Bernardo Aurélio de Andrade
Oliveira
Mestre
em História do Brasil e especialista em Artes Visuais, ambos pela Universidade
Federal do Piauí -UFPI.
Resumo: Este trabalho aborda como o desenvolvimento da história cultural e o
ressurgimento da importância das narrativas influenciam a produção do texto
histórico e de que forma a linguagem científica se relaciona com o texto
artístico. Partindo deste princípio, foi possível analisar a construção do
discurso e as escolhas do autor ao narrar um fato histórico a partir da
construção de uma história em quadrinhos (Foices
& Facões: A Batalha do jenipapo), apontando em que medida e de quais
formas um historiador se permite dialogar com a arte.
Palavras-chave: história cultural, arte, literatura, ficção histórica, história em
quadrinhos.
“A história é um romance real”
Paul Veyne
Para iniciar essa discussão em torno
das relações que existem entre a história e a arte, que será exemplificada aqui
através da adaptação de um fato histórico para história em quadrinhos na obra Foices & Facões: A Batalha do Jenipapo2, é preciso uma breve introdução
historiográfica. Espero não me estender além da conta sobre esses pontos, mas
não poderíamos tatear no escuro, isso por entendermos que é necessária uma
explanação sobre o que é a história cultural antes de dialogarmos com o que
seria uma ficção histórica e arte.
A história cultural de hoje é fruto de
uma construção, inicialmente, mais voltada para o campo econômico e social, que
ganhou força e popularidade depois da crise de 1929 devido à publicação da
revista Annales d´histoire économique et
sociali, lançada por Lucien Febrev e March Bloch, considerados
representantes da primeira geração da École
des Annales.
O princípio desse movimento era se opor
à história meramente política e factual dos pensadores marxistas e
positivistas. Os outros historiadores que se uniram aos editores dessa revista
passaram a se aproximar cada vez mais de um movimento interdisciplinar,
buscando parcerias entre história e outras áreas do conhecimento.
A nova história é a história escrita como uma reação deliberada contra
o “paradigma” tradicional (...). Será conveniente descrever este paradigma
tradicional como “história rankeana”
(...) Poderíamos também chamar este paradigma de a visão do senso comum da
história, ao invés de ser percebido como uma dentre várias abordagens possíveis
do passado (BURKE, 1992, p. 10).
Ao longo das gerações seguintes às de
Febvre e Bloch, o campo histórico foi se abrangendo e os objetos históricos
sendo reconfigurados. A ideia de uma história total (não no sentido de uma
história que conta tudo plenamente, mas que se interessa por todo o produto da
atividade humana) foi consolidando a percepção de que tudo possui uma história
que pode ser escrita, um passado que pode ser vasculhado, inclusive no campo
imaterial, como as próprias “ideias”, surgindo então a possibilidade de uma
história das mentalidades. Nesse ponto, o cruzamento da história com a
antropologia foi fundamental. O estudo antropológico do comportamento humano e
sua concepção do que é a cultura permitiu ao historiador observar um campo de
objetos de estudos praticamente sem fim.
A história cultural passa a buscar
outras fontes e não apenas os documentos que expressam pontos de vista
oficiais. A nova história preocupa-se com uma variedade de evidências das mais
diversas, como tradições imateriais e a própria oralidade. Tudo isso colocou em
xeque a cientificidade da evidência e do ofício histórico em comparação aos
métodos dos profissionais rankeanos que
buscavam a objetividade. De acordo com Georges Duby “a ideia de verdade em
história modificou-se porque o objeto da história se deslocou, porque a
história passou a se interessar menos pelos fatos que pelas relações” (1993, p.
59). A história cultural considera as diversas possibilidades de interpretação
e de percepção da História, numa busca muito maior pela verossimilhança do que pela
verdade dos fatos, portanto, ela afasta-se do ideal científico de apresentar ao
leitor o que “realmente aconteceu”, como pretendiam os positivistas e
marxistas, entretanto:
(...)
não podemos evitar os preconceitos associados a cor, credo, classe ou sexo, não
podemos evitar olhar o passado de um ponto de vista particular. O relativismo
cultural obviamente se aplica, tanto à própria escrita da história, quanto a
seus chamados objetos. Nossas mentes não refletem diretamente a realidade. Só
percebemos o mundo através de uma estrutura de convenções, esquemas e
estereótipos, um entrelaçamento que varia de uma cultura para outra. (BURKE,
1992, p. 15).
Então, a objetividade histórica passou
a ser questionada devido a essa nova interpretação do campo e dos objetos
históricos. Os historiadores começaram a criticar nos textos de seus próprios
colegas essas “convenções” de que nos fala Peter Burke, esses pontos de vista
particulares. Assim, parte do ofício do historiador acaba se tornando
subjetivo, na contramão do que prega os princípios da cientificidade do século
XIX. Ou seja, a história:
(...) afastou-se dos ideais de ciência dura e reorientou-se para veio
tão aberto que se permitiu denominações sugestivas como História do Cotidiano,
História das Mentalidades, História das Sensibilidades, ficando em segundo
plano as tradicionais história política, econômica e demográfica. Firmou-se a
expressão “crítica cultural” para definir a atividade do estudioso que busca
seu instrumental em campo amplo e variado, superando o enrijecimento de
conceitos, de formas e de manifestações que caracterizou os estudos
humanísticos de meados do século XX (WEINHARDT. 2002. pg. 109).
Michel de Certeau observa que essa
tentativa de reconstrução da verdade objetiva no discurso histórico através de
uma prática, teoricamente, funcional e exata, tornou-se ultrapassada e obsoleta
justamente porque a subjetividade na construção do discurso organiza a
realidade quase que à sua revelia:
Há
quarenta anos, uma primeira crítica do “cientificismo” desvendou na história
“objetiva” a sua relação com um lugar, o do sujeito. Analisando uma dissolução
do objeto (R. Aron), tirou da história o privilégio do qual se vangloriava,
quando pretendia reconstruir a “verdade” daquilo que havia acontecido. A
história “objetiva”, aliás, perpetuava com essa ideia de uma “verdade” um
modelo tirado da filosofia de ontem ou da teologia de anteontem; contentava-se
com traduzi-la em termos de “fatos” históricos... Os bons tempos desse
positivismo estão definitivamente acabados. Desde então veio o tempo da
desconfiança. Mostrou-se que toda interpretação histórica depende de um sistema
de referência; que este sistema permanece “filosofia” implícita particular; que
infiltrando-se no trabalho de análise, organizando-o à sua revelia, remete à
“subjetividade” do autor (CERTEAU, 2006, p.67).
Essa subjetividade ainda causa
desconforto entre historiadores que buscam exatidão científica e isenção
ideológica em seu ofício. Para reforçar essas ideias, Michel de Certeau, em A Escrita da História, debruça-se sobre
três variáveis que influenciam diretamente esse fazer histórico: 1) o lugar
social; 2) a prática do historiador que artificializa a natureza e 3) a escrita: “a operação que faz passar da
prática investigadora à escrita (...) pois a fundação de um espaço textual
provoca uma série de distorções com relação aos procedimentos de análise”
(2006, p. 94) no ofício de fabricação de um conhecimento histórico. Esses três
tópicos, que são também condições
inerentes ao fazer histórico, estão intrinsecamente ligados: “de fato, a escrita histórica permanece controlada pelas práticas das
quais resulta; bem mais do que isto, ela própria é uma prática social que
confere ao seu leitor um lugar bem determinado” (CERTEAU, 2006, p.95).
Mais adiante, vamos entender de que
forma a plasticidade da escrita influencia na elaboração do conteúdo histórico,
principalmente quando estamos considerando uma linguagem artística como meio de
comunicar essa informação. Trocando em miúdos, vamos entender como a linguagem
das histórias em quadrinhos pode favorecer o conteúdo histórico e vice-versa.
O
retorno da narratividade para a história
A partir da segunda metade do século
XX, historiadores procuraram se tornar melhores narradores e isso só
aconteceria se se afastassem do modelo rankeano,
como diz Luiz Costa Lima, concluindo que o surgimento das teses narrativistas é
uma reação negativa ao cientificamente saturado ambiente acadêmico norte-americano:
(...)
em um ambiente acadêmico saturado de modelos de cientificidade, como era o dos
departamentos norte-americanos de ciências sociais, nas décadas de 60 e 70, o
desafio lançado aos pensadores da história era o da adequação de sua disciplina
à exigência científica. (...) a tematização contemporânea da narratividade, em
vez de representar um revival, é uma
resposta negativa, muitas vezes embaraçada, à demanda de uma história de fato
científica. (LIMA apud WEINHARDT. 2002. pg.112).
No início de minha experiência
acadêmica, presenciei debate acalorado de professor reiterando a cientificidade
da prática histórica diante de um discurso cada vez mais presente da
subjetividade na prática historiográfica. “Vocês estão numa universidade. Vocês
fazem ciência!”, disse, certa vez, aquele professor. É inegável que existe um
modo de fazer, um método científico de coletar dados e averiguar informações: a
prática, enumerada por Certeau como um dos elementos fundamentais na construção
histórica. Acontece que, ao longo do século XX, com a proximidade da
antropologia, com a afeição pelo estudo das mentalidades, com a história
lançando-se ao infinito mundo das possibilidades temáticas culturais e com
todas as inovações advindas a partir do processo de virada linguística, onde
“em certo sentido toda pessoa está limitada pela linguagem3”, tornou-se
cada vez mais difícil, para o historiador, apresentar-se como uma figura isenta
de um pesquisador científico.
Diante de todas essas inovações e novas
percepções, aceitar a condição de que historiadores são também ficcionistas
tornou-se um novo paradigma que precisava ser aceito a partir da definição das
fronteiras entre o que é arte e o que é história. E é exatamente no metiê dessas duas áreas do conhecimento
que se configuram as diferenças: existem métodos para a história e para a
literatura e, eventualmente, esses modos de fazer podem e devem dialogar entre
si.
É importante lembrar, entretanto, que
qualquer texto historiográfico é um tipo de literatura, mesmo aqueles mais
sisudos e, evidentemente, existe público para eles textos. Certa vez, em sala
de aula, um colega falou que sentia muito mais prazer lendo um texto objetivo,
direto e claro, provindo de uma escola marxista tradicional, do que qualquer
texto mais rebuscado, ou estiloso, fruto de influencias da escola dos Annales. Existem, evidentemente,
preferências linguísticas.
Entretanto, quando aponto uma
proximidade maior entre história e literatura, falo da necessidade da
construção da narrativa histórica a partir de recursos advindos da arte, da poética, como os antigos faziam na
Grécia, e não apenas a partir da simples constatação de que história é também
linguagem. Quer dizer, qualquer texto de linguagem marxista é também
literatura, mas a perspectiva artística na elaboração do texto histórico que
defendo é um pouco diferente. Vamos tomar como exemplo uma obra fundante da historiografia
brasileira que é Capítulos da História
Colonial (1907), de Capistrano de Abreu.
Capistrano de Abreu preocupou-se em
compreender o Brasil a partir da construção dos sertões de dentro e fez um
livro pequeno e enxuto:
Não é um livro que se compara; é um livro que se distingue na
historiografia brasileira, escrito numa linguagem simples, branda, enxuta, onde
havia doutrina que persuadia, compreensão que se fazia perceber e novidade
apertada, colhida na vastidão sem fim de suas pesquisas. Não acumulava fatos,
mas com sua intuição compreendia os homens e suas atividades, tornando vivo o
recontamento.
A
história não é só fato: é também a emoção, o sentimento e o pensamento dos que
viveram (...) Os sentimentos, as especulações, os pensamentos do povo, suas
aspirações são uma coisa que nunca se repetirá, que viveu e que interessa ao
historiador tanto quanto aos fatos materiais (RODRIGUES. 1969, p. 29).
Então, o método aplicado por Capistrano
antecipou em muitas décadas aquilo que só começaria a si consolidar a partir
década de 1960 através da Escola dos Annales.
De acordo com José Honório Rodrigues, Capistrano já não valorizava tanto o
paradigma cientifico da história factual e seriada das escolas tradicionais
materialistas, procurava libertar-se das datas, nomes e cronologia que
sufocavam mais que informavam nesses estudos de grossos e vários volumes, como
os de Adolfo Varnhagen (1969, p. 30). Para ele, valia mais a capacidade da
síntese, preocupado em entender um tempo longo, de proporções psicológicas que
revelasse e permitisse compreender internamente o sentimento do povo. Era
fundamental para Capistrano de Abreu considerar a longa passagem dos tempos
(assim mesmo, no plural: "tempos") e “pela primeira vez
apresentava-se uma concepção psicológica do suceder histórico e se revivia a
vida da alma popular” (1969, p. 33).
Seria errado dizer que Capistrano era
um subjetivista que não se preocupava com os fatos como realmente aconteceram
por se dedicar mais à compreensão do tempo de longa duração e psicológico, ou
por “colocar-se em simpática comunhão com o espírito dos atores e autores do
drama, reconstruir o processo do pensamento, penetrar as conclusões e motivos
que ditaram a ação e fizeram acontecer o acontecimento” (RODRIGUES, 1969, p. 35).
Esse preocupar-se com a síntese das
ideias, com as mentalidades e com a longa duração dos processos históricos é
uma forma de fugir da literatura histórica rankeana
e de aproximar-se, de fato, de uma literatura histórica mais literária,
artística. Essa capacidade de abstrair o sentimento e o espírito do tempo de
uma maneira mais atraente que a contumaz concatenação de documentos, dados,
datas e nomes é o princípio básico que permite ao historiador dialogar com uma
linguagem mais artística. É preciso que o historiador que quer descobrir ou
praticar uma narrativa mais passional encontre essa capacidade de síntese
psicológica dos atores do processo histórico. É preciso entender as personagens
e descrever bem seus dramas e cenários.
A
construção da ficção histórica em Foices
& Facões - A Batalha do Jenipapo
Qualquer dicionário irá lhe informar
que ficção é uma elaboração, uma
criação imaginária, é fruto de um ato criativo. A princípio, pode parecer
estranho a afirmação de que toda história é uma ficção, entretanto, é a mais
pura verdade. Os objetos ou documentos não falam por si, não interagem ou
dialogam, eles necessitam de ser elaborados, só assim a história é modelada, ficcionada. Nesta perspectiva, a história é tecida por um autor, é fruto de uma imaginação capaz de ligar os fatos e elaborar um longo
texto dedutivo que frui das informações adquiridas na realidade.
A grande questão que diferencia a
ficção histórica da ficção artística ou literária é a tênue e longa fronteira
entre o que é real e o que é fantasia, que são as matérias primas dessas duas
construções narrativas.
Hayden
White, um dos nomes mais citados quando se comenta o papel do historiador e do
ficcionista, figurando entre os principais desencadeadores desse debate,
posiciona-se radicalmente, restringindo as diferenças ao conteúdo e anulando a
distinção formal ente a narrativa histórica e a ficcional. Ensina que a
primeira se constrói sobre fatos reais, a segunda sobre fatos imaginários, mas
as duas são construções verbais. (WEINHARDT. 2002. pg. 106).
Portanto, o historiador é também um
construtor verbal e todo “construto verbal é reconhecido como simulacro que não
se confunde com o fato” (WEINHARDT. 2002. pg. 107). Isso significa que a
produção historiográfica não é o fato, é uma representação, assim como a ficção
literária. Northrop Frye publicou um ensaio, no início da década de 60, “em que
define o escritor de criação como meta-historiador, cujo trabalho é dedutivo,
impondo uma forma a seu objeto, em função da qual o escolhe, enquanto o método
do historiador é indutivo, a forma sucedendo a pesquisa” (WEINHARDT. 2002. pg. 107).
Ora, é justamente o processo indutivo,
que se constrói através dos indícios que são coletados durante a pesquisa, que
permite a elaboração de um texto histórico. Em minha pesquisa sobre a batalha
do Jenipapo, e nas oportunidades quando pude falar sobre isso, chamei esses
elementos que definem a forma do texto após a pesquisa, que variam desde
indícios, vestígios, evidências, documentos ou fatos, de “espinha dorsal da
narrativa”.
Não se trata de dedução intuitiva todos
os arranjos no quadrinho Foices &
Facões que levaram o major Fidié a encontrar a resistência organizada no
dia 13 de março de 1823. Esses “arranjos” na verdade são os fatos históricos
que pontuam na narrativa literária tal qual vértebras sustentam um corpo
humano, e esta narrativa é friccionada e ficcionada e a partir de uma linguagem
literária rica dos mais variados recursos estéticos.
O que importa aqui é entender como
esses recursos estéticos contribuem para a construção histórica, pois “não se
trata de propor a ficção como sucedâneo ou como concorrente da história, mas
sim de observar de que forma e em que medida a convergência dos estudos
históricos e literários pode contribuir para revelar e desvelar mecanismos da
criação artística” (WEINHARDT. 2002. pg. 110). Em meu quadrinho sobre a batalha
do Jenipapo, criei personagens para poder melhor abordar questionamentos
populares que poderiam ocupar a mente dos homens “comuns”4 que
participaram da luta armada. Quem eram esses anônimos? O que pensavam? Porque
decidiram participar da batalha? Não existem muitos indícios sobre isso porque
os registros que há são os relatos oficiais da província e das figuras tratadas
como baluartes do movimento e, por isso, Foices
& Facões aparece como uma leitura que “nos faz questionar como outros
sujeitos vivenciaram o chamado para a guerra” (ARAÚJO. In AURÉLIO. 2018, p.13). A criação artística me permitiu
sintetizar algo que existe para além desses documentos oficiais:
Talvez enquanto os outros busquem construções epistemológicas, nós nos
empenhemos em descobrir um fugidio passado que nos explique e justifique. Na
busca da impossível descoberta, do resgate interdito, o passado é moldado,
ainda que também, e sempre,
provisoriamente. Tzvetan Todorov diz que o europeu encontrou o eu na descoberta e no reconhecimento do
outro, ou seja, do habitante da América. O nosso outro talvez seja o
antepassado. É preciso encontrá-lo, ainda que ficcionalmente (WEINHARDT. 2002,
p. 110).
Deveria ser inevitável, para qualquer
narrador de uma ficção histórica, essa busca pelos indivíduos, pelas
mentalidades e pela vivência, por isso, é tão importante para nós, narradores, essa virada que a história
cultural proporcionou (ou sofreu) ao longo do século
XX. As ficções históricas buscam, por uma questão de
princípio, compreender os protagonistas de suas narrativas. E é nesse sentido
de “compreensão” que existe uma busca de reconhecimento identitário, uma
procura do nosso “outro” no passado que construímos.
Johny Santana Araújo disse que Foices & Facões “ajuda-nos a
compreender a construção de símbolos e mitos para a manutenção da moral dos
combatentes e dos cidadãos; a
conformação de identidades nacionais e regionais; entre outras tantas questões
desenvolvidas” (ARAÚJO. In AURÉLIO. 2018, p.13). No meu quadrinho, pude buscar
o eu a partir do nosso outro, entender nosso antepassado
piauiense e reconhecer certa construção mitológica que existe acerca de um
sertanejo aguerrido, e, para isso, precisei criar Teobaldo: um vaqueiro que se
encontra diante do impasse entre permanecer na sua vida bucólica da fazenda ou
participar da luta armada, relato este que não existe na historiografia
piauiense deste momento histórico, apenas na ficção artística.
Lawrence Stone, em texto datado de 1979, rastreia os momentos e
movimentos dos estudos históricos, destacando as diferentes metodologias da
abordagem científica e centrando atenção nas causas do ressurgimento da
narrativa na prática do historiador. Identifica o auxílio da antropologia e situa a Mentalité
entre os estudos históricos, entendendo esse movimento como uma busca do indivíduo.
Observa que um “número cada vez maior de 'novos historiadores' tentava então
descobrir o que se passava na cabeça das pessoas do passado, e como era viver
naqueles tempos, questões estas que reconduzem inevitavelmente aos usos da
narrativa” (WEINHARDT. 2002. pg. 110 - 111).
Nesta busca pelo que se passa na cabeça
das pessoas do passado é que o narrador procura justificar sua ficção
histórica. No caso de Foices & Facões,
o que mais me inquietava era compreender como se desenhou na mente daquelas
pessoas os fatos que levaram à batalha, como eles interpretaram o que viam,
como se angustiaram, já que não deixaram registros que chegassem até nós explicando
o que sentiram. Era preciso interpretar essas pessoas, na perspectiva do termo
alemão zeitgeist, que significa
compreender o espírito do tempo para imaginar como aquele momento interferia no
cotidiano daquelas pessoas.
A narrativa ficcional me permitiu
elaborar um drama crível de um núcleo familiar que vivia em uma fazenda e que
assistiu, da varanda de sua casa, o desenrolar dos fatos e a marcha de quase 2 mil soldados que saíram de
Oeiras em direção à Parnaíba.
Este núcleo é formado por um vaqueiro,
Teobaldo, sua irmã e sobrinhos. Há também um fazendeiro português, Januário,
sua esposa e filhos, bem como sua escrava. À medida que os fatos são
apresentados no quadrinho, os personagens reagiam a eles e essa reação é claramente inventada, ficcionada, nem
por isso mentirosa. A cerca desse ponto, Johny
Santana Araújo, disse:
A
proposta de Bernardo Aurélio tem sido inovadora, levando-se em consideração que
se trata de desnovelar uma história que insistentemente tem se tentado
manter no limbo, esquecida no munturo da
história oitocentista do Brasil. Os autores, através de seus desenhos, tentam
dar vez àqueles que tiveram sua voz emudecida pelo tempo ou pela operação
historiográfica a que estiveram sujeitos ao longo dos anos (ARAÚJO. In AURÉLIO.
2018, p.11).
A voz de Teobaldo e dos demais
personagens do quadrinho encontra eco na historiografia, mesmo que seja uma voz
emudecida pela operação historiográfica, portanto, apesar de ser obra de
ficção, o sentimento que ronda os personagens é histórico, isso porque “hoje
podemos, através da ciência da História, perscrutar os espaços esquecidos, uma
história vista de baixo, e observar os ditos e não ditos e com o inovador
trabalho em Foices & Facões, pode
se contemplar, visualmente, um caminho dessa história tão multifacetada”
(ARAÚJO. In AURÉLIO. 2018, p.11). Entretanto, a prática da ficção histórica,
por vezes, é mais que esquadrinhar espaços esquecidos, pode ser entendida como
o preenchimento de espaços vazios:
Eis uma teoria sobre a qual, há algumas décadas, apressadamente
poder-se-ia pensar que se digitou historiador por escritor de ficção. Paul
Veyne percebe o parentesco, tanto que afirma ser a crítica literária o termo de
comparação para a teoria da história. Por mais que se disponha de documentação,
explica Veyne, o trabalho do historiador está sujeito à causalidade e à
retrodição. Este último termo, emprestado da teoria das probabilidades, designa
uma operação de preenchimento, que se realiza por hipóteses (WEINHARDT. 2002.
pg. 113).
Quando o autor consegue jogar luz sobre
espaços esquecidos e, no caso de Foices
& Facões, esse espaço é entender o sentimento dos homens comuns que
viviam aquele tumultuado momento de levantes independentes, ele está
contribuindo para o discurso científico, histórico. Acontece que quando fazemos
isso com arte, nós contribuímos, sobremaneira, para um processo de elaboração
de identidade, pois construímos o nosso eu
a partir do nosso outro, o
antepassado, mesmo que ficcionalmente.
E nesse processo de construção do
antepassado e de consequente reconhecimento
entre leitor e obra, que uma ficção histórica proporciona, é que está a
riqueza que uma história, autodeclarada, isenta e sem paixões, dificilmente
ofereceria. É, justamente, na natureza dessa identificação com os personagens,
da junção entre operação de uma prática científica e arte (elaborada com
declarada subjetividade, que não deveria mais assustar nenhum historiador), que
reside o fausto da ficção histórica, isso porque o processo de escrita
histórica influenciada pela plasticidade artístico-literária pode facilitar um
entrosamento entre leitor e obra simplesmente porque o ser humano, de maneira
geral, gosta de consumir e de se envolver com
arte.
Johny Santana Araújo disse que Foices & Facões:
(...) propõe um passeio surpreendente e diferente, nos levando a uma viagem fantástica aos rincões do interior do Norte do Piauí de 1823 e permiti-nos sentir o calor e as emoções vividas pelo povo do Piauí tal como a proposta de Jules Michelet que nos convidou viver a história da França e da sua Revolução de 1789 e se transportar para dentro dela” (ARAÚJO. In AURÉLIO. 2018, p.14).
Foices
& Facões, assim como outras obras de ficção
histórica, nos convida a experienciar sentimentos antigos, a reviver a vida da
alma popular semelhante à forma que Jules Michelet ou Capistrano de Abreu se
permitiram investigar o espírito do tempo.
Existe, então, o historiador que sabe
utilizar de uma linguagem envolvente que aprendeu com recursos estilísticos
literários e existem artistas que se utilizam de técnicas historiográficas para
produzir uma obra. Não é raro, entretanto, existirem autores como eu, que trabalho
com arte e tenho formação
como historiador, o que me permite dialogar
sem grandes
problemas entre essas duas matrizes e produzir uma obra artística com o devido
cuidado que o discurso histórico necessita.
Por que fazer ficção histórica?
Arte consegue envolver o espectador de
uma forma que, normalmente, a linguagem científica não é bem-sucedida. É muito comum
que programas educativos utilizem de recursos artísticos ou específicos da
comunicação para atrair o grande público5.
Uma das explicações que justificam o
envolvimento da arte com sua audiência é o processo de identificação que
acontece entre o público e ela. É importante colocar que, dentro de um texto
histórico, esse processo de identificação se dá mais pelo conteúdo da obra do
que pelo reconhecimento do autor:
Entre
os rastros do passado e sua representação no presente, existe uma série de
elementos extratextuais tais como, a ideologia, a linguagem, as preferências
pessoais e as discussões historiográficas, que impossibilitam uma
imparcialidade e objetividade. Contudo, para o método formalista proposto por
White são relevantes apenas os aspectos internos às obras, como enredo,
argumento e ideologia. Portanto, a análise da vida pessoal do escritor, seu
contexto social específico e seus escritos passados não são necessários (WHITE,
2001). Sua vantagem interpretativa é mostrar que a linguagem cria significados
sejam eles criados conscientemente ou não pelo historiador (ALMEIDA, 2016,
p. 206).
Então, caso alguém estude o Foices & Facões, minha vida privada
não seria, a princípio, objeto de curiosidade, pois é possível averiguar os
aspectos internos desta obra sem ser necessária a compreensão de detalhes da
minha vida. Entretanto, esta identificação com qualquer obra de arte se dá por
vários outros motivos e um deles é justamente a subjetividade da obra, que pode
vir carregada de ideologias que refletem o posicionamento do seu autor. É essa
capacidade que a arte tem de falar de si que permite uma identificação com seu
leitor no momento em que ele pode si reconhecer durante a leitura, concordar ou
discordar de elementos abordados ali, criar empatia com o que está consumindo
e, por consequência, perceber que ou se engajou com a obra (ou contra a obra)
ou está até se entretendo com ela.
No prefácio que o Dr. Johny Santana Araújo fez para Foices & Facões, ao se referir a
Jules Michelet, explica o quanto este autor estava envolvido com a relação
entre história e ficção, trata-se de um romântico que “criou uma narrativa
que convidava o leitor a vivenciar as realidades dos sujeitos históricos
através de sua narrativa, proporcionando uma experiência de empatia com esses
sujeitos” (ARAÚJO apud AURÉLIO. 2018, p.14). A empatia pode ser uma poderosa
arma para todo tipo de informação, pois é capaz de cativar um público ou
aumentar o número de consumidores, e a história, como qualquer área do
conhecimento, quer ser lida cada vez mais.
Para a história ser mais consumida,
precisa ser mais acessível, mas não vamos nos confundir aqui! Há uma infinidade
de títulos sobre história disponíveis em bibliotecas físicas e digitais,
incontáveis sites, artigos, informação em toda parte. O acesso ao conteúdo da
história é muito fácil hoje, mas a acessibilidade a que me refiro é de outro viés:
Tornar-se acessível a um público inteligente, “mas não especialista” é
outra das razões que aponta para a volta da narrativa. O mesmo raciocínio
talvez se pudesse aplicar à ficção. O público de best-sellers (...) é significativo, em termos de mercado
brasileiro, a julgar pelas tiragens, sobretudo de traduções. Por que não
conquistá-lo? É nesse rumo a proposta de José Paulo Paes, que atribui, em
parte, aos rigores da crítica, aparelhada exclusivamente para a avaliação da
literatura erudita, a inexistência de uma literatura de entretenimento no
Brasil (WEINHARDT. 2002. p. 111).
A ficção histórica pode buscar no
entretenimento os mecanismos de sedução e de convencimento de novos públicos. É
essa acessibilidade que os best-sellers
possuem, esse engajamento junto ao grande público que essas obras dispõem, que
o autor de ficção histórica deve almejar. É fazer história, com todo o rigor
que ela exige, afinal não se pode anatematizar “indiscriminadamente todos os
esforços metodológicos que intentaram dar aparato e estatuto científicos aos
estudos históricos” (WEINHARDT. 2002. pg. 111), mas buscando, sempre, entreter
o leitor6.
O mercado de literatura brasileira de
entretenimento praticamente inexiste, é muito pequeno diante dos grandes best-sellers da literatura estrangeira
que ocupam nossas prateleiras, e a dura verdade é que a história brasileira não
é bem refletida na cultura de consumo de massa ou não tem vez diante da sedução
de produtos históricos e culturais estrangeiros que nos influencia a todo
instante, com filmes, livros, jogos etc. Isso se reflete diretamente no cotidiano
de sala de aula:
Às vezes é frustrante reconhecer, mas parece interessa-lhes mais saber
sobre um acontecimento que aparece num jogo eletrônico do que de temas que o
professor bem-intencionado traz para a aula supondo serem mais próximos das
experiências dos alunos. Talvez seja por isso que em algumas ocasiões pude constatar
a preferência dos jovens por aulas sobre temas relacionados à “História Geral”
– para adotar uma nomenclatura usual no Brasil – e considerem a “História do
Brasil” entediante, por comparação. Com o estudante de maior idade – refiro-me
ao estudante dos programas de alfabetização de jovens e adultos (EJA) – ocorre
o contrário, talvez porque para ele as novelas nacionais são as referências
mais comuns. Ainda assim, sua imaginação também não está livre dessas
referências romanceadas sobre o passado” (BARBOSA. 2016, p. 21).
As versões romanceadas da história
sempre parecem mais atraentes para o grande público, para aquele não
especialista, aquele que está mais familiarizado com grandes épicos
estrangeiros do que com a história do seu próprio país. Esse público é
envolvido e seduzido pelos mais variados discursos que existem na cultura do
entretenimento de massa que vem de fora e que sabe se utilizar da história para
fixar um lugar no gosto e na vida das pessoas. Esses grandes best-sellers da literatura, grandes
filmes, grandes narrativas estrangeiras ocupam um espaço na mídia que se
reflete no gosto dos consumidores da sala de aula e faz com que esses alunos
achem que história do Brasil é chata em comparação às outras.
A história pode e deve buscar inspiração
na literatura para atingir patamares, acesso ou aceitação de best-sellers. Utilizar a forma
literária, artística, para narrar fatos históricos permite à história tornar-se
um produto mais atraente, criando afeição, interesse e referência. É por isso
que na dissertação de Alexandre Rodrigues de Frias Barbosa ele afirma que a
maioria dos alunos de ensino médio apresentam mais interesse pela História
Geral do que pela História do Brasil, isso porque o Egito antigo ou a Europa
das grandes guerras tornam-se muito mais atraentes pois são objetos de grandes
romantizações, por serem produto de entretenimento mais bem-sucedido do que a
história do Brasil jamais fora.
Transformar a história do Brasil em
arte é parte necessária para estimular maior carisma do grande público por sua
própria identidade. Por isso que Foices
& Facões: A Batalha do Jenipapo, mais que um trabalho sobre história, é
um convite para conhecer e se envolver com esses personagens que representam os
sentimentos de seu tempo e que pode fazer com o leitor permita-se apaixonar-se
por sua história.
A Batalha do Jenipapo: versões e ficções
Quando um autor constrói um produto
como Foices & Facões ele está
submetido a críticas tanto de historiados quanto de leitores de quadrinhos e
nesta última categoria se incluem tanto os leitores esporádicos e autores de
obras semelhantes quanto especialistas na área.
Existem muitos vieses a serem abordados por estas críticas, que envolve, por
exemplo:
1) exatidão histórica e; 2) qualidade artística. Por
motivos óbvios, pois sou o autor, não vou traçar aqui nenhum comentário acerca
deste segundo viés, entretanto, cabe neste momento alguns levantamentos acerca
das minhas escolhas em caráter de narrativa histórica.
É importante entendermos que “a verossimilhança
da ficção não é a mesma da história. Para esta, é verossímil o que se constrói
como verdade, enquanto para aquela basta que pareça verdadeiro. O ponto axial
da questão gira então em torno da acepção de verdade” (WEINHARDT. 2002, p.119).
Foices & Facões trata-se de uma
obra que parece verdadeira, justamente porque possui um arcabouço teórico e uma
base de fontes e documentos oficiais, que são fruto de minha formação e
pesquisa enquanto historiador, porém, meu quadrinho não pode ser entendido como
verdade, justamente porque existem inúmeros personagens fictícios e
interpretações subjetivas dos fatos7.
Mesmo com todos os recursos
linguísticos e artísticos que um quadrinho oferece, Foices & Facões possui uma produção de corpus documental que
pode identificá-lo como uma pesquisa histórica. Certos diálogos não estão ali
presentes à toa, não são oriundos de pura fantasia criativa. Existem passagens
no quadrinho, trechos com diálogos ou leituras de documentos que são citações
reais ou diretamente inspiradas em informações primárias da história. Algumas
delas estão abordadas ao longo das 21 notas explicativas que existem no
quadrinho e não posso aqui me estender sobre cada uma delas. Por isso, vou me
debruçar sobre passagens de um personagem que temos no quadrinho: o major
Fidié, e uma das fontes que mais deram corpo ao quadrinho é justamente um texto
fruto de seu testemunho ocular desta história:
Não tendo eu pedido aquelle Governo, e sendo só devida a minha nomeação
á lembrança de Sua Magestade o sr. D. João 6º, (…) parti immediatamente, por
ser essa a vontade do mesmo Augusto Sr. ordenando que o commandante da Charrua
Gentil Americana me recebesse a seu bordo (…) Na ocasião da minha partida, Sua
Magestade me ordenou muito positivamente, que me mantivesse, dizendo-me:
Mantenha-se! Mantenha-se! (…) E quando pouco depois de ter chegado á cidade de Oeiras do Piauhy, me constou da revolta da Villa da Parnahiba (…)
Declarei ao Governo Civil da Provincia, que marchava contra aquella Villa, e
que em quanto tivesse quatro homens que me obedecessem, o terreno que elles
pisassem seria constitucional, e pertenceria ao Reino (FIDIÉ, 2010, p. 159
-160).
Este pequeno trecho narrado pelo major
em seu livro Vária Fortuna de um soldado
Português permitiu que eu imaginasse várias cenas do quadrinho, mas não
apenas isso. A passagem sugere o temperamento do major e a obstinação com que
fez a guerra no Piauí e Maranhão naquele primeiro ano após a proclamação da
independência. O major descreve como teria sido seu encontro do Dom João VI e
até relata palavras ditas pelo próprio imperador: “Mantenha-se!” e
“mantenha-se!”, reiterando a ordem. Não pude me abster desta cena (figura 01) e
a incluí no quadrinho após toda a passagem que explicava os motivos de
recolonização portuguesa no nordeste brasileiro, dito pelo próprio Dom João VI.
Na sequência, temos o trecho em que
Fidié diz que “em quanto tivesse quatro homens que me obedecessem, o terreno
que elles pisassem seria constitucional, e pertenceria ao Reino”, o que revela
bastante da natureza do personagem que eu construi. A partir deste trecho,
decidi que Fidié deveria ser entendido como um homem muito obstinado, honrado,
e que levaria até às últimas consequências as ordens que recebera diretamente
de Dom João VI. E os documentos mostram que assim o fez, mesmo sofrendo duro
sítio dos independentes em Caxias e com membros da corte maranhense preparando
a capitulação (CHAVES. 1998, p.383), o major português ainda liderou investidas
contra as tropas brasileiras que o tentava derrotar, como revela Monsenhor
Chaves:
Àquela hora a situação na Vila era realmente insustentável. Já não
havia água nem comida. Há dias que os combatentes recebiam meia ração. Mesmo
assim, o que restava não daria mais para três dias.
Fidié era obstinado. Queria a resistência a todo custo. Ainda possuía
alguma munição. Só não tinha mais comida. Mas a Câmara também se obstinou. Não
era mais possível continuar com uma resistência inútil, com sacrifício total da
população civil às portas da morte pela fome. Vendo-se sozinho, Fidié
demitiu-se, passando o Comando ao Tenente-coronel Luís Manoel de Mesquita. Este
era partidário das negociações.
No
dia 28 um parlamentário de Mesquita chegou ao Quartel General dos
independentes, no Bonfim. Trazia ofício do Comandante de Caxias, no qual ele
pedia que ambas as partes nomeassem seus representantes que se reuniriam para
discutir os termos de capitulação.
Nesse tempo, Fidié cometeu uma traição ao Comandante Mesquita.
Aproveitando a trégua de cessar-fogo de ambos os lados, mandou alguns de seus
fanáticos, que não eram poucos, às roças da Olaria e eles voltaram trazendo
muita farinha e água. No reduto do Monte das Tabocas a trégua estava sendo
aproveitada para o conserto de armas e restauração do entrincheiramento
danificado pelos últimos ataques (CHAVES. 1998, p. 397).
Isto está nas fontes históricas e no
meu quadrinho. Cito a demissão do Fidié, a capitulação proposta pelo
Tenente-coronel Mesquita e a nova investida, tudo seguindo a pesquisa minuciosa
elaborada pelo Monsenhor Chaves (figura 02). No gibi, a cena se passa numa
conversa entre o Major Fidié e o soldado Luís, que se trata de um personagem
fictício, que inventei para criar certo drama shakesperano8 na
estória. A conversa se dá entre um personagem real, que foi recriado segundo
minhas interpretações, e outro personagem que é inteiramente fruto de minha
imaginação. Entretanto, a conversa entre eles é verossímil porque apresenta uma
base fidedigna de informações. É isso que define meu quadrinho como uma ficção
histórica.
Existe outra passagem que pode ser
considera demasiado romântica, ou mesmo despercebida, por ser muito breve, que
acontece na página 184 do quadrinho (figura 03), onde vemos o major Fidié
liderando uma investida contra os independentes. O fato é que a cena foi
construída seguindo indicação do Monsenhor Chaves que disse que “na tarde do
dia 19 (de julho de 1823), o próprio Fidié comandou as tropas atacantes. Mas
foram repelidos, deixando 9 mortos no campo e conduzindo 67 feridos” (1998, p.
395).
Outra cena que pode passar sem qualquer
destaque é a que se dá no dia 10 de abril de 1823, após a batalha do Jenipapo,
quando Fidié ainda está aquartelado em terras piauienses e precisa de carne
para alimentar suas tropas. Segundo Monsenhor Chaves, soldados de Fidié
“conduziam 109 cabeças de gado quando caiu sobre eles o Tenente Simplício
desbaratando-os e tomando-lhes a presa preciosa. Os portugueses deixaram 12
mortos, 3 feridos e 4 prisioneiros” (1998, p. 157). Esta passagem está no meu
quadrinho e, na cena seguinte, vemos Fidié repreender seus soldados derrotados,
em um dos poucos acessos de cólera que o personagem demonstrou em meu quadrinho
(AURÉLIO. 2018, p. 179, 180 e 182). E ele só reage desta maneira porque eram
homens e alimento extremamente importantes. A falta deste gado foi uma das
causas que o fizeram abandonar a margem piauiense do rio Parnaíba e ingressar
no Maranhão, o que simboliza o início, de fato, de sua derrota, pois “soube-se
que dos 75 homens da expedição apenas 30 atravessaram o rio (...) para o Fidié.
Os outros, possivelmente desertaram. Esta derrota apressou a ida de Fidié para
Caxias” (1998, p. 328).
Todas essas passagens reforçam a
impressão sobre o major que tive ao ler sua declaração em Vária Fortuna de um Soldado Português, que me fez enxergar no
lusitano não um sanguinário carrasco, algoz da liberdade brasileira, como
normalmente tenta-se pintar sua figura, mas me permitiu construir uma personalidade moldada
na honra e hierarquia militar de um homem que estava seguindo ordens diretas de
seu imperador. Essa é a minha versão de Fidié nesta ficção histórica.
Existem outras passagens ou personagens
ao longo do quadrinho que possuem registros históricos, como o “capitão”
Vicente Bezerra que aproveitou-se da situação
de balbúrdia em Campo Maior para saquear portugueses (como, por exemplo,
o compadre Manoel Rosa, que é citado na página 105 do gibi) em nome da causa
brasileira, ou os irmãos Joaquim e Salvador Bento que organizaram milícia para
participar da batalha do Jenipapo, ou a prisão de padre Manoel e dos irmãos
Pereira e Vitório, em Campo Maior, a mando de Leonardo Castelo Branco e várias
outras cenas, todas encontram respaldo em fontes históricas. Entretanto, quero
ainda esclarecer dois pontos que podem causar estranhamentos por se tratarem de
liberdades poéticas que um historiador deve lidar com muita cautela: a tomada
da Casa da Pólvora em Oeiras e o dia da proclamação independência.
No meu gibi, decidi utilizar uma
leitura parecida com a de Pedro Américo em seu famoso quadro Independência ou Morte, decisão esta
que, definitivamente, não enche de orgulho meu lado historiador e que apenas me
satisfaz a veia artística. Isso porque, existem registros oculares de que tanto
Dom Pedro, no dia da proclamação, quanto a comitiva que o acompanhava, não
estariam trajando vestes de galas, não montariam cavalos de guerra, mas “um
asno baio” (jumento de carga), animais mais propícios para o trajeto que faziam
às margens do rio Ipiranga e que o imperador estaria sofrendo de problema
intestinal (SCHLICHTA. 2009, p.4).
Todas essas informações permitiriam a
qualquer historiador pintar um quadro sobre o 7 de setembro de 1822
completamente diferente daquele de Pedro Américo, entretanto, me permiti fazer
uma versão mais romântica e ignorar esses indícios históricos, isso porque,
tanto o quadro quanto meu quadrinho escolheram narrar os fatos escondendo
elementos pouco heroicos ou cômicos que não dialogariam com nossa obra. Vejam o
que o autor da pintura disse sobre seu próprio
trabalho:
A
realidade inspira, e não escraviza o pintor. Inspira-o aquillo que ella encerra
digno de ser offerecido a contemplação publica, mas não o escraviza o quanto
encobre contrario aos designios da arte, os quaes muitas vezes coincidem com os
designios da historia. E se o historiador afasta dos seus quadros todos os
incidentes perturbadores da clareza das suas lições e da magnitude dos seus
fins, com muito mais razão o faz o artista, que procede dominado pela idea de
impressão esthetica que deverá produzir no espectador. [...] Finalmente,
comparando as tradições, as chronicas, as passagens historicas, os dictos e
presumções individuaes, os testemunhos artisticos e as diferentes opiniões acerca do successo "que
fez estremecerem de jubilo as margens do Ypiranga", consegui compor a
fraca obra que agora submetto ao benevolo juizo das pessoas illustradas do meu
paiz; certo de que, se não acertei, ao menos esforcei-me por ser sincero
reproductor das faces essenciaes do facto, sem esquecer totalmente as difficeis
e severas lições da sciencia do bello. (AMÉRICO apud SCHLICHTA. 2009, p. 4)
Não conseguiria explicar melhor: os
desígnios da arte, de fato, podem coincidir com os da história e isto se dá,
basicamente, por causa de uma busca por certa impressão estética. Se estivesse
procurando fazer um quadrinho cômico, seguir fielmente o que diz os indícios
históricos era o caminho mais fácil, entretanto, o drama que queria compor é
completamente incompatível com a provável disenteria do imperador. Sim!
Trata-se de uma escolha, trata-se de uma versão, mas ao menos me esforcei para
ser sincero criador da cena, afastando do quadro “todos os incidentes
perturbadores”, e digo isso não sem certa ironia, como, provavelmente, não o
fez o ilustre artista Pedro Américo.
Quero citar ainda uma passagem curiosa
dessa história da independência do Brasil no Piauí e minhas escolhas narrativas
diante do acontecido: Em 13 de dezembro de 1822, seis semanas antes do dia 24
de janeiro de 1823, em que Oeiras adere à independência de Dom Pedro, aconteceu
um assalto à Casa da Pólvora daquela vila, local onde eram guardadas,
principalmente, armas e munições para serem utilizadas pelas forças militares
da província. Naquela ocasião, o major Fidié já estava muito longe de Oeiras,
aproximando-se da Vila da Parnaíba, a cerca de 660km ao norte do Estado, onde
chegaria apenas a 18 de dezembro de 1822.
Oeiras estava praticamente
desguarnecida e Fidié acreditava que a Capital era fiel ao governo português e
que jamais o trairia como fez naquele 24 de janeiro. O assalto, de fato,
aconteceu e está documentado. Abdias Neves nos informa que às 2 horas da
madrugada, seis homens encapuzados atacaram a Casa da Pólvora e que surraram à
chibatadas os guardas do local (2006, p.80). Monsenhor Chaves nos informa,
entre outras coisas interessantes, que a ousadia foi durante o dia:
Às 14 horas de 13 de dezembro, (...) seis homens encapuzados surpreenderam a guarda da Casa da Pólvora, tomaram-lhe as armas e surraram-na a chibata. Ninguém acudiu aos guardas. Abriram-se devassas, mas tudo ficou envolto em mistério.
A muito custo e depois de alguns sermões incendiários do Vigário Colado, Padre Dr. José Joaquim Monteiro de carvalho e Oliveira, as autoridades resolveram reunir-se a 29 de dezembro para algumas deliberações, que acabaram se resumindo a uma só: recomendar ao Comandante da Guarnição que tivesse a tropa de prontidão para o que pudesse suceder (1998, p. 283).
Preferi seguir a indicação de Abdias
Neves e fiz com que a cena se passasse durante a noite. A escuridão é muito
mais interessante para um cenário desses. Trata-se, novamente, de uma escolha
estética, mas minha versão para o assalto vai um pouco mais além do simples
horário e foi essa citação de Monsenhor Chaves que me permitiu conjecturar o
possível mandante do crime, já que tudo permanecia envolto em mistério e ainda
hoje não se sabe quem são, de fato, os culpados. Segundo o autor, o acontecido
na Casa da Pólvora deixou as autoridades da vila apreensivas, portanto
reuniram-se, determinando que permanecessem de prontidão, preparados para
qualquer coisa que pudesse acontecer. Isso indica que havia suspeitas de que
aquele ataque não foi desarticulado de outras intenções e que poderia estar
ligado aos interesses dos separatistas.
Além do espancamento dos soldados da
Casa da Pólvora, muitas armas e munição foram roubadas, mas não se sabe quem
fez o assalto ou quem foi o mandante. Não se sabe se alguém foi incriminado ou
punido. Não existem registros precisos sobre isso, entretanto, no meu
quadrinho, há. Me permiti dar um rosto e nome para o homem que guiou seu bando
e, assim, fizeram o roubo. Este homem é fruto de minha imaginação: chama-se
Timótio.
Timótio é um desses personagens
figurantes, de poucas participações, e que pode acabar sendo ignorado no
conjunto da obra. Ele aparece em apenas 3 momentos: 1) entregando um bilhete
para Manoel de Sousa Martins que informava sobre a adesão de Parnaíba à
independência, que aconteceu em 19 de outubro de 1822; 2) no assalto à Casa da
Pólvora; e 3) no golpe oeirense de 24 de janeiro de 1823, recebendo ordens de
Manoel de Sousa Martins. Neste terceiro momento, Manoel diz, explicando a todos
os seus companheiros como se dará a ação que permitirá a adesão de Oeiras à
independência: “...enquanto o major Clementino tomará a Casa da Pólvora e a
manterá em segurança. Para isso, todos poderão contar com a ajuda de Timótio e
alguns homens de confiança dele, que estão preparados e municiados” (AURÉLIO.
2018, p.89). O segredo aí está em “preparados e municiados”.
Na minha versão, Timótio é um jagunço
que age sorrateiramente pela vila, sob os mandos de Manoel de Sousa Martins.
Ele é o homem que assalta a Casa da Pólvora, logo, minha intenção era ligar
este acontecido a uma autoria intelectual do próprio Manoel. Tudo deveria ficar
mais claro quando Timótio volta à Casa da Pólvora no dia 24 de janeiro, agora,
ironicamente, mais preparado e municiado com as armas que ele próprio roubou no
dia 13 de dezembro, segundo meu gibi, claro. Assim, semanas depois, o assalto
serviu para armar os independentes para o golpe da adesão daquela vila à independência.
Abdias Neves também nos informa que no
dia 24 de janeiro de 1823, Manoel e seu irmão Joaquim de Sousa Martins reuniram
empregados, jagunços e vários companheiros para tratarem da tomada do poder
(2006, p. 95 – 96), tudo isso indica para mim que Timótio, ou outro personagem
real de fato culpado pelo assalto à Casa da Pólvora, poderia sim estar ali
junto a Manoel de Sousa Martins e entre aqueles homens que tramaram a tomada do
poder.
E foi assim que pude criar versões e
ficções da história da batalha do Jenipapo e do processo de independência do
Brasil no Piauí, com a ajuda criativa de recursos históricos, que minha
formação acadêmica me forneceu, bem como com a linguagem artística das
histórias em quadrinhos. Dessa maneira, produzi uma história em quadrinhos que
dialoga com o processo de pesquisa histórica mas que se permite criar
personagens e interpretações que não são bem claras à história.
Neste percurso existe, entretanto, uma
diferença entre a ficção histórica e a literatura histórica. A primeira, é o
ato de fazer histórica com método e práticas aceitas por seus pares, mas que se
entende como fruto de linguagens subjetivas a que o escrito está sempre
submetido. A segunda, é se permitir criar romanticamente, sendo, porém, um sincero
recriador desses fatos, vendo neles um auxílio para a construção de um roteiro
pontual, uma narrativa sustentada pela coluna vertebral dos acontecimentos. Foices & Facões é desse segundo tipo.
Conclusão:
“A história é um romance real”.
Para concluirmos, permitam-me retornar
à nossa epígrafe escrita por Paul Veyne de que a história se trata de um
romance real. A afirmação nos cai bem justamente porque estamos tratando de
narrativas históricas a partir da análise de um texto escrito na forma de
quadrinhos, para ser mais exato: de um romance gráfico9.
Foices
& Facões: A Batalha do Jenipapo também pode ser
entendida como um romance histórico na medida em que narra um fato,
sintetizando os tempos e selecionando temas, de uma maneira muito próximo como
fazem tanto a história como a literatura:
A história é uma
narrativa de eventos: todo o resto resulta disso. Já que é, à primeira vista,
uma narrativa, ela não faz reviver esses eventos, assim como, tampouco o faz o
romance; o vivido, tal como ressai das mãos do historiador, não é o dos atores; é uma narração, o que permite evitar alguns falsos
problemas. Como o romance, a história seleciona, simplifica, organiza, faz com
que um século caiba numa página, e essa síntese da narrativa é tão espontânea
quanto a da nossa memória, quando evocamos os dez últimos anos que vivemos
(VEYNE apud MORAIS. 2018, p. 44).
Veyne nos permite enxergar esse viés
narrativista que flerta sem culpa com a linguagem literária, colocando-nos na
posição de contadores de história, não de atores. Ele nos diz que não temos
condições de reviver esses eventos, assim como é impossível para a literatura
oferecer essa experiência, mostrando-nos mais semelhanças ainda entre o feitio
historiográfico com a arte.
Essa capacidade de que um século caiba
em uma página nos traz à memória a obra de Capistrano de Abreu, Capítulos da História Colonial, que
citamos no início deste texto. Sim! A síntese é fundamental para a história e
para a literatura. Selecionar, simplificar e organizar o que precisa ser dito
me parecem etapas claras do que fiz em meu Foices
& Facões.
O historiador, desse modo, teria liberdade de escolha, podia recortar o
que pretendia expor ou omitir narrativamente no fito de estabelecer a
compreensão, pois o tempo pretérito, como também os acontecimentos que o
constituíram, não possuíam articulação precisa, lógica e natural se não fosse
pela trama/intriga urdida pelos sujeitos do conhecimento histórico (MORAIS.
2018, p. 45).
Evidentemente, a realidade é complexa e
a construção de uma narrativa coesa e precisa não é simples, portanto, produzir
um texto que represente um cenário real em todas as suas multiplicidades de
acontecimentos ou interpretações não é tarefa fácil. Na verdade, um cenário
real, em sua totalidade, é completamente inviável, entretanto, cabe ao
historiador, tanto quanto ao romancista, traduzir essas informações de maneira
articulada, precisa, lógica e natural de forma que se torne acessível para o
grande público. Esse é o poder da síntese.
Além da síntese, cabe aos narradores
saber que qualquer trama “não se organiza, necessariamente, em uma sequência
cronológica; como um drama interior, ela pode passar de um plano para outro
(...) como um corte transversal dos diferentes ritmos temporais” (VEYNE apud
MORAIS. 2018, p. 45) e isso me lembra, claramente, a parte 1 do meu quadrinho,
que começa com a chegada da família imperial portuguesa ao Brasil em 1808 e na
página seguinte já é 1815, com a decisão do Brasil tornando-se Reino Unido.
Poucas páginas depois, nós temos o 7 de setembro de 1822 seguido do 13 de março
de 1823, dia da batalha do jenipapo, onde faço uma ligação direta de causa e
efeito entre as duas datas. Mas o corte cronológico mais curioso é o que se dá
no início da parte 2, onde temos um retorno à data de 8 de agosto de 1822, dia
em que o major Fidié chega, pela primeira vez, a Oeiras.
Esse tipo de controle do tempo na
narrativa, onde o narrador faz saltos temporais adiante e posteriores ao que
parece ser uma linha cronológica dos fatos é muito comum em todas as contações
de história, sejam filmes, quadrinhos ou literatura e serve como artifício para
entreter e fisgar os leitores. Controlar o tempo é ofício de todos os tipos de
narradores.
E tecer essa narrativa é a operação do
pesquisador, que decide onde e como dar o ponto, já que, na realidade, essa
colcha de retalhos não existe, quer dizer, a história é uma construção sobre o
tempo e não o tempo em si. Foice &
Facões: A Batalha do Jenipapo é um crochê urdido sob orientação dos fatos
históricos, porém tecido sob minhas medidas, minhas escolhas e meus pontos
prediletos, portanto, talvez ele lhe sirva bem, talvez não.
Sim, a história é um romance real, mas
a realidade é articulada pelo narrador e, quando
tratamos de um romance gráfico que tem personagens e relatos que não
aconteceram de fato, é preciso traçar uma linha clara entre o que é história e
o que é arte.
O vaqueiro Teobaldo e sua família, da
forma como narrados em meu gibi, estão entrelaçados nos nós da narrativa da
história do Piauí que eu construí e qualquer desavisado pode se confundir entre
o que é a interpretação dos fatos, a construção/ficção da história, e o que é
criação artística do autor. Quantos leitores do meu quadrinho podem confundir
um personagem real, de fato, com um fictício? Quantos saberiam dizer, lendo Foices & Facões pela primeira ou
décima vez, que o português Januário é criação minha e que Manoel Rosa, outro
português assaltado pelo “capitão” Vicente Bezerra, existiu realmente?
Como dissemos lá no início de nosso
texto, explicando as origens da história cultural, “a ideia de verdade em
história modificou-se porque o objeto da história se deslocou, porque a
história passou a se interessar menos pelos fatos que pelas relações” (DUBY.
1993, p. 59). Ou seja, Januário pode não ser um personagem real, mas a relação
que ele teve contra o Vicente Bezerra e o medo que a personagem sentia diante
de um ódio crescente na vila de Campo Maior contra os lusitanos é real. O
personagem não é “verdade”, mas é verdadeiro na medida em que se realiza em
suas relações com o cenário real da história.
Não vou concluir aqui oferecendo um
manual sobre como ler ou produzir uma obra que flerta com a verdade, mas
permitam-me apenas duas sugestões: questione qualquer informação,
principalmente porque a história não é uma ciência exata, mas divirta-se com
ela.
Figura 02
Figura 2 Cena da conversa sobre
preparação de ataque de organizado por Fidié após o início das conversas de
capitulação (AURÉLIO, 2018, p.188).
Figura 3
Figura 3 Fidié liderando pessoalmente
ataques contra os independentes, acontecimento que segue indicações de fontes
históricas.
Referências
ALAMEIDA, Renata Geraissati
Castro de. Os limites entre a História e a
Ficção. Hist. historiogr. Ouro preto. N. 22. Dezembro 2016. p. 202-213.
BARBOSA.
Alexandre Rodrigues de Frias. A narrativa
como ensaio para aprendizagem da História: arte e ficção na constituição do
tempo e de si. Dissertação (Dissertação em história)
– UERJ. Rio de
Janeiro. 2016.
BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas.
São Paulo: UNESP, 1992. CERTEAU, Michel. A
escrita da história. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
CHAVES,
Monsenhor. Obras Completas. Teresina:
Fundação Cultural Monsenhor Chaves. 1998.
DUBY, Georges. A história continua. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1993.
FIDIÉ, João José da Cunha. Vária Fortuna de um soldado Português.
Teresina: FUNDAPI. 2006.
MORAIS, Julierme. Reflexões sobre a narrativa histórica na
modernidade reflexiva. In: NERY, Emília Saraiva (Org). Teoria da história: articulações entre tempo, sociedade e cultura.
Teresina: Edufpi. 2018.
NEVES,
Abdias. A guerra de Fidié. Coleção
Independência. Vol 1. Teresina: Fundapi. 4ª ed. 2006.
RODRIGUES. Jose Honório in:
ABREU, Capistrano de. Capítulos de
História colonial. Sociedade Capistrano de Abreu. 5º ed. 1969.
SCHLICHTA, Consuelo Alcioni
B. D. Independência ou morte (1888), de
pedro américo: a pintura histórica e a elaboração de uma certidão visual para a
nação. ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História. Fortaleza, 2009.
WEINHARDT, Marilene. Ficção e história: retomada de um antigo
diálogo. Revista Letras, Curitiba: Editora UFPR. n. 58, p. 105-120.
jul./dez. 2002.
Notas
2 O livro Foices & Facões: A Batalha do Jenipapo é de minha própria autoria, junto com meu irmão Caio Oliveira, por isso, de antemão, peço aqui que não entendam este trabalho com um autoelogio e o observem como um relato pessoal que se deu no processo da fabricação do discurso histórico nesta obra.
3 SCHLEIERMACHER. On the Different Methods of Translation. In: Willson, A. Leslie. German Romantic Criticism. Continuum: 1982. Citação original: “In one sense every person is restricted by language; things outside the realm of language cannot be conceived clearly”.
4 Sobre os “homens comuns”, refiro-me aos trabalhadores livres, escravos, vaqueiros, roceiros etc. que participaram da luta armada de 13 de março de 1823, em detrimento aos militares, políticos e intelectuais que articularam a batalha do Jenipapo.
5 Vide, por exemplo, o programa de tv Cosmos, originalmente apresentado por Carl Sagan e que teve uma reformulação por Neil deGrasse Tyson, ambos com um discurso popular e muito atraente. Neil deGrasse, na sua versão do show, viaja pelo espaço sideral numa espaçonave que mais parece saída de um episódio de Star Trekk.
6 Existe, entretanto, matizes de entretenimento que colocariam em posições muito afastadas da mesma escala livros como A Guerra de Fidié, de Abdias Neves, e o meu Foices & Facões. Ambas são obras sobre a batalha do Jenipapo, contudo, a primeira possui linguagem acadêmica e a outra é um romance em história em quadrinhos que procura entreter muito mais que informar. As duas, porém, devem buscar informar e entreter.
7 É curioso ver o caso de outro quadrinho, mundialmente famoso, que exige para si a categoria de não-ficção: “O mesmo desconforto com relação ao esvaziamento da distinção entre ficção e realidade é expresso por Art Spiegelman, que após ter sua obra Maus colocada na categoria de ficção, rebate com tom de ironia, que não teria passado por árduos anos de pesquisa para fundamentar o livro se soubesse que seria categorizado como ficção. Para Dominick La Capra a obra de Spiegelman, que é tanto ‘uma obra completa de memória e o duelo entre reconstrução histórica auto-etnográfica e arte’ (LACAPRA 2009, p. 205) são relevantes para se problematizar esta distinção entre ficção e não ficção uma vez que estas categorias binárias não dão conta das diversidades que permeiam a escrita” (ALMEIDA. 2016, p.209). Maus é uma grande pesquisa histórica sobre a Segunda Guerra Mundial onde o autor relata as memórias do pai, que sobreviveu aos campos de concentração nazista.
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8 O soldado português Luis apaixona-se por Joana, piauiense e sobrinha de Teobaldo. No quadrinho, sobre o romance deles desmorona ares de Romeu e Julieta porque a convivência entre brasileiros e portugueses, os meus montecchios e capuletos, estava muito belicosa naquele período após o 7 de setembro de 1822.
9 “Romance Gráfico”, ou graphic novel, é um termo criado pelo quadrinista Will Eisner para divulgar sua obra Um Contrato com Deus, lançada originalmente em 1978. A expressão foi utilizada com a intenção de valorizar quadrinhos que tivessem conteúdo e forma mais parecidos com a literatura, procurando atingir novos públicos além de ser melhor aceitos pela crítica.
Boa tarde
ResponderExcluirRealmente a escola de Annales inovou muito na historiografia , trouxe uma crítica sobre a história tradicional, a inovação se dar pela a forma como a história é tratada, ela é vista de baixo , agregando todos os setores sociais e principalmente contemplando uma história mais aberta e voltada as diversas camadas sociais.
A partir disso as pessoas têm mais liberdade de escrever conforme suas mentalidades, não se restringindo, apenas, o tradicional. Portanto deixando as leituras menos cansativas e metódicas.
Teresinha Luisa Rodrigues
Boa tarde !
ResponderExcluirGostei muito da temática proposta , sobretudo, porque remete tanto à valorização do Ensino de História Local ( Piauí), quanto novas metodologias pedagógicas como a inserção de HQs.
Oportuno,posteriormente visitar a cidade de Campo maior-PI, e conhecer o Monumento alusivo à Batalha de Jenipapo.
Atenciosamente,
Maykon Albuquerque Lacerda- UEMA / Campus Caxias-MA
Obrigado pelo comentário. Apareça no monumento!
ExcluirBoa tarde!
ResponderExcluirBem legal o seu trabalho, me identifiquei, no ensino médio também preferia a História Geral. Se tivesse e fossem disponibilizadas HQs sobre a História do Brasil aposto q a pessoas iriam se interessar mais por ela.
Lara Kallyne de Sousa Candido-UFPI
Oi. Prova de que a pesquisa apresenta dados reais. as pessoas gostam de se identificar com as obras/história.
ExcluirBoa noite.
ResponderExcluirBem interessante o seu trabalho, pelo fato de você dialogar no seu texto com a verossimilhança a partir de dois campos conceituais um em âmbito fictício quando você pontua que utilizou-se de personagens que denotam subjetividade e intercalou-se com uma base de fontes e documentos oficiais que são os alicerces dessa pesquisa histórica.
Francielcio Silva da costa-UESPI
Justamente. Essa é a base de qualquer construção de romance histórico.
ExcluirBoa noite.
ResponderExcluirEstou com uma dúvida. Por que a escola dos Annales veio a se opor as escolas marxistas e positivistas?
Francielcio Silva da Costa-UESPI.
Ela não se opõe, exatamente. Muitos historiadores dos annales utilizam a dialética marxista ou procuram a isenção positivista na hora de analisar dados. É mais uma forma questionadora de agregar teorias e métodos.
ExcluirBoa noite!
ResponderExcluirSou campomaiorense e quando vi o título do seu trabalho quis logo lê-lo. Também me despertou o interesse o fato de você propor uma aproximação entre linguagem científica e a linguagem artística.
Infelizmente a Batalha do Jenipapo, um dos acontecimentos mais importantes em prol da independência do país, ainda é pouco conhecida. Quando aparece nos livros didáticos é de forma reduzida e superficial. Dessa forma seu trabalho é uma contribuição para a valorização desse momento histórico.
Quero saber de você se os professores de história da educação básica podem utilizar o livro em HQ mencionado como um recurso didático em sala de aula. Pergunto isso porque por que para nós acadêmicos as vezes é complexo entender a mistura de personagens reais e fictícios, da aproximação da história com arte, de ficção com não ficção, para os alunos no nível da educação básica essa seria uma discussão ainda mais complexa.
Outra pergunta é quanto ao nome dos personagens fictícios, o por que do nome Teobaldo? Timóteo?
Jessica Gadelha Morais. UFPI/ UESPI
Oi,
Excluir1) Pode usar sim. Mas acredito que este artigo que escrevi deve ser lido por qualquer professor que pretenda fazer isso, pois apresenta bem quais os personagens fictícios. Em futuras impressões, pretendo incluir este texto ou algo mais didático, explicando quais os personagens fictícios.
2) Quanto aos nomes, realmente não refleti muito sobre eles. Tenho dificuldade de nomear personagens. Esses que citou, simplesmente me pareceram nomes críveis para eles.
É fato que a escola dos Annales ampliou as possibilidades para pesquisa historiografia. Como o tema é "novo" aos olhos dos pesquisadores no contexto histórico, a ideia descadeada é formidável a quem se encaixa para analisar as mentalidades e o viés cultural a ser estudado, alem de moldar tal acontecimento para a população que não possuem conhecimentos acadêmicos. Jessyca Karolayne de Oliveira Sampaio. UFPI
ResponderExcluirTodas as formas de se desenvolver essa interação ensino-aprendizagem é bem vinda. Formas lúdicas e que levem o aluno a inserir a história no seu meio de forma mais prática e acessível, torna-se uma constante cada vez maior em nosso meio. Faz-se necessário apenas dosar tudo isso para que o conteúdo em si não fique a margem de todo o trabalho desenvolvido.
ResponderExcluirMaria Luíza Vieira de Carvalho-UFPI/UAB
Boa noite, muito bom seu trabalho sou de Campo maior e é bem interessante você falar sobre um assunto tão relevante que é batalha do jenipapo.
ResponderExcluirLuiz Samuel Sousa Oliveira-UESPI
A escola de Annales trouxe novas formas de enxergar a historia, com novas fontes de pesquisas que contribuiu para desenvolvimento e o pensar dos leitores e esse trabalho abordado é muito bom porque contribui tanto para a adultos e crianças se interessarem mais pela historia do seu pais e do seu próprio estado.
ResponderExcluirJEFFERSON RICARDO ALVES DE SOUSA-UFPI
ExcluirParabéns pela escrita, clara e objetiva . Se trata de uma leitura agradável e sem dúvida com muitas informações que deixa o historiador com vontade de ler novamente.
ResponderExcluirÉ muito interessante quando você aborda a importância dos annales para a construção da Nova História. Além disso, menciona a história da luta dos piauienses de forma bem dinâmica no seu texto e que valoriza com certeza a história local, as vezes camuflada.
Danúbia da Rocha Sousa
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOi, você por aqui?
ExcluirObrigado por ler!
Conta a batalha do jenipapo a partir da perspectiva da nova história cultural, se utilizando da volta às narrativas é fundamental. Você trouxe essa discussão brilhantemente. Parabéns pela escrita agradável.
ResponderExcluirVanessa Cristina da Silva Sampaio - Universidade Federal do Amazonas - UFAM
Boa noite, Bernardo Oliveira. Achei bastante relevante o seu trabalho, primeiro porque se trata de um fato pouco conhecido (até mesmo para alguns piauienses) e discutido no meio historiográfico – a Batalha do Genipapo, um símbolo de luta e resistência pela independência do Brasil. E segundo, porque está inserido no campo da Nova História Cultural, pelo fato de ter sido utilizado a imagem e a narrativa como fontes de pesquisa e pela relação existente entre a história e a arte. O que motivou a escolher esse tema e qual(is) dificuldade(s) encontrada(s) durante a realização da pesquisa?
ResponderExcluirIsaildo de Carvalho Veloso - UFPI
"O que motivou a escolher esse tema?"
ExcluirAcredito que queira saber pq escrevi este artigo e não porque fiz o quadrinho, certo? Acredito que no seu comentário está a resposta. Todo o foco da minha formação é voltada para história cultural, minha produção é centrada nos quadrinhos. Uma coisa levou à outra.
Quanto às dificuldades para a produção deste texto, não foram muitas. Me pareceu que estava escrevendo um relatório de um trabalho que eu já tinha feito. As citações teóricas das partes iniciais foram levantadas em artigos que escrevi durante especialização e mestrado. Então, só juntei o que já tinha
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ResponderExcluirMeus parabéns. Seu trabalho é de grande importância para a construção da historiografia piauiense.
ResponderExcluirContinue se esforçando e pense grande.
Gostaria de saber quais foram suas dificuldades para começar esse trabalho e qual sua opinião sobre trabalhar com chilografura.
Talia Silva do Carmo -UESPI
A xilogravura é interessante e possui até ligação com os quadrinhos. As narrativas medievais eram impressas por meio de xilo com imagens sequenciais e lidas em praça pública para os iletrados. É algo interessante, mas nunca pesquisei.
ExcluirQuanto às dificuldades para a produção deste texto, não foram muitas. Me pareceu que estava escrevendo um relatório de um trabalho que eu já tinha feito. As citações teóricas das partes iniciais foram levantadas em artigos que escrevi durante especialização e mestrado. Então, só juntei o que já tinha.
Por ser filha de Campo Maior, fico muito feliz em ver o progresso dos nossos.
ResponderExcluirContinue assim
Talia Silva do Carmo -UESPI
Acredito eu que a chilografura daria uma personalidade a mais no seu trabalho
ResponderExcluirTalia Silva do Carmo UESPI
Espero progredir assim como vc, autor deste trabalho. Maravilhoso
ResponderExcluirTalia Silva do Carmo UESPI
Bom dia professor Bernardo, seu trabalho é muito claro, e agradável de ler. Seu trabalho apresenta uma nova perspectiva Para a construção histórica e uma nova ferramenta para o estudo dos fatos históricos, precisamos realmente encontrar novas maneiras de trabalhar a História sem que haja a perda das análises em cima do objeto de estudo. Apresentar essas informações de maneira lógica, clara e de uma forma que se torne acessível para o grande público é essencial na produção historiográfica, pois a História deve ser apresentada não apenas no âmbito acadêmico!
ResponderExcluirMateus de Sousa Almeida.
Adorei seu trabalho, irei usar os quadrinhos em minhas aulas sobre historia do Piauí.
ResponderExcluirCAROLINE PINHEIRO DE OLIVEIRA - UFPI
Boa noite.
ResponderExcluirRelendo novamente seu artigo, percebi que ele faz referencia ao conceito de História Cultural que busca trabalhar outras fontes e não apenas os documentos que expressam pontos de vista oficiais, dialogando assim com as abordagens da antropologia e da história para olhar para as tradições da cultura popular e interpretações culturais da experiência histórica e humana. Pautando-se nessa definição seu trabalho que conecta a essa metodologia historiográfica fruto dele aplicar o contexto histórico da batalha do Jenipapo por meio das técnicas dos quadrinhos.
Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.
Boa noite.
ResponderExcluirAlém disso, identifiquei lendo seu artigo que o autor no seu quadrinho traz o debate da maneira como um historiador relata uma história onde ele faz sínteses através de diferentes ritmos temporais ou seja, simplificando ele pode citar momentos históricos não seguindo exatamente uma linha cronológica e que isso é bastante comum e corriqueiro no oficio do próprio historiador controlar o tempo histórico. E você salienta de maneira didática.
Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.
Acho q é isso mesmo. Obrigado.
ExcluirSeria muito importante que o dia do Piauí fosse no dia da Batalha do Jenipapo.13 de Março
ResponderExcluirPor Maria Cândida de Jesus Pereira
Parabéns pelo trabalho. As aulas de história podem se tornar mais atrativas para os alunos, quando propomos renovar o ensino de história, utilizando documentos históricos, imagens, documentários, HQs, dentre outros. Em relação a isso, Foices & Facões é uma obra riquíssima para despertamos a consciência crítica e reflexiva dos nossos alunados sobre a historiografia do Piauí.
ResponderExcluirPor Amarildo de Sousa Rabelo
Outro ponto importante abordado na obra Foices & Facões é a utilização da literatura como forma de ilustrar o contexto histórico. Isso contribui para desmitificar a crença difundida de que ficção literária é comparada a algo que não é verdade, sendo quase sempre colocada ao lado da mentira e do descrédito.
ResponderExcluirPor Amarildo de Sousa Rabelo
Ótimo artigo, uma leitura direta e agradável.
ResponderExcluirÉ importante destacar que os historiadores ou escritores em geral podem utilizar-se de ferramentas e meios durante sua escrita.
Muitas vezes a falta de fontes sobre um tema, ou os poucos documentos dificultam a escrita sobre um determinado fato, pois podem privilegiar somente uma parte envolvida e colocá-los como heróis.
A criação de personagens sempre seguindo uma lógica não deixa de ser um recurso a ser utilizado e não configura-se necessariamente como mentira. Fazer isto e contar através de HQ´s é interessante porque torna o fato mais atrativo principalmente para as crianças e adolescentes.
FRANCISCO LUCAS GONÇALVES DOS REIS.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - CAMPUS CAXIAS.
Boa tarde.
ResponderExcluirSe percebe que esse artigo ao adaptar o conteúdo da batalha do Jenipapo com o recurso da História em quadrinhos, a ficção histórica ganha relevância principalmente por buscar no entretenimento os mecanismos de sedução e de convencimento de novos públicos, neste caso é uma maneira didática se está fazendo as pessoas se engajarem no ato educacional da leitura.
Francielcio Silva da Costa. Universidade Estadual do Piauí-UESPI.
Muito legal esse trabalho.
ResponderExcluirA arte, fato e ficção numa narrativa que consegue puxar o leitor pra dentro da história, onde o autor ao dialogar com o texto o valoriza ainda mais e facilita a leitura e o entendimento do fato histórico.
João Raimundo dos Santos