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COTIDIANO DE BATH REPRESENTADO EM “A ABADIA DE NORTHANGER” DE JANE AUSTEN – 1817


Camila Rafaela Pereira de Souza
Mestranda em História pelo Programa de Pós-Graduação em História e Espaços da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Licenciada em História pelo curso de graduação do Departamento de História do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES) da mesma Universidade. E-mail: camila.rafaela16@hotmail.com.


Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar como os espaços são representados na obra A Abadia de Northanger (1817) da escritora inglesa Jane Austen. Utiliza-se de conceitos teóricos no campo das representações a partir das obras do autor francês Roger Chartier para justificar o uso e manipulação da fonte. Observa-se, portanto, como os espaços foram caracterizados a partir das experiências das personagens do romance analisado e como se deu o desenvolvimento da cidade a partir dos usos dos seus espaços, assim como tais usos foram feitos a partir de uma generificação desses espaços.

Palavras-Chave: História. Espaços. Bath. Jane Austen.


Considerações iniciais

Buscando a utilização da Literatura enquanto fonte histórica, o objeto de estudo deste trabalho é o livro “A Abadia de Northanger” da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817). Meu interesse por essa pesquisa se deu a partir da proposta de se pensar os espaços físicos e simbólicos experienciados pelas mulheres/personagens das narrativas e enunciados de uma também mulher/autora inglesa, dessa maneira todas as análises neste trabalho serão feitas a partir da vivência da personagem feminina protagonista da obra.
A generificação dos espaços[1] pode ser uma forma crítica de interpretar fracionamentos sociais e tratamentos desiguais presentes na sociedade, denunciados na literatura. Este que também era um espaço dominado por um gênero, já que o contexto de produção analisado era bastante dominado por uma produção masculina[2]. Quando Jane Austen passa a publicar suas obras, juntamente com outras autoras mulheres da época, como Fanny Burney e Maria Edgeworth, elas abrem espaço para que mais mulheres possam sonhar com a escrita. Austen manipula, satiriza, ironiza e transforma em comédia todos os mandos sociais da sua época. Utilizando-se da ironia da linguagem, a autora ataca pressupostos da sociedade que geralmente envolvem uma visão tradicional sobre a mulher e os transforma em riso. Dessa forma, percebe-se que a autora e suas singularidades enquanto mulher e autora merecem destaque nessa nova História das Mulheres[3] que vem sendo desenvolvida. Segundo Joan Scott (1992), não há dúvidas de que a História das Mulheres, mesmo que recente, é uma prática estabelecida em muitas partes do mundo, pois com as transformações na Historiografia do século XX possibilitou-se um processo de inserção do feminino na condição de objeto e sujeito de pesquisa histórica. Assim como pensa Joana Maria Pedro, quando diz que “na trilha da História das Mulheres, muitas pesquisadoras e pesquisadores tem procurado destacar as vivências comuns, os trabalhos, as lutas, as sobrevivências, as resistências das mulheres no passado” (Pedro, 2005, p. 85).
Por tratar do espaço representacional, no que diz respeito às discussões historiográficas que guiam esse artigo, estas se situam no campo da História Cultural. Entendendo que a Literatura, assim como todo objeto cultural, é também um meio capaz de gerar representações, o conceito trabalhado por Roger Chartier, torna-se de grande valia para essa pesquisa. É a partir das representações que as sociedades observam a realidade e determinam sua existência. Pensando a partir das contribuições de Chartier entendo que é através do próprio interesse que alguns grupos impõem sua visão de mundo ou sua própria posição no mundo, por meio das representações. E é para entender e analisar tais representações, inclusive espaciais, que a Literatura surge como uma espécie de “fonte” e via de acesso, ampliando os paradigmas interpretativos necessários à análise historiográfica.
Para quem não está familiarizado com a autora e sua obra, farei uma breve apresentação sobre as duas a partir de agora. Começando pela criadora, Jane Austen foi uma escritora inglesa que nasceu em Steventon, Hampshire, um condado no sul da Inglaterra, no dia 16 de dezembro de 1775 e faleceu em 18 de julho de 1817. Jane Austen é, atualmente, uma das escritoras inglesas mais aclamadas no universo literário[4]. Vinda de uma família estabelecida na nobreza rural, chamada de “gentry”, através do comércio de tecidos e, conseguiu, ainda, ter acesso à educação junto com seus outros irmãos (Reef, 2014). Em 1783, Austen foi enviada junto com sua irmã, Cassandra, à escola. Estes estabelecimentos escolares eram considerados de “refinamento” das meninas. As meninas Austen frequentaram por pouco tempo a escola, voltando definitivamente para Steventon em 1786 e nunca mais receberam uma educação formal. “Desde o começo do século XIX foram fundadas muitas escolas, que formaram os rapazes e os iniciaram no futuro papel de “capitães da indústria”. As moças, por sua vez, eram quase sempre educadas em casa (Hall, 2009). Em casa, na juventude, Jane praticava canto e aulas de piano, lia francês com facilidade e sabia um pouco de italiano.
Em 1797, Jane Austen com apenas 22 anos, já havia escrito dois romances: “Razão e Sensibilidade” e “Orgulho e Preconceito”. Oferecidos pelo seu pai a um editor, os livros foram rejeitados. A publicação demorou mais de uma década para ocorrer e os dois títulos só foram publicados em 1811 e 1813 respectivamente. O primeiro livro de Austen foi publicado com a assinatura “By a Lady” para que o verdadeiro nome da autora não fosse levado a público. Tal fato não aconteceu apenas com Austen, como Virginia Woolf descreveu no seu ensaio “Um teto todo seu” que debatia sobre produção intelectual feminina, esse teria sido um resquício do sentimento de castidade que teria ditado o anonimato às mulheres no século XIX[5]. Apesar disso, seu poder de observação do cotidiano lhe rendeu suporte suficiente para criar e dar vida as personagens das suas obras. Jane Austen aos seus quarenta e um anos já se encontrava, infelizmente, acometida pela doença que daria fim a sua vida. Sua doença ainda é um mistério até hoje. Médicos e historiadores podem apenas supor. Os sintomas apresentados eram semelhantes aos da doença de Addison[6], provavelmente adquirida por meio de uma tuberculose. A doença ia se agravando a cada temporada, mesmo Austen insistindo na sua melhora. No dia 18 de julho de 1817 Jane Austen deu o seu último suspiro de vida (Reef, 2014).
Logo após a morte da autora, duas obras foram publicadas postumamente: “Persuasão” e “A Abadia de Northanger”. Finalizado em 1803, mas só publicado em 1817[7]. Em A Abadia de Northanger, obra foco da análise desse trabalho, a história escrita se divide em dois momentos: no primeiro, Catherine Morland, a personagem principal, viaja com os Allen, seus vizinhos; no segundo, sua viagem à Abadia de Northanger e a convivência com os Tilneys, família dos amigos que Catherine tinha conhecido durante sua estadia em Bath. A aventura de Catherine inicia-se quando seus vizinhos, os Allen, a convidam para passar uma temporada em Bath, cidade que será foco da nossa análise. Nesse trabalho há um tipo de espaço que me interessa especificamente: o espaço humano ou social, onde se desenrolam as relações entre as personagens do romance. Ao levar em conta que o espaço não é vazio, e que o espaço humano só pode se constituir como tal a partir do seu uso, este só pode ser considerado através da ligação e vivência entre as pessoas e as atividades que nele se realizam. Dessa maneira, entendo que o espaço só pode ser entendido através da interdependência que se estabelece entre ele, as pessoas que o ocupam e as ações que são executadas dentro de seus limites. Por essa razão, essa análise será feita a partir das experiências das personagens dentro do espaço representado no romance, a cidade de Bath.
Bath fica localizada no sudoeste da Inglaterra e foi fundada no século I d.C. pelos romanos que foram atraídos pelas suas fontes termais naturais. Tornou-se na Idade Média um grande centro da indústria de lã. No século XVIII, sob o reinado de George III, desenvolveu-se em uma cidade elegante bastante famosa na literatura e na arte, com edifícios neoclássicos que se misturam harmoniosamente com os banhos romanos presentes na cidade. Bath era muito famosa por seus passeios, bailes, concertos e festas. Além disso, era conhecida também por suas fontes de águas termais, onde muitas pessoas se dirigiam para beber a água que borbulhava das fontes térmicas, acreditando ser esta “a cura para suas enfermidades”. Com toda essa agitação, Bath era o lugar propício para Catherine viver suas aventuras como heroína. Em um dos bailes, ela dança com um jovem pároco chamado Henry Tilney. No dia seguinte conhece uma nova amiga, Isabella Thorpe, com quem divide o mesmo gosto pelos romances góticos tão famosos na época, como “The Mysteries of Udolpho de Ann Radcliffe, obra que narra as experiências de uma órfã num castelo em terras distantes. A partir da amizade com Isabella, Catherine conhece seu irmão, John Thorpe, que acredita ser ela herdeira de uma grande herança e por isso se sente no “dever” de cortejá-la. Logo após esses acontecimentos, Catherine encontra novamente Henry Tilney e conhece sua irmã, Eleanor, e seu pai, o general Tilney, dono da abadia que dá nome ao livro. O general ficara sabendo também que Catherine herdaria uma grande soma de dinheiro e, por isso, ele acaba escolhendo-a para ser a esposa de Henry. Porém, logo essa história é desmentida e o general volta atrás com a sua palavra. No entanto, não consegue mais separar Henry e Catherine, que acabam casando no fim da história, mesmo ela não tendo uma herança, e sendo, segundo os costumes da época, uma “péssima opção para o matrimônio” (Austen, 2013).
 “A Abadia de Northanger” foi escrita no fim do século XVIII e publicada no século XIX. Pensando sobre o tempo, percebe-se que Austen escrevia num momento crucial para a Inglaterra e para os demais países do mundo. Nesse período uma das maiores revoluções estava acontecendo, ou melhor, “explodindo”, a Revolução Industrial. As cidades inglesas cresceram rapidamente a partir do século XIX, algumas cidades desenvolviam-se economicamente e socialmente e se antagonizavam com a outra realidade ainda presente, a vida rural que muitos ingleses ainda insistiam em manter. A relação entre campo e cidade se intensificava, transformando economicamente e socialmente as relações humanas estabelecidas por esse contato. Numa passagem da obra, Austen representa esse antagonismo entre o campo e a cidade apresentada por um diálogo entre a personagem Catherine e o Sr. Tilney:

– Continua achando Bath tão deliciosa como quando tive a honra de lhe fazer a pergunta antes?
– Continuo... até mais, na verdade.
– Até mais! Cuidado, ou vai esquecer-se de se cansar dela quando chegar a hora. A senhora deve estar farta de Bath ao fim de seis semanas.
– Não acho que vá cansar-me de Bath se passar seis meses aqui.
– Comparada a Londres, Bath tem pouca variedade, e a cada ano as pessoas fazem esta descoberta. “Por seis semanas, concordo que Bath seja muito agradável; mas se passar disso, é a mais enfadonha cidade do mundo.” É o que diria gente de todo tipo que vem para cá regularmente a cada inverno, prolonga as seis semanas para dez ou doze e acaba indo embora porque não suporta mais estar aqui.
– Bom, cada um deve ter sua própria opinião, e quem vai a Londres pode achar que Bath não é nada. Mas eu, que vivo num lugarejo perdido no interior, nunca vou achar mais mesmice num lugar como este do que em minha própria casa; pois aqui há muita variedade de diversões, muita variedade de coisas para ver e para fazer o dia inteiro, algo que não conheço por lá. (AUSTEN, 2013, pp. 85-86).


Nesse fragmento lê-se duas opiniões contrárias, a de Catherine, que vivendo no campo acredita que a cidade é um lugar bem mais variado em acontecimentos e pessoas; e a opinião do Sr. Tilney, que já conhecendo o cotidiano de Bath e de outras cidades como Londres, acredita que a vida no campo seja mais racional do que a vida na cidade. Keith Thomas (1988) explica que esse sentimento característico do personagem do Sr. Tilney não era algo incomum na época. Havia um endeusamento do campo em relação a cidade. Com a superpopulação e insalubridade que tomaram conta de cidades como Londres, muitas pessoas viam no campo um ponto de fuga. Longe da fumaça e do perpétuo barulho, inúmeros habitantes urbanos imaginavam e ansiavam pelas delícias de uma vida rural. No entanto, Thomas chama atenção para um ponto que talvez fosse o caso do nosso personagem. Havia uma tendência a depreciar a vida urbana e encarar o campo como símbolo de inocência que repousava numa série de ilusões. Os moradores do campo não eram mais inocentes que os habitantes das cidades. Contudo, havia aquelas pessoas, como Catherine que não se deixava levar por tais discursos, e certamente não foi persuadida a mudar sua opinião em relação a cidade. Bath, era vista por Catherine Morland como um lugar de realizações, cheia de entretenimento e lugares novos para apreciar, algo que não se via no vilarejo onde morava. Por essa razão, as cidades eram visitadas constantemente durante algumas temporadas do ano por famílias que moravam no campo e que buscavam nela serviços que não se encontravam com frequência onde residiam.
A prática de utilizar água como tratamento medicinal remonta as antigas civilizações gregas e romanas. O uso dessas águas medicinais se dava nas termas que eram locais luxuosos com áreas para banhos e lazer, onde se reuniam várias pessoas em busca de cura e diversão (Quintela, 2004). Desde a ocupação romana, na Antiguidade, Bath se desenvolveu em volta dos famosos balneários de águas termais. Os romanos, aficionados em banhos, construíram enormes instalações que serviam como piscinas públicas e como lugar de encontros casuais e de negócios.

O balneário era o lugar onde se devia encontrar alguém chegado a Bath há tão pouco tempo, e ela já havia achado aquele edifício tão propício ao descobrimento da excelência feminina e ao aprofundamento da intimidade feminina, tão admiravelmente adequado à troca de segredos e à confiança ilimitada, que ela estava muito razoavelmente esperançosa de conseguir fazer mais uma amiga entre aquelas paredes (AUSTEN, 2010, p. 67).

Multidões entravam e saíam a cada momento durante os períodos de maior movimento. A partir de tais encontros várias atividades se desenvolviam e podiam ser encontradas nas cidades, tais quais os teatros e bailes, que serviam também como espaços de encontro bastante comuns. Além de ser uma prática social, a dança permitia que os jovens se conhecessem. Para muitas moças que frequentavam os Salões Inferiores para os bailes, esta era uma oportunidade de encontrar quem poderia vir a ser seu marido em um futuro próximo. Homens e mulheres estão situados de maneiras distintas no mundo e suas relações com os lugares onde suas vidas se desenvolvem também são diferentes. Na época da autora havia um código de conduta e moral a se cumprir, pois a concepção do entendido como “valores da sociedade”, parecia esperar um comportamento “digno de uma mulher” com idade para se casar. Uma moça solteira deveria sempre estar acompanhada em público, e só podia falar com um rapaz caso estivessem sido adequadamente apresentados. O lugar da mulher foi de longe o que mais sofreu com tais normas, já que, diante de uma sociedade patriarcal, ela deveria se submeter às vontades de outras pessoas, antes de satisfazer as suas próprias. Por essa razão, é necessário fixar o olhar nas dimensões social e cultural da diferença sexual, muito mais do que apenas observar suas diferenças biológicas. Decerto, os espaços são produzidos e experienciados a partir da negociação entre corpo e espaço.
Jane Austen, mesmo escrevendo durante um período de grandes acontecimentos, decidiu ignorar os eventos históricos que estavam ocorrendo e focalizar em um problema (Foucault, 2003), prendendo o olhar principalmente na História Social das famílias de proprietários rurais ingleses daquele tempo, representando seus processos estruturais e os padrões que orientavam a sociedade e o comportamento humano (Williams, 1989). Austen ao se lançar em projeto, como o da escrita, tão pouco atribuída às permissões das mulheres de sua época, contribuiu para emergir (re)configurações das posições das mulheres: seja em sua obra, seja na sua prática como escritora crítica.

Considerações Finais

A obra de Austen, apesar de pouco estudada por historiadores brasileiros, nos permite pensar questões tais quais foram discutidas anteriormente e nos possibilita entender como estavam organizados os espaços, as cidades e a própria sociedade inglesa no início do século XIX de tal forma que a projeção das relações sociais de gênero conformava os espaços e as concepções sobre esses. Austen criou personagens bem elaboradas e marcantes, cheias de virtudes, preconceitos e que representam a influência do público e do privado nas relações familiares. Personagens essas que recriaram e perpetuaram um imaginário sobre os traços e peculiaridades da sociedade inglesa do período georgiano. Tais traços impulsionam a visualizar a história através de outro ponto de vista, para melhor compreender essa sociedade em transformação e suas peculiaridades. A literatura se apresentando como esse outro caminho, outro olhar, torna-se, portanto, uma ótima possibilidade de observação e pesquisa sobre os hábitos sociais que dão cores à história e que podem e devem ser focos de análise do nosso trabalho enquanto historiadoras e historiadores.


Referências

AUSTEN, Jane. A Abadia de Northanger. São Paulo: Martin Claret, 2013. [Edição Original: 1818].

BURKE Peter. O que é História Cultural? Tradução: Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2008.

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 2002.

MASSEY, Doreen. Pelo Espaço: uma nova política da espacialidade. Tradução: Hilda Pareto Maciel e Rogério Haesbaert. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

FOUCAULT, Michel. “A Poeira e a Nuvem”. In: Ditos & escritos IV: estratégia, poder-saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, pp. 323-334.

GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri (org.). Dicionário de Termos Médicos e de Enfermagem. São Paulo: Rideel, 2002.

HALL, Catherine. Sweet Home. In: PERROT, Michelle (Org.). História da Vida Privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. Cap. 1. p. 47-76.

PEDRO, Joana Maria. “Traduzindo o Debate: o uso da categoria gênero na pesquisa histórica”. Revista História (São Paulo), volume 24, número 01, 2005, pp. 77-98.

QUINTELA, Maria Manuel. Cura termal: entre as práticas “populares” e os saberes “científicos”. 2004. Disponível em: <http://www.ces.uc.pt/lab2004/inscricao/pdfs/painel37/MariaManuelQuintela.pdf>.

RAGO, Margareth. “As Mulheres na Historiografia Brasileira”. In: SILVA, Zélia Lopes (org.). Cultura Histórica em Debate. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista (UNESP), 1995, pp. 81-91.


SCOTT, Joan Wallach. A Cidadã Paradoxal: as feministas francesas e os direitos do homem. Tradução: Élvio Antônio Funck. Florianópolis: Mulheres, 2002.

WILLIAMS, Raymond. O Campo e a Cidade: na história e na literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

WOOLF, Virgínia. Um teto todo seu. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.



[1] O espaço, enquanto conceito, é político, e, além disso, é fruto de questões sociais e de gênero. A organização espacial é produto das relações de gênero instituídas socialmente e assim hierarquizadas. O espaço não existe antes das identidades e de suas relações. As identidades, as relações entre elas e a espacialidade que delas faz parte são todas constitutivas (MASSEY, 2008, p. 30).
[2] É importante lembrar que, mesmo as narrativas sobre as mulheres e seu espaço na sociedade e na literatura nos séculos XVIII e XIX, em sua maioria, eram produzidas por homens (Pamela, escrito em 1740 por Samuel Richardson; Madame Bovary, escrito em 1856 por Gustave Flaubert).
[3] Pesquisas sobre o feminino começaram a desenvolver um novo campo: segundo Joan Scott, o surgimento desse campo específico nos Estados Unidos e na Europa esteve relacionado principalmente à política feminista que atingiu seu ápice entre os anos de 1960 e 1970. Cf. SCOTT, 2002.
[4]Autora de seis romances: “Razão e Sensibilidade (1811)”, “Orgulho e Preconceito (1813)”, “Mansfield Park (1814)”, “Emma (1815)”, “A Abadia de Northanger (1817)” e “Persuasão (1817)”, considerados clássicos até os dias atuais.
[5] Currer Bell [pseudônimo de Charlotte Brontë], George Eliot [pseudônimo de Mary Ann Evans] e George Sand [pseudônimo de Amandine Aurore Lucile Dupin], todas essas autoras teriam sido vítimas do conflito interno causado pela pressão da sociedade e buscaram inutilmente esconder-se atrás de nomes masculinos (Woolf, 1985, p. 63).
[6] “Doença causada por insuficiência da porção cortical das glândulas supra-renais, acarretando modificações importantes no organismo, como perda de sal, água e diminuição progressiva do líquido circulante. O nome recorda o médico inglês que identificou a afecção. Sintomas: manchas bronzeadas na pele, manchas nas mucosas, grande astenia, dores lombares, pressão baixa, vômitos, perda de peso, diminuição do fluxo de urina”. Cf. GUIMARÃES, 2002, p. 26.
[7] Esse tempo entre sua finalização e publicação se deu pelo fato de que o editor que comprou os direitos do livro não o considerou bom o suficiente para ser publicado e, por isso, resolveu deixá-lo de lado. Só após sua morte o irmão de Austen consegue comprar os direitos do livro de volta e o publica postumamente (REEF, 2014).

Comentários

  1. Muito bom o texto. Sua narrativa é muito boa e o tema é muito relevante (gênero e literatura). Mesmo que nos dias de hoje exista já várias pesquisas com relação a gênero, é sempre importante falar das potencialidades do feminino na história. Ter exposto resumidamente a biografia da escritora inglesa facilita o leitor que a desconhece a se preparar para entrar no enredo de sua narrativa. Parabéns pelo trabalho!

    Davi Benvindo de Oliveira

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    1. Oi Davi, fico feliz com o seu comentário! Acredito que mesmo com a abundância atual de trabalhos sobre gênero, ainda estamos longe do ideal. Ainda precisamos nos libertar de algumas amarras que só o tempo e o desenvolvimento de pesquisas irão possibilitar. Busco trabalhar com Jane Austen tanto para trazer suas contribuições como mulher e escritora para a História, quanto para mostrar que é possível fazer um trabalho que não seja sobre um grande nome ou um grande acontecimento, já que ela escreve sobre o cotidiano inglês do século XIX, nada de esplêndido acontece nas suas obras, mesmo que todo o contexto da época esteja lá, mas mesmo assim é uma obra que possui muito potencial para a pesquisa histórica.

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  2. PATRICIA DA SILVA AZEVEDO31 de julho de 2019 às 18:36

    Camila, quantas conversas já tivemos sobre nossas pesquisas, perceber que elas estão criando "corpo" e ocupando novos espaços é prazeroso. Deixo uma nova descoberta que fiz nos últimos meses, a indicação do livro da Saffioti, acho que ela pode lhe trazer novas possibilidades de discussão sobre o feminino.

    Patrícia da Silva Azevedo (PPGH-UFRN)

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    1. Oi, Patrícia!
      Siiim, é algo tão trabalhoso mas tão prazeroso também, né? Ver um trabalho nosso feito depois de tanto esforço nosso e depois de passar por tanta coisa é muito gratificante. Sobre a sua indicação, vou anotar aqui e com certeza irá para a dissertação pq se encaixa perfeitamente em um dos meus capítulos que é justamente pensar nas diferenças entre as mulheres principalmente nas questões de classe. Obrigada!

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