da Inquisição na Igreja de Santo Alexandre,
aonde hoje funciona o Museu de Arte Sacra, no bairro da Cidade Velha em Belém.
Fonte: MATTOS, Yllan, A Última
Inquisição: os meios de ação e funcionamento da Inquisição Pombalina
(1763-1769). Niterói, 2009, p. 142.
Com
o exemplo da Igreja Alexandre como um registro material da história colonial do
Pará, pode-se problematizar este espaço em sala de aula, contextualizando a
construção da igreja que foi erguida a partir de principalmente mão-de-obra
indígena sobre a tutela dos jesuítas e as diversas funções da igreja ao longo
do tempo. Além disso abre-se a possibilidade dos alunos perceberem relações
entre a história “Geral” ou história da Europa com a cidade aonde eles vivem,
já que está metodologia proporciona o reconhecimento de relações entre Belém e
o ensino de História.
A Revolução Cabana representada na cidade
de Belém
A revolução social dos cabanos que
explodiu em Belém do Pará, em 1835, deixou mais de 30 mil mortos e uma
população que só voltou a crescer significativamente em 1860. Este movimento
matou mestiços, índios e africanos pobres ou escravos, mas também dizimou boa
parte da elite da Amazônia (RICCI, Magda
Cabanagem, cidadania e identidade revolucionária: o problema do patriotismo na
Amazônia entre 1835 e 1840, 2006, p. 6).
No trecho acima a historiadora Magda Ricci
aponta o caráter social da Cabanagem ou revolução cabana, movimento ocorrido
entre os anos de 1835 e 1840 quando o Brasil ainda era um Império. A memória da
cabanagem recebeu várias interpretações e continuidades, na cidade de Belém
temos ruas, bairros, praças e monumentos que homenageiam a revolução e os seus
principais líderes, dentre estes vários pontos da cidade este artigo destaca
dois o Museu Histórico do Pará e o monumento da Cabanagem, estes dois espaços
podem ser empregados nas aulas de Brasil Império nas discussões das revoltas do período
regencial, vamos começar pelo Museu Histórico do Pará que abriga uma exposição
permanente e um acervo com vários objetos
cabanos, além disso o Palácio Lauro Sodré foi palco da ação dos cabanos
que mataram o então governador da província e tomaram o poder em Belém.
O
museu histórico do Pará é um espaço que apresenta várias dimensões para o
ensino de história, e um local fundamental para discussão sobre a revolução
cabana. Outro ponto da capital paraense é o memorial da Cabanagem inaugurado em
07 de janeiro de 1985 em comemoração aos 150 anos do movimento cabano e
projetado pelo arquiteto Oscar Niemayer. Mesmo o memorial construído em período
posterior a Cabanagem, este memorial é espaço que apresenta uma carga simbólica
para o entendimento do movimento, pois conforme o próprio idealizador da obra
este monumento representa a luta de um povo que foi dizimado pelo império e
lâmina para o infinito aponta a infinitude da luta cabana, porém as rupturas na
lâmina demonstram o momento em que a revolução foi esmagada, no entanto a luta
do povo cabano continua viva na história e na memória, ou seja, a cabanagem
continua seguindo seu caminha infinito ao longo da história.
Fonte:
www.pportalparamazonia.blogspot.com
A
partir da analise do monumento e da contextualização da construção e dos
agentes envolvidos, é possível que professor e alunos possam construir relações
entre os ideais da revolução cabana e a carga de significados que o memorial da
cabanagem carrega.
Praça da República: Monumentos para o
Novo Regime
Com
a mudança de regime político em 1889 o Brasil deixa de ser uma Monarquia e
passa ter como regime político uma República, a adesão da província do Pará à República
ocorreu no ano seguinte. Na cidade de Belém o governo cria espaços e monumentos
para homenagear o novo regime, pois como assinala Jacques Le Goff os monumentos
são criados para homenagear feitos e vitórias.
No Oriente antigo, por exemplo, as
inscrições comemorativas deram lugar à multiplicação de monumentos como as estelas
e os obeliscos. Na Mesopotâmia predominaram as estelas onde os reis quiseram
imortalizar os seus feitos através de representações figuradas, acompanhadas de
uma inscrição, desde o III milênio, como o atesta a estela dos Abutres (Paris,
Museu do Louvre) onde o rei Eannatum de Lagash (cerva de 2470) fez conservar
através de imagens e de inscrições a lembrança de uma vitória. Foram sobretudo
os reis acádios que recorreram a esta forma comemorativa. A mais célebre das
suas estelas é a de Narãm-Sin, em Susa, onde o rei quis que fosse perpetuada a
imagem de um triunfo obtido sobre os povos do Zagros (Paris, Museu do Louvre) (LE GOFF,
Jacques, História e Memória, Campinas, 1990, p. 372).
Pensando
na problematização desses espaços o professor de história pode fomentar em sala
de aula a discussão em torno desse regime que se instalou no Brasil, a
República em que contexto, como se deu este processo e como o Estado utilizou
da história e de símbolos para legitimar a República e como uma praça do centro
da cidade pode servir como espaço educativo para a reflexão das várias
dimensões que este processo histórico apresenta. Começando pela própria
historicidade da praça que já foi armazém de pólvora, cemitério e no período
Imperial se tornou a praça Dom Pedro II e por último foi denominada de praça da
República, abaixo temos alguns dos monumentos que compõem o conjunto
arquitetônico da praça.
Fonte: Almanaque Belém 400 anos
A partir desses
monumento é possível que o professor levante questionamentos sobre os
significados e o discursso apresentado na praça, além disso a contribuição dos
alunos é primordial, visto que está praça no centro de Belém é um local de
encontros e memórias.
Considerações Finais
Este artigo buscou
criar possibilidades de utilização de uma metodologia no ensino de história na
educação básica, que seja fundamentada na História “problema” dos Annales e que
tenha relação com a cidade de Belém, ou melhor, com os diversos espaços públicos
que a capital paraense apresenta, nessa oportuniadade discutimos alguns espaços
como a Igreja de Santo Alexandre (Museu de Arte Sacra), Palácio Lauro Sodré
(Museu Histórico do Estado do Pará), Monumento da Cabanagem e Praça da República,
espaços que fazem alusaão aos períodos colonial, imperial e republicano. Com
isso o professor de História pode provocar nos educandos um processo de
reconhecimento dos conteúdos da disciplina de história com monumentos, praças e
museus de Belém e consequentemente uma vaalorização desses espaços, pois com
isso os alunos poderam traçar relações entre esses espaços e a História.
Referências
FONSECA,
Marília Cecília Londres, Para além da
pedra e cal: por uma concepção ampla de patrimônio cultural, 2003.
FREIRE,
Paulo, Pedagogia da Autonomia, 1996.
LE
GOFF, Jacques, A História Nova,
Martins Fontes, São Paulo, 1990.
_______________, História e Memória, ES editora da
UNICAMP, Campinas, 1990.
MATTOS, Yllan, A Última Inquisição: os meios de ação e
funcionamento da Inquisição Pombalina (1763-1769), Dissertação (Mestrado em
História) Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.
RICCI, Magda, Cabanagem, cidadania e identidade
revolucionária: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840,
2006.
Boa tarde,
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho!
Discutir sobre as possibilidades dos usos dos espaços públicos para o ensino de história na educação básica é motivador, pois fomenta mudanças de postura da prática docente, e é instigante pensar nos espaços públicos como patrimônio material de problematização para a educação não formal de períodos históricos vividos por nossos antecessores que podem possibilitar ao professor novo fazer docente permitindo aos alunos relacionar a história local com a universal na busca da compreensão do passado. Seu trabalho traz uma nova perspectiva para a prática docente nas aulas de história, seu texto é claro e estimulador.
Boa tarde!
ExcluirMuito obrigado pelo comentário.
Esse texto nasceu a partir da ideia de que de alguma forma a História poderia contribuir para apropriação por parte dos educandos dos espaços públicos de Belém, visto que a maioria da população desconhece os significados que estão por trás desses patrimônios materiais, diante disto o professor de História pode discutir em sala de aula estes espaços e consequentemente causar uma aproximação dos conteúdos da disciplina histórica com a realidade local.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirIsso mesmo, o professor tem a possibilidade de desenvolver a aproximação dos conteúdos disciplinares com a história e a realidade local que é desconhecida por muitos.
ExcluirNazaré do Socorro Bitencourt Viegas.