‘QUEM FOI DE AÇO NOS DE CHUMBO? BRASIL CHEGOU A VEZ DE OUVIR AS MARIAS, MAHINS, MARIELLES, MALÊS’: AS DISPUTAS EM TORNO DO ENSINO DE HISTÓRIA NO BRASIL HOJE
Davison Hugo Rocha Alves
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.
Doutorando em História Social da Amazônia/UFPA.
davison.rocha@unifesspa.edu.br
Resumo: A comunicação
pretende debater os caminhos do ensino de História após a promulgação da lei nº 11.645 de 2008 que
coloca em questão o debate em torno das
identidades na sociedade brasileira, bem como as perspectivas de currículo, de
ensino-aprendizagem e de formação para a cidadania pensada a partir do desfile
da Mangueira ‘História para ninar gente grande’ (2019). Queremos compreender a
relação ensino, história pública e mídia no processo de aprendizagem
multicultural. A tese que se quer defender nesta comunicação é que existe uma
disputa em torno do ensino de História no Brasil hoje, duas concepções de
História diferentes estão em jogo no currículo escolar, são elas: a história da
sociedade para debater as identidades, e de outro lado, a história-nação que
perpetua um ensino nos construtores da nação brasileira.
Introdução
Presente,
assim começa o desfile da escola de samba da Mangueira de 2019 que teve como
enredo “História para Ninar Gente grande”. O carnavalesco Leandro Vieira leva
para avenida Marquês de Sapucaí o debate sobre as identidades e o ensino de
história hoje. Escrever uma nova história do Brasil partindo da biografia de
líderes indígenas e africanos. O enredo da escola de samba é um olhar para a
história do Brasil a partir das páginas ausentes, ou seja, a história de
índios, negros e pobres que não estão presentes nos livros didáticos. São as
histórias da gente brasileira que não se aprende na escola, é a história de Sepé
Tiajaru, Cucunhambembe, Tereza de Benguela, Dandara de Zumbi que não tiveram o
seu protagonismo dentro desta narrativa escolar. A comissão de frente
intitulada o país que não está no retrato, vem apresentar as disputas em torno
duas concepções de ensino de História no Brasil hoje. O carnavalesco Leandro
Vieira para construir o samba-enredo ‘Histórias para ninar gente grande’ ele
reencontrou professores de História, bem como se dedicou a leitura de teses e
dissertações que é o que tem sobre os temas pesquisados para construir a sua narrativa
sobre a História do Brasil.
Os
heróis emoldurados estão nos quadros, nos museus, nos livros didáticos, nos
espaços públicos, na memória do povo brasileiro. Os vultos históricos que estão
perpetuados nesta narrativa oficial são eles: a princesa Isabel, o bandeirante
Domingos Jorge Velho, o marechal Deodoro da Fonseca, o imperador Dom Pedro I, o
missionário José de Anchieta e o ‘descobridor’ Pedro Álvares Cabral. Ao lado de
fora desta narrativa estão os índios e os negros, que são excluídos e esquecidos
nos quadros, monumentos e placas de ruas dentro do espaço público. Ao longo do
desfile da Mangueira eles contestavam a notoriedade e a importância que a
narrativa oficial concedeu aos seis heróis emoldurados, bem como tentar mostrar
que a gente desconhece a resistência e a história do povo brasileiro a partir
de um olhar de negros e índios em relação ao que foi feito com esses dois
grupos étnicos, ou seja, a história de massacre que foi executado pelos
colonizadores.
Durante
o início do desfile a comissão de frente intitulada ‘eu quero um país que não
está no retrato’ apresenta os heróis emoldurados, eles saem dos quadros e
aparecem pequenos, a mensagem que a escola de samba queria demonstrar é que a
história deles fossem pequenas para merecer esse destaque dentro da narrativa
didática escolar em relação a história de índios e negros. O debate que a
escola de samba da Mangueira acaba trazendo para o carnaval de 2019 é o perigo
da história única, ou seja, a história contada a partir da ótica dos vencedores
que possui no centro da narrativa escolar o eurocentrismo.
Neste
sentido, a busca de novas histórias para o espaço precisa ser contada agora
pela ótica dos povos considerados subalterno dentro da história do Brasil. O
debate que está colocado dentro do ensino de história hoje é o lugar dos
sujeitos dentro da narrativa histórica escolar, ou seja, colocar os discursos
hegemônicos bem como as nossas próprias crenças como leitores e produtores de
saber e de conhecimento (SPIVAK, 2010). Queremos debater neste artigo a importância de
compreender a História para o recente debate sobre a diversidade multicultural
brasileira.
A
lei 11.645 de 10 de março de 2008 foi sancionada pelo então presidente da
república Luís Inácio Lula da Silva. A referida legislação educacional altera a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 9.394 de 1996, sendo modificada
pela lei 10.639 de 9 de janeiro de 2003, para incluir na rede oficial de rede
de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura afro-brasileira e
Indígena”. Portanto, constituindo-se de dois artigos a lei altera o artigo 26-A
da Lei nº 9.394 de 1996 que após a lei 11.645 de 2008 passa a ter a seguinte
redação:
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e
de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história
e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este
artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a
formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais
como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos
povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o
índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas
áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura
afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito
de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de
literatura e história brasileiras.” (BRASIL, 2008).
O
que queremos debater com esta apresentação é a seguinte interrelação educação,
ensino de história e a problemáticas do nosso tempo que tem evidências diretas
no espaço escolar partindo da perspectiva decolonial. Um momento em que a
sociedade brasileira passa por uma crise de valores, tem avanço das ideias
conservadores e de negação do outro é importante e urgente repensarmos o lugar
das identidades dentro do processo de ensino e aprendizagem em História. O
desfile da escola de samba da Mangueira apresenta esse olhar para o passado
brasileiro apresentando uma leitura da História do Brasil a partir de sujeitos
históricos que tiveram uma atuação dentro do seu tempo, seja de resistindo as
políticas públicas e reafirmando o
protagonismo de determinados grupos sociais.
Pretendemos
abordar os temas que o desfile da Mangueira demonstrou como elemento central
para ser problematizado pelo professor durante as aulas de História.
Pretendemos apresentar uma leitura do passado brasileiro de acordo com os temas
escolhidos pelo carnavalesco Leandro Vieira para recontar a História do Brasil.
Ou seja, o que ficou evidente foi a perspectiva de se ter uma outra compreensão
da contribuição de índios e negros dentro dos processos históricos desde a
colônia até os dias atuais.
O
desfile da Mangueira neste sentido apresentou uma forma de ver o mundo, de
experienciar e de particularizar dentro deste processo. O imaginário europeu criado sobre os
territórios a serem conquistados e colonizados permitiram uma invizibilização
dos sujeitos, desta forma apoderando-se de seus corpos, de suas mentes e de
suas terras em todos os aspectos, com a finalidade de construir uma empresa
colonial calcada na submissão e na exploração destes territórios latino-americanos.
A
relação da História com seus públicos está no centro do debate que o desfile
tentou apresentar, podemos perceber que a Mangueira ao apresentar a lei nº
11.645 de 2008 que tornou obrigatório o ensino da cultura afro-indígenas nos
espaços escolares brasileiros de forma didática vem demonstrar a importância da
História que para além de ser uma prática científica ela é uma prática social
presente dentro da sociedade. O debate que se coloca quando se aproximam
ensino, história pública e mídias é o de compreender que o conhecimento
histórico precisa ser problematizado no nosso tempo a partir do uso de recursos
midiáticos e tecnológicos, a fim de pensar formas que sejam inovadoras e que
promovam uma reflexão sobre a produção historiográfica que beneficia o ensino (FONSECA,
2016).
O
diálogo com a historiografia do tema proposto foi feito a partir da consulta de
obras produzidas pelos historiadores, bem como estes estão nas entrelinhas dos
carros alegóricos, alas e comissão de frente pensada pelo carnavalesco Leandro
Vieira. Portanto, a produção técnica desenvolvida pela escola de samba da
Mangueira e seu enredo Histórias para ninar gente grande (2019) está em
consonância com a narrativa produzida pelos profissionais que tem como
finalidade estudar o passado.
Houve até críticas de
que o desfile estava questionando o papel do professores de História e da
pesquisa histórica que não conseguem atingir um grande pública, mas esta
concepção foi desmistificada pelo produção técnica apresentada pelo
carnavalesco. Há uma possibilidade de se trabalhar os temas abordados pelo
desfile dentro das aulas de História do Brasil.
Desenvolvimento
Por
exemplo, a ala ‘cerâmica testemunha de um Brasil milenar’ apresenta as duas formas de ocupação da região amazônica
antes da chegada dos europeus, que são representadas pela cerâmica tapajônica e
pela cerâmica marajoara. A cerâmica tapajônica é considerada umas das antigas
provas de ocupação indígenas em nosso território. As peças tapajônicas
encontradas na região de Santarém estão datadas de 8.000 a.c e que indicam a
existência de uma sociedade organizada e complexa, ela possui costumes,
tradições, ritos e mitos. A cerâmica marajoara que habitou a região norte do
Pará entre os anos 400 a.c e 1.400 a.c, ela é também uma sociedade complexa que
possui muitos utensílios e urnas funerárias. Essa perspectiva é para demonstrar
que ‘desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento, tem sangue retinto e
pisado atrás do herói emoldurado’.
O desfile da Mangueira abre com as alegorias
dizendo Viva Tapajônicos! Viva Marajoaras!, evidenciando que quando ocorreu a
chegada dos portugueses já existiam no território denominado Brasil sociedades
complexas. As terras já eram ocupadas. O carro abre-alas denominado ‘mais
invasão do que descobrimento’ representa este momento da História do Brasil. Há
também a imagem de pinturas rupestres que foram encontradas na Serra da
Capivara no sudeste do estado do Piauí, onde existem ali vestígios de artes de
50.000 mil anos atrás. O objetivo do carnavalesco é demonstrar a seguinte tese:
a nossa história não começa em 1500, e nos bancos escolares aprendemos somente
a partir do conhecido ‘descobrimento’, ou seja, essa história cristalizada no
espaço escolar é do ponto de vista europeu, é uma história centrada no branco
colonizador. Não possui dentro dos livros didáticos de História as demais
versões da História do Brasil. O objetivo é problematizar a história oficial e
demonstrar que os livros didáticos não mostra o que existia antes da chegada
dos europeus e nem que foram os heróis anônimos que foram derrotados pelos
colonizadores mas que ajudaram a construir a história do nosso país, portanto, é
a história de índios e negros que não aceitaram a colonização simplesmente. A
ideia central construída por esta narrativa oficial é demonstrar que não
importava o que existia antes de 1500 em terras brasileiras.
O
protagonismo do índio Cunhambebe que no século XVI organizou uma resistência
contra o processo de conquista, ele foi chefe indígena que organizou e liderou
a Confederação dos Tamoios, ele combateu os portugueses que vinha para
escravizar os nativos no litoral do Rio de Janeiro, ele apresenta um apanhado
geral da História do Brasil para demonstrar que o nosso território era todo
ocupado por sociedades indígenas. Os índios Cariri localizados no nordeste se
uniram contra os portugueses que ocupavam as suas terras e vendiam os índios
como mercadorias, portanto, foi mais de meio século de conflitos entre os
invasores com os índios Cariri, foi a maior resistência feita contra os
bandeirantes, que eram os exploradores portugueses que tentavam invadir e
ocupar o interior do Brasil, bem como avançar as fronteiras da colonização para
o norte e o nordeste.
A
ala do Sepé Tiajaru é um guerreiro indígena que tentou evitar a chacina dos
Guaranis durante a invasão das aldeias que ficou conhecida como guerra
Guaranítica localizado lá no sete povos das missões, os europeus (espanhóis e
portugueses) acabaram se unindo para expulsar os índios Guarani que resultou no
Tratado de Tordesilhas. A sua terra ficou exatamente no meio do tratado
acertado pelos colonizadores. A ala Salve os caboclos de julho exaltam a
participação indígena no processo de emancipação do estado da Bahia, uma luta
que é ocorreu em 1821, no dia 2 de julho de 1821, portanto, um ano antes do
processo de independência proclamado por Dom Pedro I. Uma data muito importante
no estado da Bahia que é estudada nos bancos escolares. Os índios possuem um
protagonismo importante dentro da História do Brasil no sul, no nordeste, no
norte do nosso território e isto não aparece nos livros didáticos. Desde o
processo de conquista até os dias atuais ocorre o extermínio das sociedades indígenas.
A ala ‘genocídio indígena no Brasil’ destaca que era uma obscura e escondida de
nossa História. O carro alegórico denominado ‘o sangue retinto por trás do
heróis emoldurado’ ele é uma reprodução do monumento às bandeiras em São Paulo,
é comum encontrarmos nos livros didáticos de História os Bandeirantes como
desbravadores, como heróis, e ele questiona essas expedições ocorridas pelo
Brasil colônia que serviu tanto para fazer a exploração do nosso território
quanto para a busca de riquezas, bem como para a capturas de indígenas ou de
africanos que foram escravizados de 1500 e que tinham sumido.
Então,
nesta perspectiva o desfile da Mangueira é uma releitura da História do Brasil,
pois, ele questiona o papel do herói dentro da narrativa oficial onde ele ocupa
um espaço onde já existem civilizações no território brasileiro. As Bandeiras
são tidas como um exemplo de desenvolvimento e de progresso que foi dizimando
populações indígenas inteiras. O desfile da Mangueira neste contexto destaca o
ponto de vista eurocêntrico que coloca o português como desbravador e herói.
O
desfile demonstra que o processo de abolição não ‘veio nem do céu e nem das
mãos de Isabel’, conforme destaca a letra do samba enredo da Mangueira, foi um
processo de muita luta para que a corte brasileira aceitasse a emancipação do
negro. O movimento foi de muita luta e resistência, vale portanto destacar que
o Brasil foi o último país a declarar a abolição da escravatura. A ala ‘negro
quilombola’ foi composta por 300 integrantes da comunidade mangueirense. Desde
o início do século XVI já haviam registros de fugas de negros no Brasil
colônia.
A
formação dos quilombos serviu como pontos de refúgio, como espaços para se
abrigarem, para reconstruírem laços de família, para resgatar os laços
religiosos, os laços culturais para que não se perdesse no processo de
conquista do território brasileiro sobre o domínio português e depois no
formato de país-independente. O carro alegórico ‘o trono palmarino’ representa
a imagem de heróis negros, por exemplo, Dandara dos Palmares, Zumbi dos
Palmares e Alquatune Ezgondidu Mahamoud da Silva Santos. O quilombo é a
personificação da África, era para recriá-la e tudo aquilo que eles traziam de
herança para o Brasil. Os passistas vieram representando os heróis da
resistência Tereza de Benguela e José Piolho como rei fundador e liderança do
quilombo do Piolho que também era
conhecido como Quilombo do Quariterê. O Quilombo ficava localizado entre o rio
Guaporé na fronteira entre o Mato Grosso e a Bolívia, onde atualmente
localiza-se o estado de Cuiabá. As ações bandeirantistas ocorridas entre 1730 a
1795 fizeram com que o espaço fosse atacado e destruído, onde ele foi
assassinado e ela resistiu a ações dos bandeiras no referido período mencionado
acima. Tereza de Benguela era uma líder de grande qualidade política no século
XVIII.
A
ala das baianas representava as negras de ganho, elas podiam vender parte
daquilo que elas produziam, com isso parte do que produziam ficavam com os
senhores e partes ficavam com elas e com isso conseguiam comprar a liberdade. As
irmandades eram secretas e perseguidas, pois, era grupos de religiosos que
mantinham os laços com o continente africano. O levante malê que ocorreu no estado
da Bahia em 1835, ele foi um levante de negros mulçumanos, o movimento foi
reprimido com muita violência pelas tropas da Guarda Nacional, pelos civis e
pela polícia. O trono de Luiza Mahin vem logo em seguida demonstrando que se o
levante dos Malês tivesse tido êxito ela seria tida coroada rainha deste
levante.
A
ala tributo ao abolicionista o negro Luís Gama para representar o negro
intelectual, o negro pensante dentro da sociedade brasileira onde pouco se
comenta nos bancos escolares, ele era advogado e abolicionista Luís Gama que
era filho de um fidalgo português e de uma líder africana Luiza Mahin. O carro
alegórico ‘o dragão do mar de Acarati’, ele representa o estado do Ceará que 5
anos antes da princesa Isabel abolir a escravatura, este estado já havia
libertado todos os seus escravos. A ação começou com uma atitude muito simples
de um negro jangadeiro e pobre, o Chico da Matilde, eles realizavam o trajeto
do negro da praia até o alto mar para poder entrar no navio e ele começou a se
recusar, ele se recusou a levar os negros e por essa atitude ele ficou
conhecido como dragão do mar.
A
simbologia do navio negreiro como algo esplendoroso, que representa a África,
pois, carregava o conhecimento, o saber do
povo africano. Não sendo associado a dor e tristeza. Um navio negreiro
diferente que ressalta o dourado, pois, havia ali a cultura e os costumes do
povo negro, havia neste carro alegórico a religiosidade, a ancestralidade. Era
necessário ressaltar a opulência do povo negro. Era considerado um recipiente
da cultura negra em alto mar.
Considerações
Finais
A
lei 11.645 de 2008, a emergência de outras histórias, outras memórias
subterrâneas que estavam silenciadas no currículo escolar aparecem no desfile
da Mangueira de forma didática. A mensagem que ficou ao longo do desfile é que
diante do atual contexto político, social e educacional pelo qual passa a
sociedade brasileira é urgente que se quebre o silêncio sobre a efetiva
participação de negros e índios dentro da história do Brasil.
Era
necessário não somente colocar os índios e negros no lugar da história oficial,
ou seja, de representá-los dentro desta nova narrativas escolar. Um exercício
de história pública que alia elementos como História, identidades e processos
culturais diversificados dentro da sociedade brasileira. A perspectiva de
construir uma história da sociedade brasileira em que sejam representados
índios, negros e pobres 11 anos depois da lei 11.645 de 2008 podemos afirmar
que ela foi colocada em prática.
O
debate que está posto pelo desfile da escola de samba da Mangueira é o de
reconhecer a necessidade de construir novos significados para a História do
Brasil, e a sala de aula a partir do professor de História assume um papel
importante para desconstruir as narrativas eurocêntricas e que possuem um viés
homogeneizador para contar a história do
nosso país.
Referências
BRASIL.
Lei 11. 645 de 2008. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm > acesso em
14 de jul. 2019.
FONSECA,
Thaís. Ensino, mídia e história pública. IN: MAUAD, Ana Maria; ALMEIDA, Juniele
Rabêlo de; SANTHIAGO, Ricardo (orgs.). História pública no Brasil:
Sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016, 348p.
G.
R. E. S. Estação Primeira de MANGUEIRA. Histórias para ninar gente grande.
LIESA, Rio de Janeiro. 2019. pp.307-389. [Abre-Alas] < Disponível em https://liesa.globo.com/2019/por/03-carnaval/abrealas/index.html > acesso em
10 jul. 2019.
SPIVAK,
Gayatri. Pode o subalterno falar? Editora UFMG: Belo Horizonte, 2010.
Olá Davison Hugo. Foi de extrema importância essa sua análise com relação ao samba enredo da mangueira, já que foi um acontecimento de grande valia para o contexto social brasileiro, pois evidência para a sociedade uma perspetiva nova na forma de pensar e observar a história brasileira. Porém no tocante a lei 11645/08 ainda se presencia uma série de problemas para sua atuação de maneira eficaz. Sabendo disso gostaria que você indica-se dentro desses novos moldes de se ver a história, como seria possível disseminar atributos novos em uma sociedade que ainda é presa em amarras ideológicas tão atrasadas?
ResponderExcluirObrigado pela atenção
Comentado por: Ruan David Santos Almeida/acadêmico do CESC/UEMA.
Obrigado pela leitura do texto Ruan Almeida. O desafio do professor de História é de apresentar a heterogeneidade que forma o povo brasileiro. Concordo com a concepção de que na escola professores e alunos criam saberes próprios, eles são influenciados e influenciam por diversos tipos de saberes (acadêmicos, eruditos e não-eruditos). O desfile da Mangueira apresentou de forma didatizada a importância de construir uma alternativa a História Oficial apresentando uma leitura do passado possível de ser ensinada, pois, aprendemos com os outros direta ou indiretamente por meio dos produtos culturais. A mídia pode ser enquadrada como um veículo de informação e conhecimento sobre o passado e que está acessível ao aluno para além do livro didático de História. Ela pode ser vista como uma ferramenta pedagógica importante dentro do processo de aprendizagem em História.
ExcluirMuito bom seu artigo Davison Hugo, ele apresenta questionamentos pertinentes em relação ao ensino de História e desconstrói a visão eurocêntrica que esta presente na História do Brasil, trazendo uma nova perspectiva , além de ressaltar os personagens que a história desconsidera como o Negro, o Indígena, o pobre entre outros. Sua análise do Samba enredo é interessante , pois de um fato tão atual pode-se analisar todo um passado, fatos históricos , personagens. Em relação a lei 11645/08 acredito que ela contribui para que a história dos Indígenas e negros seja evidenciada e que estes participaram da história do Brasil. No entanto o que causa inquietude é quando é citado que os livros não retratam essa história, o que nos a questionar quando efetivamente poderemos ver essa história relatada nos livros didáticos ? Por gentileza se puder indicar autores ou livros que trazem essa nova abordagem sobre os fatos históricos .
ResponderExcluirGrata;
Comentado por : Aline Cássia Mazutti / Acadêmica da DEAD/ UNEMAT
Obrigado pela leitura do texto Aline Mazutti. Acredito que o desfile da Mangueira apresenta uma leitura da História do Brasil que deixa uma mensagem bem clara para o Brasil recente. Precisamos debater a história da sociedade dentro das aulas de História. Os livros didáticos de História ainda apresentam a história da sociedade muito ainda relegados a boxer, apêndices ou para saber mais. Penso que ela tenta recontar a História do Brasil sobre o mesmo espaço. Incluindo personagens, eventos históricos para o centro da narrativa didática e não para que ela fica as margens do livro didático. A comissão de frente destaca isso, não basta somente fazer uma revisão nos livros que fica as margens do debate histórico e os lugares de memória como museus, praças e espaços perpetuarem ainda uma História Oficial. O duplo presente na comissão relata isso na comissão de frente, quando nos afirma que eles estão hoje presentes na sociedade brasileira e querem que sua História seja o centro desta narrativa escolar.
ExcluirDavison Hugo, o seu trabalho me fez refletir sobre a importância do ensino de história no contexto em que estamos vivenciando, cada dia e cada minuto a história e seu ensino vem sendo massacrados por perspectivas conservadoras e não reflexivas. No entanto, seu trabalho nos traz a possibilidade de repensar não só o ensino de história, mas a ideia de uma história pública que dialogue com sujeitos historicamente esquecidos. Nesse sentido, fiquei a pensar: já pensou uma história contada nessa outra perspectiva? O que o desfile da Mangueira tem a nos ensinar enquanto professores de história? Gostaria que você falasse um pouco dos teóricos que ajudaram a pensar essa temática.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho!
Comentado por: Michelle Araújo Dias - UEMA - Caxias / CEAD UFPI.
Obrigado Michele Dias pela leitura do texto. O debate que desenvolvi foi com a perspectiva decolonial a partir do teórico Walter Mignolo em que ele tenta construir um pensamento crítico a partir dos estudos subalternos diante da modernidade dos estudos capitalistas. Na tentativa de construir um projeto teórico transdisciplinar que se caracteriza como força política para se contrapor a hegemonia eurocêntrica dentro dos estudos históricos. Neste sentido, pretendi estabelecer uma relação entre estudos decoloniais, ensino e História Pública para perceber que é possível ensinar a história da sociedade brasileira, como o desfile da Mangueira apresentou de forma bem didatizada. Outro autor que utilizei para pensar a História Pública e Ensino de História foi Rodrigo Ferreira que debate a relação por entender que para além da sala de aula existe um consumo dentro da sociedade brasileira de uma leitura do passado veiculada por meio de narrativas e suportes não-escolares e/ou historiográficos mas que podem dialogar com este meio de acesso ao conhecimento histórico que é a escola. Devido os limites do texto não pude explorar mais os debates teóricos que me fizeram pensar a relação ensino, carnaval e História Pública.
ExcluirParabéns Davison, pelo trabalho. Como você acredita que iniciativas como o desfile da Mangueira podem ser discutidas no ensino de História e despertar um maior interesse dos alunos pela disciplina?
ResponderExcluirAndreia Rodrigues de Andrade. Cead/UFPI. UESPI.
Andreia Andrade obrigado pela leitura do texto. Considero que o desfile da Mangueira é uma leitura do passado veiculado pela mídia para um grande público que não se limita ao público escolar mas que dialoga com ele, haja vista que o acesso ao passado não se dá somente pelos bancos escolares, mas acontece em todos os aspectos da vida social. Ele desperta o interesse pelo passado a partir de suas páginas ausentes na narrativa oficial nos bancos escolares. O desfile fez o diálogo com a historiografia, com o professor de História e com os historiadores quando em sua sinopse ele apresenta uma pesquisa feita sobre os personagens que irão apresentar durante o desfile. A História está todo em lugar nos museus, nas praças, nas ruas, nas cidades, nas memórias, nas histórias escolares, nos espaços privados e públicos, nos quintais, na alimentação, nos vestimentos, na cultura material, nos desfiles carnavalescos, nas exposições, etc .. o professor pode e deve usar estes objetos culturais dentro do processo de ensino, ele enriquece a narrativa didática apresentada pelo livro de História, ao mostrar outras formas de acesso de passado.
ExcluirDavison, parabenizo pelo artigo muito bem escrito e provocador, tanto quanto o samba-enredo da Mangueira em relação à busca de uma nova história do Brasil ou uma nova forma de ensinar história. Concordo em gênero, número e grau sobre a necessidade da decaída urgente de “heróis” que, muitas vezes, estão mais para vilões na nossa História. Mas, deixo também uma provocação no ar: Será que precisamos tanto pautar o ensino de História em cima de heróis, sejam eles do lado dos vencedores ou dos vencidos?? Acho fundamental conhecermos a nossa história real, aquela feita pelo povo brasileiro e de figuras que começam a ser destacadas aos poucos e ainda muito timidamente, mas será que é esse ou somente este o caminho?? Primeiramente, é urgente a necessidade de mudarmos isso. De repente, colocando a história de anônimos, mas será este o caminho para um ensino de história ideal? Qual sua opinião?
ResponderExcluirBetsy Bell Praia Morais – História – UFAM.
Betsy Bell obrigado pela leitura do texto. Penso que os heróis anônimos que fizeram a resistência ao projeto colonizar português e atualmente ao projeto de Estado neoliberal excludente que privilegia o capital e não a identidade cultural do povo brasileiro é o debate central que o desfile quer apresentar. Ele coloca a história de determinados grupos sociais inviabilizados dentro da narrativa histórica. A história do povo brasileiro também pode ser contado por esses heróis anônimos, que estão próximo da identidade e da realidade do aluno dentro do espaço escolar. Recontar esta narrativa a partir de outra ótica (heróis vencidos) e que apresenta uma leitura do passado possível de ser ensinada.
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