Francisca Verônica Cavalcante (UFPI)
Departamento de Ciências Sociais
Programa de Pós-graduação em Arqueologia
Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Introdução
Os
três espaços religiosos afro-brasileiros de Teresina dos quais nos ocuparemos
neste artigo são os seguintes: o primeiro, denominado Terreiro Ylê Oyá Tade, é parte de uma pesquisa
que teve início no ano de 2017 e que não foi desenvolvida plenamente, dentre os
motivos, destacamos os de ordem operacionais, de financiamento, portanto, é
importante enfatizar que ela ainda encontra-se em desenvolvimento e em estágio
bastante incipiente. Intitula-se “As religiões de matriz africana no Piauí:
intolerância religiosa e patrimônio cultural”. Os dois outros espaços
religiosos são: barracão Ilê Axé
Opossorofadacá e barracão da Associação Santuário Sagrado Pai João de
Aruanda - ASPAJA são parte do campo empírico da pesquisa intitulada “A Condição
Juvenil em Teresina” e marcadamente do subprojeto denominado “Religiosidade e
Juventude em Teresina”, realizada no período 2007 a 2009, financiada pelo CnPQ,
FAPEPI e UFPI.
O
problema que destacamos aqui é compreender como podemos estabelecer diálogos
entre os campos de conhecimentos da antropologia e da arqueologia religiosa
tomando como referências espaços religiosos de religiões de matriz africana
para pensar a questão do patrimônio cultural religioso e do desrespeito
religioso ou da intolerância religiosa ou do racismo religioso.
Para dar conta desse objetivo utilizamos o método etnográfico,
refletindo sobre espaços religiosos a partir de pesquisas já realizadas e ou em
andamento. Uma vez que a observação durante a pesquisa de campo das referidas
investigações mostra-se um momento por excelência para observação da
organização social, mitos, práticas ritualísticas e das identidades religiosas.
O nosso diálogo teórico está construído a partir dos seguintes autores:
Regina Abreu, Gilberto Velho, José Reginaldo Gonçalves, Vagner Gonçalves da
Silva, Teresinha Bernardo, Roberto DaMatta, Joanice Conceição, Pedro Paulo
Funari, Guimarães, dentre outros. As considerações mais relevantes desta
reflexão levam a compreensão de um olhar bastante preconceituoso, etnocêntrico
por parte da sociedade piauiense para com as/os religiosas/os e para a cultura
religiosa afro-brasileira no Piauí.
Incursões
no universo das pesquisas sobre religiões de matrizes africanas em Teresina
Refletir sobre Antropologia e Arqueologia Religiosa tomando
como foco espaços de religiões afro-brasileiras é um exercício de alteridade e
de desnaturalização das ideias de patrimônio cultural religioso que se
encontram presentes de forma expressa e manifesta em diversas situações em
nosso cotidiano e que evidenciam um olhar para a cultura religiosa brasileira
extremamente cristianizada.
O objetivo principal da pesquisa intitulada “As religiões
de matriz africana no Piauí: intolerância religiosa e patrimônio cultural” é
compreender como os adeptos de religiões de matriz africana no Piauí atribuem
aos espaços religiosos dos quais participam o estatuto de patrimônio cultural
piauiense. Os objetivos específicos são: mapear três dos espaços mais antigos
de religiões de matriz africana existentes em Teresina; conhecer experiências
de intolerância religiosa vivenciadas por adeptos desses espaços. O estudo faz
uso de métodos e técnicas das ciências sociais, dentre elas os recolhimentos de
entrevistas, imagens fotográficas, fílmicas, observação participante e
construção de um caderno de campo.
Os objetivos da pesquisa intitulada “A Condição Juvenil em
Teresina” e marcadamente do subprojeto denominado “Religiosidade e Juventude em
Teresina” foram construir referências de análise acerca dos jovens integrantes
da população teresinense no que concerne à religiosidade, aos modos de vida
afetivo-sexual, aos coletivos juvenis, ao trabalho, ao lazer e à educação, aos
quais tiveram coordenadores e equipes de pesquisadores diferentes
constituindo-se ao todo em seis subprojetos abordando as temáticas citadas.
A pesquisa utilizou-se de diversas técnicas e metodologias,
partindo de abordagens quantitativas e qualitativas. Comum a todos os
subprojetos são as seguintes: aplicação de survey,
construindo uma amostra probabilística da população jovem de Teresina, por
unidade de domicílio no perímetro urbano da cidade e, no tocante a qualitativa,
registrou-se diversas técnicas, obedecendo à demandas de cada subprojeto. São
elas: oficinas, observação direta e participante; recolhimento de imagens
fotográficas e fílmicas; recolhimento de entrevistas semiestruturadas,
individuais e grupais.
Terreiro Ylê Oyá Tade , Barracão Ilê
Axé Opossorofadacá e Associação Santuário Sagrado Pai João de Aruanda –
ASPAJA
O Terreiro Ylê Oyá
Tade , fundado em 1968, pelo Babalorixá Adilton de Iansã, iniciado na
umbanda por Pai Antônio Bispo de Miranda e iniciado no candomblé de Nação
Angola no terreiro do Babalorixá Miúdo do Tingongo, em Vasco da Gama, Salvador,
casa de umbanda e que a partir de 2014 passou a trabalhar com candomblé, cujo
objetivo é promover a caridade, a inclusão social, particularmente de jovens, a
casa desenvolve projetos sócio-culturais que objetivam a preservação da cultura
africana no Brasil, como o grupo de capoeira, dança e percussão denominado
Cultural Magia das Três Raças, o Café de São José, oferecido a pessoas que
vivem nas ruas, distribuição de cestas básicas, palestras educativas abordando
vários temas como saúde, África, idosos, candomblé e da umbanda, disponibiliza
serviços de assistência jurídica aos adeptos e comunidade em geral que por eles
não pode pagar Com cerca de 150 adeptos, a maioria deles presente no terreiro
desde a sua fundação, conta também com um número significativo de jovens recém
ingressos no espaço religioso.
O
Barracão Ilê Axé Opossorofadacá, casa
de Oxalá, localizada no bairro Pirajá, fundada em 1985 por Pai Oscar de Oxalá
que esteve conosco enquanto liderança religiosa desta casa até agosto de 2014,
ocasião em foi morto. Filho da casa Branca Obatoni,
uma das mais tradicionais de Salvador com quem matinha estreitos laços assim
como com outros filhos de santo baianos, trazendo para suas festas babalorixás,
filhos e filhas de santo, ogans e pesquisadores adeptos ao candomblé.
Participavam desta casa até 2014, um baiano que era o ogan, as irmãs e
sobrinhas de Pai Oscar, dentre elas équedes e filhas de santos.
A Associação Santuário Sagrado Pai João de Aruanda -
ASPAJA. Localizada no bairro Santa Maria
da Codipi, fundada em 2004, por Pai Rondinele Santos, filho da casa Axé Abassá de Ogum casa de religião
afro-brasileira baiana que tem como liderança religiosa a Yalorixá Jaciara
Ribeiro. Casa de candomblé e umbanda, e a preservação das tradições religiosas,
uma ONG sem fins lucrativos que privilegia a juventude, a casa assiste cerca de
350 jovens pertencentes a Teresina e outros municípios do Piauí. É pioneira no
trabalho de conscientização e pesquisa sobre as religiões afro-brasileiras e
tem como paradigma os terreiros de Salvador, estabelece muitas trocas com filhos de santos
da capital baiana e a Yalorixá Jaciara
Ribeiro é figura presente em
muitas das atividades desenvolvidas pela casa. Tem desenvolvido campanhas sobre
a prevenção de hanseníase em parceria com a entidade MORAN; Pai Rondinele
também é presidente da rede Estadual de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde no
Piauí, em parceria com a Secretaria Estadual do Trabalho e Empreendedorismo
(SETRE) tem efetivado projetos que unem a valorização da cultura negra e a
capacitação de jovens para o mercado de trabalho como os cursos na área de
gastronomia, dança e serigrafia, realizados
recentemente.
Reflexões sobre o
campo da Arqueologia Religiosa
Para Felipe Guimarães e outros
pensadores o surgimento da Arqueologia da Religião como importante subárea da
Arqueologia ocorre nas últimas décadas do século XX e primeiras décadas do
século XXI. É considerada também um dos frutos de uma das maiores descobertas
arqueológicas do século XX: os Manuscritos do Mar Morto. Foram produzidos cerca
de 20.000 artigos sobre esta descoberta e foram engendradas novas teorias
voltadas para a compreensão das práticas religiosas do Judaísmo e do
Cristianismo. A investigação da religiosidade praticada na Antiguidade
possibilita o florescimento da Arqueologia Religiosa, notadamente, nos Estados
Unidos. Podemos considera-la “uma disciplina especializada na
análise de toda e qualquer descoberta, no campo arqueológico, que possua
conexões com a religiosidade”.
Neste sentido, esta comunicação sobre os espaços religiosos referidos
têm como objetivo sensibilizar e convidar pesquisadoras/es de antropologia, arqueologia
e áreas afins a conhecer um pouco da história desta subárea da Arqueologia
também denominada Arqueologia da Religiosidade a partir destas experiências de
pesquisas. A metodologia consiste basicamente na experiência antropológica e
arqueológica, através do contato, do manuseio, da visibilidade de objetos, de
paisagens, de sons, de imagens, especialmente, das fotografias e, das
entrevistas, das interpretações dos interlocutores, enfim, da fusão de
horizontes entre pesquisadoras e interlocutores que através deste estudo
manifestam e expressam a importância e a presença da arqueologia em conexão com
a religiosidade.
A arqueologia religiosa desenvolve suas teorias hermenêuticas tomando
como fonte principal a cultura material, que retrata, entre outros, aspectos
econômicos, políticos, militares, trabalhistas, familiares e religiosos, da
estrutura social, daqueles que se foram. Reiteramos que nas últimas décadas do
século XX e, principalmente, na primeira década do século XXI, uma nova
ramificação da “árvore arqueológica”, chamada Arqueologia da Religião (A.R),
começou a surgir na América do Norte e Europa, com o principal interesse de
investigar a religiosidade retratada na cultura material.
A
A.R. no Brasil surge como área consciente de si na segunda década do século
XXI, construindo uma identidade própria, dialógica, que associa,
principalmente, a pesquisa arqueológica à reflexão oriunda nas Ciências da
Religião.
Nesta
comunicação toma-se como referência a vivência das religiões afro- brasileiras
em Teresina nos espaços religiosos supracitados. Aqui também como nas outras
pesquisas da A. R. as teorias são construídas valendo-se da
pluridisciplinaridade, essenciais para o progresso da Arqueologia. Ou seja, não
dá para pensar este Campo investigativo longe de um diálogo, por exemplo, com a
física, química, matemática, história e antropologia. Uma vez que os achados
são mensuráveis, possuem dimensões, são formados por elementos químicos e
ocuparam um lugar na história.
Observamos
que ocorre uma profunda mudança no fazer arqueologia e a partir do século XX,
esta ciência ampliou seus horizontes e, cada vez mais, voltou-se para as
representações e para os símbolos. O sobrenatural, a mágica e tudo que diz
respeito aos sentimentos mais recônditos, passou a fazer parte do universo de
preocupações do arqueólogo.
A arqueologia definida, na origem, como estudo das coisas antigas, a
partir da etimologia, dedicada aos edifícios e objetos provenientes das antigas
civilizações, como a grega e a romana, tornou-se, aos poucos, parte dos estudos
das relações de poder a partir das coisas. Em comum, manteve a centralidade do
estudo do mundo material, das coisas, daquilo que pode ser tocado, transformado
e feito pelo ser humano, definido, por convenção, como cultura material.
Introduziram-se, ademais, os aspectos sociais e de poder,
das desigualdades e conflitos, para propor uma disciplina menos distante das
pessoas e mais útil tanto aos indivíduos, como às coletividades.Nas últimas
décadas do século XX e, principalmente, na primeira década do XXI, uma nova
ramificação da “árvore arqueológica,” chamada Arqueologia da Religião, começou
a surgir. Ela, também, é fruto de uma das maiores descobertas arqueológicas do
século XX: os Manuscritos do Mar Morto.
Depois
desta “revelação arqueológica”, entre 1947-1956, uma corrida na construção de
teorias, voltadas a compreensão do Judaísmo e do Cristianismo em sua fase
inicial, ou o chamado “Período do Segundo Templo”, foi inaugurada. Segundo
Roitman, especialista na investigação de Qumran, mais de 20.000 artigos foram
escritos só sobre esta descoberta.Este acúmulo de informações foi um dos
fatores que levaram os arqueólogos a envolverem-se, em maior intensidade, com a
investigação da religiosidade praticada pelo homem na antiguidade. Como
resultado, algumas décadas depois, principalmente nos EUA, ainda que de uma
maneira tímida, surge uma subárea da Arqueologia chamada Arqueologia da
Religião. Ela é uma disciplina especializada na análise de toda e qualquer
descoberta, no campo arqueológico, que possua conexões com a religiosidade que,
diga-se de passagem, são milhares.
O
primeiro trabalho escrito, prenunciando esta futura subárea da Arqueologia, foi
o livro de Finegan intitulado “Archeology of World Religions” no ano de 1952,
publicado pela Universidade de Princeton. O escrito contém um estudo histórico-
arqueológico de 10 religiões.Na década de noventa (1994), Colin Renfrew
escreveu o interessante artigo “The Archaeology of Religion”, publicado pela
Universidade de Cambridge. Aborda questões de natureza psicológica, o que foi
um grande salto relacionado ao estudo da compreensão da Cultura Material
vinculada a religiosidade, que denominamos de Produto Artístico da Religião (PAR).
Em
2005, Whitley e Gilpin publicaram um livro intitulado “Belief in the Past:
theoretical approaches to the Archaeology of Religion” no qual, além de
buscarem aproximar teorias biológicas e fenomenológicas à análise arqueológica
da religiosidade de tempos “primitivos,” os autores discutem a importância e
crescimento da área. Segundo os autores, está avançando, além de discorrem
sobre a negligência para com a A.R, valendo-se da constatação de que os
arqueólogos geralmente preocupam-se mais em obter informações socio-políticas
dos achados, relegando os aspectos da religiosidade, presente em grande parte
deles, a um segundo plano.
Porém, neste século, a A.R entrou em um “processo de
ascensão e ainda estar por revelar todo o seu potencial.”É notório que, nos
últimos quinze anos e especialmente nos últimos dez, vários livros que exploram
a religiosidade nas culturas passadas foram produzidos em língua inglesa,
principalmente na Europa e nos Estados Unidos, resultantes do trabalho de
consolidação da A.R. Esta constatação indica que existe um grande interesse
pela disciplina no cenário acadêmico internacional, o que a elevou a outro
patamar. Segundo David Edwards, “recentemente a Arqueologia da Religião passou
a ser um subcampo da Arqueologia.”
No Brasil, em 2013, enquanto desenvolvia pesquisas no âmbito
arqueológico no que tange à relação de I Enoque e as grutas de Qumran, matéria
da tese doutoral, Felipe Guimarães depara-se com uma lacuna no cenário
literário brasileiro: a total ausência de literatura que abordasse a disciplina
A.R, seja no que tange a pressupostos metodológicos ou mesmo resultados
oriundos dela. Diante da constatação o autor em questão publicou um livro sobre
o assunto, intitulado “Arqueologia da Religião: um convite.”
Até 2013, interessados em conhecer sobre a religiosidade, através de
uma ótica arqueológica nas Ciências da Religião, tinham como principal
ferramenta de trabalho, na literatura portuguesa, a Arqueologia Bíblia. Direta
e objetivamente, a A.R tem como finalidade última fornecer análises que
contribuam com a busca por compreensões da vivência do sagrado de uma
determinada coletividade, cuja existência deu-se em tempos passados, partindo
da cultura material relacionada à sua religiosidade. A A.R tem como objetivo
estudar a religiosidade que se expressa na cultura material. Sua atuação deve
concentrar principalmente em analisar os produtos
artísticos da religião, que se expressam de diversas formas na cultura,
produzindo teorias coerentes com os mesmos.
Patrimônio Cultural e Intolerância Religiosa, as casas de religiões
Afro-Brasileiras em Teresina
Transcorreu
pouco mais de três décadas, precisamente em 1984, quando pela primeira vez a
tradição afro-brasileira obteve o reconhecimento oficial do Estado Nacional
posto que o primeiro terreiro de candomblé Casa Branca foi tombado em Salvador,
Bahia, um dos membros e relator do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional neste processo foi o antropólogo Gilberto Velho que compartilhou esta
experiência em artigo (Ver. VELHO, Gilberto.2007) no qual reflete sobre a
questão da negociação e do conflito presente no processo de tombamento, mas
sobretudo o antropólogo chama a atenção para as transformações da categoria
patrimônio cultural daquele período aos dias de hoje. Lembramos que aquele
período o estatuto do tombamento era aplicado, basicamente, “a edificações
religiosas, militares e civis da tradição luso-brasileira” (VELHO, 2007, p.
249).
Como nos ressalta Gonçalves (2007) os chamados ‘patrimônios culturais’
sofreram uma “ilimitada expansão semântica expressa pela noção de patrimônios
intangíveis” (p.239). Trata-se de uma categoria antropológica que se “traduz
num instrumento de luta pelo reconhecimento público de grupos e de indivíduos”
(Ibidem). Pensar esses três espaços religiosos enquanto patrimônio cultural
piauiense, brasileiro nos parece algo muito distante, até utópico e o argumento
que justifica essa impressão diz respeito ao fato de que vivemos em uma cidade
e em um estado que é segundo o Censo de 2010 do IBGE o mais católico da nação e
o senso comum, muitas pessoas intelectualizadas habitantes da capital piauiense
acreditam que aqui só existem adeptos ao catolicismo e que o tombamento de um
terreiro, um barracão como patrimônio cultural em Teresina não se justifica.
Entretanto o mapeamento das comunidades de terreiros de Teresina
realizado em 2008 pela Coordenadoria dos Direitos Humanos e Juventude e
publicado pelo Núcleo de Estudos Ifaradá (Lima, 2014) põe em questionamento os
dados de autodeclarados pertencentes à umbanda e ao candomblé em Teresina que
se apresentam em número menor do que o número de terreiros existentes segundo o
referido mapeamento. Esse ocultamento, essa invisibilidade das religiões
afro-brasileiras na capital piauiense, além das questões do preconceito com os
seus fundadores (africanos escravizados), da dupla pertença religiosa e do
trânsito religioso, já pontuado por Reginaldo Prandi (2001) pensando as
religiões afro-brasileiras no Brasil como um todo, parece guardar um relação intrínseca, íntima com o
racismo e a intolerância religiosa. Os adeptos das religiões afro-brasileiras
ao se autodeclararem católicos ou pertencentes a outras religiões quando
pesquisados através dos levantamentos do IBGE seriam levados a esta postura por
medo da intolerância religiosa e do racismo?
Como
afirma Regina Abreu (2007, p.267) “A emergência da noção de Patrimônio com o
sentido de bem coletivo, legado ou herança artística e cultural por meio do
qual um grupo pode se reconhecer como tal - foi lenta e gradual”. Foi assim na
França onde o significado da noção de patrimônio é estendido para as obras de
arte e monumentos públicos num momento posterior a Revolução Francesa, quando a
população na avidez em destruir os vestígios do Antigo Regime chegava a propor
a destruição de bibliotecas. Em 1794, surge na França uma legitimação relativa
ao patrimônio considerando a sua não preservação ou destruição como crime
contra o patrimônio. A França torna-se exemplo para um movimento que se
processaria por toda a moderna sociedade ocidental. Assim, o significado da
noção de patrimônio passaria a figurar intimamente ligado a formação dos
Estados nacionais.
No
Brasil, durante o Estado Novo, em 1937 é criado o Serviço do Patrimônio
Artístico e Nacional que “instituía o tombamento, uma medida de proteção legal
de bens móveis e imóveis, capaz de conter as demolições de edifícios públicos,
considerados referências para a memória nacional”(ABREU, 2007, p.270). A partir
da criação deste serviço pode-se afirmar que houve uma “disseminação do
conceito de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional não apenas para outras
esferas do poder público como também para outros domínios da sociedade
civil”(Ibdem, p. 271). Isto é, os militantes do patrimônio nesta primeira fase
difundiram uma mentalidade patrimonialista que segundo Abreu (2007) ficou
fortemente associada as seguintes questões: a cultura material, a valorização
do passado e ao tema nacional.
Em 1947, com a criação da UNESCO, entidade internacional com sede em
Paris, cujo objetivo principal era a formulação de propostas e de recomendações
com vistas a difusão de ideais humanistas e antirracistas destacamos dentre as
medidas a criação de comissões nacionais de folclore e é neste contexto do
pós-guerra e da criação da UNESCO que em 1947 foi criada no Brasil a Campanha
de defesa do Folclore Brasileiro que teve um desempenho atuante até os anos de
1964, desenvolveu trabalhos sobre lendas, costumes, mitos, rituais, festas,
celebrações, saberes e modos de fazer artesanais, culinária, arte e cultura popular.
Destacamos ainda outra medida da UNESCO relativa à
convocação de especialistas de Antropologia Cultural, da Biologia, da
Antropologia Física para o estudo das diferenças raciais cujo objetivo era por
em evidência a não sustentação científica das tão difundidas teorias racistas
como a de Gobineau. Como um dos resultados destes estudos tem-se a coletânea
publicada na França e traduzida para o português com o título “Raça e
História”, de Claude Lèvi-Strauss, uma leitura imprescindível acerca da não
sustentação científica da noção de desigualdade racial e da necessidade de colaboração
das culturas, da importância da preservação da diversidade das culturas.
Na
referida obra Levì-Strauss chama a atenção para a questão da tolerância: “A
tolerância não é uma posição contemplativa, dispensando as indulgências ao que
foi ou ao que é. É uma atitude dinâmica, que consiste em prever, em compreender
e em promover o que quer ser”.(LÈVI-STRAUSS, ,1960,P.269). Tal afirmativa é
instigante para reflexões sobre a intolerância religiosa presente na
experiência vivida por religiosos candomblecistas e umbandistas teresinenses,
sujeitos das pesquisas “A Condição Juvenil em Teresina” e “As religiões de
matriz africana no Piauí: intolerância religiosa e patrimônio cultural”. Os
pensamentos que nos ocorrem são voltados para a subjetividade dos sujeitos pesquisados
quando experimentam as situações de intolerância reiteradas vezes presentes nos
seus relatos e a nossa própria experiência como antropóloga alvo de
intolerância por ser uma pesquisadora, a intersubjetividade, essa fusão de
horizontes nos faz compreender a profunda invisibilidade das religiões
afro-brasileiras em Teresina, dos seus adeptos, da intolerância e do racismo
velado, “não dito”, parafraseando
Teresinha Bernardo que caracteriza esta experiência não só no Piauí mas no
Brasil como um todo.
De
acordo com Abreu(2007), o então novo conceito antropológico de cultura é
trazido à tona e percebido em diferentes domínios do campo intelectual, como em
cursos universitários diversos, observa-se que é incorporado em instituições
específicas como é exemplo a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro
atualmente denominado Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Um dos
contextos sociais em que tal conceito é difundido é o das artes plásticas,
momento em que toda uma estética da chamada “arte popular” é chamada a
participar como uma manifestação cultural. No campo do patrimônio o artista e
designer Aluísio Magalhães, em 1979, assume a direção do IPHAN e propõe “a
associação do conceito antropológico de cultura às ações de uma política
pública para o patrimônio... com o ideal de abarcar a diversidade cultural ,
religiosa e étnica do Brasil” (Abreu, 2007, p.
274).
A
reflexão mais apurada sobre a ideia de tombamentos, do registro de danças,
cantos, do reconhecimento de comidas, indumentárias como bens e patrimônios
culturais dos terreiros e barracões aqui pesquisados nos faz pontuar a
importância de diálogos com uma literatura antropológica e políticas públicas
sobre patrimônio cultural vigente em nosso país há mais de três décadas e o
nossa contribuição como antropóloga pesquisadora desta temática que sem a
pretensão de esgotar o assunto gostaria tão somente de abrir a discussão
lembrando que a própria noção de patrimônio foi absorvida por diversos
segmentos sociais e que a mentalidade de patrimônio cultural existente deve ser
ampliada, inclusive para pensar o lugar que os barracões e terreiros de religiões afro-brasileiras ocupam em
nossa cidade, a sua materialidade e a sua imaterialidade.
Abreu (2007) chama a atenção para o fato de que “... dos anos setenta
para cá, dentro e fora do IPHAN, firmou-se uma mentalidade em prol da defesa da
diversidade cultural” (p.275). Assim, a mentalidade patrimonialista contempla
instituições do Estado, agremiações da sociedade civil, escolas e
universidades, dentro e fora do Brasil, em outros países ocidentais. Novas
formas de organização da sociedade civil, como as ONGs são partes integrantes
neste cenário de preservação patrimonial em que o Estado não atua mais sozinho
“na identificação, na seleção dos bens culturais a serem protegidos, tombados
ou valorizados”. (p.276)
Ainda é a autora que lembra que nos anos 2000, tem-se o
Decreto Federal nº 3.551 outra iniciativa desencadeada pela UNESCO e que
“institui
dois mecanismos de valorização dos chamados aspectos imateriais do patrimônio
cultural: o inventário dos bens culturais imateriais e o registro daqueles
considerados merecedores de uma distinção por parte do Estado. São considerados
bens culturais imateriais as festas, celebrações, narrativas orais, danças,
músicas, modos de fazer artesanais, enfim, um conjunto de expressões culturais
que não estão representadas pelo chamado patrimônio tangíveis ou de pedra e
cal” (ABREU, 2007, p. 277).
Para a Antropologia, a categoria patrimônio não permitiria dicotomia
entre o material e o imaterial, contudo, tal dicotomia tem sido mantida e
legitimada a partir dos artigos 215 e 216 da Constituição Federal de 1988 em
que está prevista a proteção aos bens culturais de natureza imaterial. Os
quatro livros de registros instituídos que se espera tenha força legal de
tombamento são: o “Livro dos Saberes”, o “Livro das Celebrações”, o “Livro das
Formas de Expressões” e o “Livro dos lugares”. O registro tem como entidade
responsável o IPHAN, com sua metodologia própria o INRC, o MinC, o Centro
Nacional de Folclore e Cultura Popular da Funarte.
Pensar
a questão da intolerância religiosa nos leva a constatação do aumento das
reações fundamentalistas em diversos países como, por exemplo, o atentado
terrorista islâmico ocorrido em Paris, França na última sexta feira, 13 de
novembro do corrente ano. No campo religioso brasileiro há um crescimento
acelerado das religiões evangélicas, das campanhas católicas como a Renovação
Católica Carismática, a presença do espiritismo kardecista, da umbanda e do
candomblé, as religiões orientais e o boom neo-esotérico que faz com cientistas
discutam, debatam e realizem análises sobre uma pluralidade e efervescência
religiosa que atropelam a tese de um processo irreversível de secularização
teorizado pelos clássicos das ciências sociais.
O crescimento do número de adeptos evangélicos e suas várias
denominações a partir dos anos de 1970 no Brasil fez surgir uma onda de
religiosos com forte poder midiático e político e também fez eclodir atos de
intolerância religiosa praticadas contra as religiões afro-brasileiras,
principalmente por parte dos neopentecostais. Data da fundação da Igreja
Universal do Reino de Deus a declaração de seu bispo Edir Macedo, de guerra aos
“orixás, caboclos e guias” numa clara alusão aos elementos rituais do
candomblé, da umbanda e do espiritismo. Jornais, revistas e mídias em geral
noticiam os constantes ataques sofridos pelas religiões de matriz africana,
como exemplo, o Chute da santa- episódio ocorrido
em 12 de outubro de 1995, transmitido pela rede de televisão Record, durante programa
religioso no qual o pastor da IURD chuta a imagem de Nossa Senhora Aparecida. A
relação da IURD com as outras religiões é vista como formas de lidar com a
diferença que pode levar como observa Ronaldo de Almeida (2007, p.187): “as
vias da intolerância dos ritos nas ideias e relações sociais face a face”.
Podemos observar que as manifestações de intolerância religiosa se
expressam e manifestam dentro e fora das religiões como, por exemplo, o
racismo, a homofobia está presentes no cotidiano da nossa sociedade. Marcelo
Natividade e Leandro Oliveira(2007) analisam como diferentes
religiões(pentecostalismo, catolicismo e afro- brasileiras) reagem à práticas
homossexuais de seus adeptos. “Os neopentecostais tem definido a
homossexualidade como um desvio de conduta que pode ser revestido com a
conversão, transformando-os em ex-homossexuais”. (p.262)
Hédio
Silva Júnior chama a atenção para o caráter legal da intolerância, pontua a
presença do tema nas constituições federais, particularmente, na atual de 1988.
O jurista enfatiza a necessidade de recorrer a justiça sempre que alguém sinta
o seu direito a liberdade de crença violado. Em Teresina, a própria partida de
uma das lideranças religiosas afro-brasileiras mais respeitadas fez a mídia
refletir sobre homofobia, homoafetividade e intolerância religiosa dentre
outras reflexões que ainda ressoam.
Em nosso artigo intitulado “Memória Afro-Brasileira,
Juventude e Festa” (CAVALCANTE, 2013), que trata dos resultados da pesquisa
intitulada “A Condição Juvenil em Teresina”, relativa especialmente ao
subprojeto denominado “Religiosidades e Juventudes em Teresina”, quando as duas
lideranças religiosas abordam questões relativas as edificações dos respectivos
barracões Axé Opossorofadacá e da
Associação Santuário Sagrado Pai João de Aruanda – ASPAJA parece pôr em
evidência a categoria Patrimônio Cultural, embora ela não tenha sido mencionada
de forma literal e nem tivesse feito parte dos objetivos daquela pesquisa.
Observa-se que os sujeitos ao se referirem as suas edificações, as construções
de “pedra e cal”, as “casas” enquanto espaços físicos que vão alterando as suas
paisagens e as do lugar onde estão edificadas, a medida que os religiosos
evocam suas memórias sobre fundação dos espaços religiosos, festas, rituais
construções estas são descritas com riquezas de detalhes em que reformas,
ampliações dos cômodos, apresentam-se como um testemunho do passar dos anos e
parece que acompanham, expressam e manifestam o crescimento e as mudanças que
vivenciam os próprios responsáveis pelos espaços religiosos e pelas religiões
ali vivenciadas. Somos tentadas a afirmar que os seus relatos estão repletos de
representações, significados que se apresentam como mais uma maneira de
explicar que aqueles espaços são patrimônios culturais, heranças culturais
deixadas por ancestrais e nas quais os sujeitos de cada um deles foram
designados por determinadas entidades para realizar a construção, a fundação e
execução do projeto espiritual.
Podemos
conferir no relato de Pai Rondinele Santos referindo-se ao espaço religioso
Associação Santuário Sagrado Pai João de Aruanda – ASPAJA por ocasião da
pesquisa intitulada “A Condição Juvenil em Teresina” apresentada no artigo
denominado “Memória Afro-Brasileira, Juventude e Festa” em que aborda a
determinação da entidade
para a construção do barracão
e a importância que o espaço
religioso tem para os religiosos Afro-Brasileiros conforme CAVALCANTE, 2013, p.
191:
O
preto velho diz que vieram para firmar e reafirmar os ensinamentos, tudo foi
eles quem criaram, essa é a mensagem que eles deixam para os jovens, essa casa
tem muito jovem, ela funciona com cerca de 350 jovens. O Santuário ele nasceu
também para buscar essa unificação dos terreiros, quando um noviço vai fazer ao
santo, todos os terreiros devem se reunir. Nós temos que entender que quando
chega na questão do Orixá nós temos que nos unir, deixar para lá a história de
política, temos que pensar na qualidade de vida do nosso povo, questão
socioeconômica e cultural.
Sobre intolerância religiosa Pai Oscar de Oxalá afirma no
capítulo intitulado “Religiosidades e Juventudes em Teresina” (2013, p.162):
Religião
pra mim é o que todo mundo defende como sendo a sua fé. Nós no candomblé
passamos por muitas discriminações, falta de apoio da mídia, falta
solidariedade, respeito à cidadania. De todos os movimentos religiosos os que
mais agridem a gente são os evangélicos. O lado social é muito pouco, entram
muito na política. Nós quando entramos no candomblé nós assumimos. Então, há
uma guerra nesse sentido. No candomblé existe sacrifício de animais, nada é de
maldição, tudo é de bênção. Nós somos muito perseguidos.
Em
entrevista realizada em outubro do corrente ano com um dos integrantes do
Terreiro Ylê Oyá Tade sobre a
edificação do espaço religioso o informante declara:
Aqui
começou, era bem pequeno, o terreiro era de chão batido, o Pai Adilton conta
que não tinha dinheiro para comprar a lavanda inglesa para perfumar a casa e ia
buscar na mata as ervas e pisava em um pilão e o terreiro ficava perfumado
porque nós cuidamos dessa casa com um bem de todos e se hoje ela está bem
iluminada, grande, bonita, cheirosa é porque a gente faz por onde porque no
candomblé e na umbanda é assim: recebe aquele que tem o merecimento. Nós quando
recebemos as entidades da casa como a Preta Velha Mãe Joana nós oferecemos o que podemos de melhor para ela.
Na mesma entrevista referida no parágrafo anterior o
informante do terreiro Ylê Oyá Tade quando
indagado sobre o seu terreiro podendo ser entendido como patrimônio cultural
argumenta que o espaço religioso é importante e representa grande bem para a
comunidade que sofre com a intolerância religiosa por parte da maioria da
população, inclusive habitantes do próprio bairro onde está localizado o
terreiro:
Nós
temos essa casa como nosso patrimônio, nós cuidamos dela, nós fazemos o bem,
nós prestamos assistência àquelas pessoas que não tem como ir ao médico, não
tem como pagar um advogado porque as pessoas da nossa religião, que são pobre e
negra sofre muito preconceito e necessita muito de ajuda.
Considerações Finais
Parece
que pensar patrimônios culturais e terreiros, barracões de candomblé e umbanda
em Teresina remete ao não reconhecimento por grande parte da população deste
marcador indenitário religioso. A religião afro-brasileira está presente na
capital desde a suas primeiras edificações lembrando Pe. Cláudio de Mello e
Monsenhor Chaves. Portanto, há de se ampliar a mentalidade patrimonialista e
estendê-la para além dos monumentos de pedra e cal, notadamente,
luso-brasileiras e fazer valer o legado cultural afro-brasileiro teresinense
contemplando a sua materialidade e imaterialidade.
Patrimônio
Cultural e Intolerância Religiosa e Arqueologia Religiosa quando o enfoque são
os espaços de religiões afro-brasileiras parecem três temáticas recorrentes nas
discussões atuais no campo da antropologia e da arqueologia e trazem à tona uma
pletora de preconceitos, de não-ditos como é o racismo, preconceito de cor no
Brasil (lembrando Oraci Nougueira, Roberto DaMatta e Teresinha Bernardo) que
explica a manifestação do racismo como hora a encobrir, ora a revelar, tratando
a questão das relações raciais ora fazendo o discurso que faz eclodir o mito da
democracia racial ora silenciando; a homofobia e a proposta de cura dos
homossexuais, por religiões neopentecostais, como se a homossexualidade fosse
uma doença.
A visão cristianocêntrica para pensar patrimônio religioso
piauiense, o que nos leva a enfatizar a importância de realizar investigações
arqueológicas, notadamente, no campo da arqueologia religiosa, para pôr em evidência
e registrar os bens culturais, a cultura material e imaterial das religiões
afro-brasileiras teresinenses. Portanto, uma maneira de divulgar os cantos, os
rituais, os objetos ritualísticos, as indumentárias, as “comidas de santo”,
todo um saber-fazer desta cultura religiosa que, a nosso ver, urge por
investigações mais aprofundadas no campo da arqueologia religiosa.
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAs religiões afro-brasileiras sofrem muito preconceito há muito tempo, pelo fato de serem religiões trazidas da África pelos negros escravizados, eram rituais proibidos praticados pelos negros, pois a nação brasileira até hoje é predominante católica. Muitos sem mesmo conhecer o Candomblé, a Umbanda já têm suas ideias pré-determinadas e as veem com maus olhos. O importante é que primeiro conheça, estude e analise, pois são religiões assim como as demais que formam parte da construção do conhecimento da nação brasileira, e acima de tudo valorizar e respeitar como patrimônio histórico nacional.
ResponderExcluirAutora: Raryelle Mauranna de Araújo Leal
Sendo sabedor que as religiões de matriz africanas tem uma marginalização e um preconceito já pré definido em sua conjuntura; que esta imbuído no imaginário da sociedade brasileira. Levando em consideração os seu estudo qual o melhor modo de abordagem desta temática fora deste campo acadêmico? em uma sociedade com suas ideias já consolidadas.
ResponderExcluirAssinado: Josiel Luis Franco de Andrade Carvalho.
Primeiramente deixo meus elogios a autora pelo belíssimo trabalho. Temos conhecimento do grande preconceito em relação as religiões de matriz africana, as causas estão enraizadas na história do povo negro, que remontam à escravidão, a não valorização da cultura negra. As religiões afro -brasileiras são cobertas de mitos para "demonizar" e insuflar o preconceito aos praticantes dessas religiões e por tanto, acredito que o racismo ainda é a causa fundamental dessa intolerância. Acredito que o acesso a informações através de pesquisas, estudos e trabalhos como este proporcionará mudanças de pensamento e conceitos pre estabelecidos sobre as religiões de matriz africana, construindo um caminho, ainda que longo, para a quebra da intolerância e do preconceito .
ResponderExcluirAutora: Ilmara Vaz Bastos
Primeiramente deixo meus parabéns pelo trabalho. Pensando na construção do sujeito histórico em sala de aula: de acordo com suas pesquisas e vivência, como podemos romper essa mentalidade preconceituosa, racista e exclusiva, levando em consideração que no decorrer do processo histórico essas matrizes já foram inseridas na cultura popular com um olhar descriminatório?
ResponderExcluirAgradeço-lhe
Edson dos Santos Ferreira Junior-UFAM
Boa Noite.
ExcluirEm relação ao presente trabalho quero destacar inicialmente que ele é bastante pertinente, pois, busca-se compreender como os adeptos de religiões de matriz africana no Piauí concedem aos espaços religiosos dos quais participam o estatuto de patrimônio cultural piauiense e para isso a autora deixa claro seu método de pesquisa que é o recolhimento de de entrevistas, imagens fotográficas, fílmicas, observação participante e construção de um caderno de campo.
Francielcio Silva da Costa-UESPI.
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ResponderExcluirBoa Noite.
ExcluirA partir da leitura que eu fiz de seu artigo. Me surgiu uma dúvida, por que a tradição afro-brasileira demorou tanto para ser reconhecida pelo estado nacional brasileiro? Sendo que é um país que tem uma população majoritariamente mestiça.
Francielcio Silva da Costa-UESPI.
A temática do artigo é de extrema importância, as religiões de matriz africana sofrem perseguições constantes. O homem europeu conseguiu deturpar e associar as religiões africanas a imagem do diabo, trabalhos como esse nos fazem refletir sobre opiniões enraizadas. O artigo tem uma leitura agradável e que pode ser usado nas aulas da educação básica.
ResponderExcluirJustamente, foram enraizadas opiniões equivocadas em relação á essas religiões africanas, enchendo-nos de preconceitos, pensamentos errôneos. Com isso, primeiro temos que saber corretamente como são essas religiões e respeitar.
ExcluirAutora: Raryelle Mauranna de Araújo Leal.
Trabalho muito bom. Vejo que é preciso atenuar a cultura do averso ao outro, é preciso perceber o outro em sua totalidade e assim, sua denominação religiosa vem junto. Devemos nos amar, nos entender, nos aceitar, por completo. Super interessante a menção dos trabalhos sociais realizados pelas religiões de matrizes africanas aqui no Piauí. Crescemos com uma cultura do averso ao preto, do averso a magia, do averso ao ao transcender diferente daquilo que eurocentricamente nos foi empurrado goela abaixo. Parabéns pelo elucidar do valor social e o desnudamento do preconceito.
ResponderExcluirAgora, se me permite, humildemente gostaria de debater sobre um termo que você usa: "pluridisciplinaridade". Entendi perfeitamente a condição do seu pensamento, de sua abstração quando você diz ser necessário adentrar inúmeras áreas para uma melhor compreensão do seu campo evocado. No entanto, acredito que para melhor expressar sua ideia, ao invés de usar o conceito de pluridisciplinaridade, caberia melhor a transdisciplinaridade. num viés epistemológico, Edgar Morin, sugere este termo de uma forma mais complexa e completa, que supera a interdisciplinaridade, a pluridisciplinaridade, enquanto somente integração disciplinar. Seu entendimento “vai muito além; para ela não devem existir fronteiras entre áreas do conhecimento e a interação chega a um nível tão elevado que é praticamente impossível distinguir onde começa e onde termina cada disciplina”. Enfim, são somente sugestões. Seu trabalho está muito bem feito. Parabéns!
ResponderExcluirGostaria de parabenizar pela abordagem significativa sobre as religiões de matriz africana. Historicamente falando essas religiões vem sofrendo intolerancia religiosa de todas as formas. Vivemos em um país laico, porém os ataques contra sacerdotes religiosos, bem como aos seus templos vem crescendo nestes ultimos tempos. Em sua.opinião como fazer pra dismistifica praticas preconceituosas sobretudo em.sala de aula?
ResponderExcluirVânia.Sousa
Boa tarde.
ResponderExcluirSobre esse artigo pode-se sublinhar que nos últimos tempos a Arqueologia da Religião vem trazendo grandes descobertas arqueológicas e neste sentido esse texto destaca os Manuscritos do Mar Morto que resultaram em cerca de 20.000 artigos sobre esta descoberta e foram engendradas novas teorias voltadas para a compreensão das práticas religiosas do Judaísmo e do Cristianismo, contribuindo dessa forma para a ciência humana.
Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.
É importante superar os preconceitos. Esses preconceitos não são contra a religião afro são contra as pessoas que praticam uma cultura diferente. Como acontece com o nosso povo indígena.
ResponderExcluirMisael Croto Canela
Boa tarde.
ResponderExcluirObservando novamente esse artigo deve-se abordar que a religião afro-brasileira está presente na capital desde a suas primeiras edificações lembrando Pe. Cláudio de Mello e Monsenhor Chaves, pois é crucial afirmar que a formação da capital Teresina contou com o esforço e o trabalho de escravos africanos que trouxeram mediante esse contato sua cultura material e imaterial.
Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.
Boa noite, mesmo sabendo que o Brasil é um País laico não tendo uma religião dominante e por ser um país que deixa seu povo livre para seguir seus rituais infelizmente a um grande exce
ResponderExcluirBoa noite, mesmo sabendo que o Brasil é um País laico infelizmente existe um grande excesso de preconceitos em relação às religiões, sendo que, uma das mais senão a que mais sofre preconceito é o candoblé. Este trabalho mostra que os afro-brasileiros mesmo com os preconceitos sofrido continuam com seus rituais e vale lembrar que esses rituais faz parte da história do Brasil. E que aqui no Piauí também está presente a um bom tempo. Parabéns pelo seu trabalho, excelente artigo.
ResponderExcluirDOUGLAS DE ARAÚJO SILVA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
Parabéns!
ResponderExcluirEstá é uma pesquisa de estrema importância já que a cultura e religiosidade africa encontram-se intrinsecamente ligadas a formação do povo e da cultura brasileira. E mesmo marginalizada e preza a correntes de preconceitos, teve e tem um importante papel histórico-social nos países aos quais os negros foram inseridos como mão de obra escrava pelos colonizadores brancos.
Joice da Conceição Lima, UFMA/Codó