Maria Luiza
Vieira de Carvalho
Graduanda de
licenciatura plena em História pela Universidade Federal do Piauí, Centro de
educação Aberta e a Distância, Polo Concita Mendes
Resumo: O Piauí foi um
estado que teve em sua essência as atividades do ramo da agropecuária em suas
bases de desenvolvimento. A pecuária teve em sua gênese os fundamentos para a
criação do estado do Piauí no âmbito de sua principal forma de obtenção de
lucros. As fazendas de gado e as sesmarias foram em essência as bases criadoras
das estruturas de criação do estado. A agricultura foi mola de subsistência
para o desenvolvimento da região, não de forma tão marcante, porém, de extrema
importância.
Palavras-Chave: Piauí. Pecuária.
Agricultura.
O Piauí é um estado que
teve suas bases de formação direcionadas por atividades agropastoris, onde
diversas especificidades agrícolas e pecuárias se fizeram presentes de forma
marcante. A intensa ocupação da zona da mata no Nordeste pela cultura da cana
de açúcar, fez com que fosse necessário a busca de novas opções de comércio que
auxiliassem na manutenção dos engenhos e toda essa confluência contribuiu para
as bases da construção do Piauí como nós observamos em seus auspícios.
Com essa forma de
desenvolvimento e expansão, a pecuária foi a grande mola de transformação e subsistência
das atividades ligadas aos engenhos. A pecuária é uma atividade que não
requeria para os trabalhadores grandes somas de investimentos ou estruturas
mais elaboradas, isso aliada a um grande pasto e uma faixa considerável de
terra a ser desbravada, contribuiu para o desbravamento de muitas áreas no
território brasileiro.
Nesse processo de
desenvolvimento e expansão de território nordestino, dois locais foram
pioneiros e de grande relevância para o processo, Pernambuco e Bahia.
Pernambuco teve na cidade de Olinda o seu principal ponto de distribuição e
irradiação, sobretudo para a Paraíba e o Rio Grande do Norte, chegando até
terras cearenses. A pecuária foi para a parte baiana um grande incentivo, pois
os negócios e suas práticas adjacentes na cidade de Salvador onde foram criadas
as primeiras cercanias e instalações de currais.
Depois de diversas
extensões de terra conquistados no que diz respeito a produção e pecuária, o
povoamento que se iniciara desenvolveu-se em direção a chapadas de Araripe e
Mangabeiras. Depois de ultrapassar as águas do São Francisco e do Parnaíba, criaram-se
as bases para a formação do território piauiense.
As Bases da Ocupação no Piauí
A ocupação do território piauiense se deu
a partir da segunda metade do século XVII na parte conhecida como “Sertão de
Dentro”, na parte leste e sul do território, pelas margens dos rios Gurguéia,
Paraim, Piauí e Canindé. Depois de um certo tempo, a atividade pecuária
desencadeou-se para Parnaíba e consequentemente desembocou no lado maranhense.
De acordo com ABREU (1969: 158):
“Em 1751 a Capitania
[do Maranhão] contava com oito freguesias, cinco engenhos de açúcar, duzentas e
três fazendas de criar gado, das quais quarenta e quatro em pastos bons e
trinta e cinco em aldeias altas que perfaziam uma grande soma.”
O
território piauiense começou de forma interligada a Casa da Torre e sua
conquista de terras de forma intensa, tal casa se constituía de uma instituição
administrada pela família baiana Ávila. A referida instituição tinha como
principal função, incentivar desbravadores que iam desde caçadores de índios a
buscadores de terras destinadas e próprias para o ramo pecuário. Após a
conquista das terras, o mecanismo de sesmarias era implantado (ASSIS; OLIVEIRA,
2009).
Um dos nomes mais marcantes nesse
processo era o do bandeirante português Domingos Afonso Mafrense que foi um
grande desbravador dos sertões piauienses. Em 1970 Afonso Mafrense se instalou
nas proximidades do rio Canindé, onde deu início a ocupação que tempos depois
viria a ser território piauiense fundando mais de 30 fazendas de gado. Os
vaqueiros foram na realidade os grandes desbravadores do solo piauiense. O
grupo dos Mafrense foram os primeiros a serem detentores de títulos no
território piauiense, onde ao longo do tempo começaram a trabalhar o espaço,
porém, de forma bastante incisiva e autoritária, não dando margem para
participações alheias a suas vontades (ALVES, 2003).
Poucas pessoas participavam de forma
independente e ativa das decisões e do controle das terras no território
piauiense, o próprio Afonso Mafrense após fundar fazendas e sesmarias, retorna
para a Bahia onde fixa residência. A maioria das terras foi entregue a
vaqueiros em forma de arrendamentos e poucas tinham realmente em seu controle
os verdadeiros detentores dos direitos sobre a posse da terra de forma legal e
irrestrita. Ausência dos proprietários
das terras no seu controle poderia ser entendida pela falta de estruturas de
moradia e saneamento básicos e que de forma precária ou inexistentes eram encontradas
nessas regiões que os seus territórios estavam inseridos. Somavam-se a isso o
perigo de ataques por parte de índios e outras sortes que se apresentavam na
região ocupada. Segundo ALVES (2003):
‘Esse
caráter rústico, extensivo e disperso contribuía para o isolamento da população
piauiense, cuja vida se resumia ao trabalho dentro das fazendas, sem muita
comunicação com o mundo exterior. Frequentemente o contato com o mundo fora das
fazendas somente ocorria quando passavam por ali os transportadores das
boiadas; eram eles que levavam e traziam notícias de outras áreas’.
Motivado por tais situações, os núcleos de
povoamento na região eram bastante reduzidos no período de início das
conquistas, surgindo somente no século XVII o primeiro núcleo de povoamento do
Piauí conhecido como freguesia de Nossa Senhora da Vitória, que se elevou a
categoria de vila no século seguinte, ganhando o nome de Vila da Mocha. Esta
Vila que mais tarde se tornaria sede do governo recebendo o nome de Oeiras
(SOUSA, 2005).
A importância da
Pecuária no desenvolvimento do Piauí
A pecuária foi sem sombra de dúvidas a atividade que
contribuiu de forma substancial para o Piauí desde os seus primórdios, acha
visto que na região estão reunidas todas as condições para o pleno
desenvolvimento dessa atividade, tais como terras abundantes com pastagens e
muitas seguidas de cursos de rio que contribuíam bastante para tal fim. O número
de pessoas que a região dispunha era muito reduzido devido as condições que a
região impunha aos mesmos, porém, para atividades ligadas as fazendas e
pecuária não se necessitou de tantos recursos humanos (ALVES, 2003).
As fazendas de gado se tornaram
inúmeras no Piauí e todas as atividades econômicas da região se mantinham em
tono disso. A região se tornou uma das principais criadoras de gado da região,
onde se mantinha comercio fecundo com várias regiões, principalmente com
Pernambuco e Bahia. Muitos rebanhos eram perdidos devido a distância entre as
fazendas e seu local de compra, porém, era um comércio considerado lucrativo
para os piauienses atingido somas importantes. Com o crescimento do comércio de
gado, outras regiões passaram a entrar no rol de praças de comercialização como
o Maranhão, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Pará e Minas Gerais (QUEIROZ,
2006).
Pela força que a pecuária tinha na
região, as outras atividades exerciam um papel coadjuvante na obtenção de
lucros para o comércio. A agricultura era a segunda maior área de negociação e
principalmente de práticas de subsistência, não sendo considerada a época,
grande fonte de lucros para a região. As terras que se dispunha, apesar de
serem de extensões muitas das vezes consideráveis, não estavam prontas para o
cultivo e prática agrícola, visto que estavam inteiramente destinadas a criação
do ramo pecuário e suas pastagens. Todos os hábitos e tradições que foram sendo
desenvolvidas na região, há de forma presente os aspectos advindos da pecuária
e sua influência. Os produtos fabricados a partir do couro, por exemplo, era
uma forma bem visível de se perceber a forte influência que esse ramo de
atividade tinha e tem na região piauiense (ASSIS; OLIVEIRA, 2009).
A Agricultura no
contexto de desenvolvimento do Piauí
A agricultura como forma de subsistência foi
extremamente importante apesar de não ser a principal fonte de comércio e renda
da região. Os moradores dessa região cultivavam culturas de ciclo curto e que
eram utilizados para sustento próprio como milho, feijão, arroz e mandioca e de
forma menos presente a cana de açúcar que viria a ter um papel mais presente na
região, sobretudo após a questão do extrativismo. Algodão e fumo também fizeram
parte da cultura agrícola de certa forma (ALVES, 2003).
O incipiente e atrasado início do
ramo agrícola se deve as situações outrora elencadas e que estavam relacionadas
indivisivelmente a questão da pecuária. As terras para a prática de criação de
animais era um fator importante para tal impedimento, além disso, se dispunha
de poucos recursos destinados a isso e o fraco mercado interno que não teria
capacidade de absorver toda a produção. O gado era criado solto o que se
tornava também um grande obstáculo para a manutenção das práticas agrícolas
(ARAÚJO, 2015).
O extrativismo também se fez
presente de forma altiva na região, principalmente com a questão da borracha e
da carnaúba que foram para muitos, grande fonte de renda e subsistência laboral.
Da mesma forma como outras culturas desenvolvidas, por não dispor de um mercado
comprador forte, não era uma atividade que trouxesse consigo grandes
investimentos e lucros (QUEIROZ, 2006).
Considerações Finais
Diante do todo o exposto, observa-se
que em relação as bases econômicas que se fundamentaram na região piauiense, a
pecuário foi a grande transformadora de todo o cenário inicial e trouxe consigo
as bases para a inserção, até certo ponto incipiente de diversas outras
modalidades de exploração e renda, como a agricultura e seus subgêneros.
A produção agrícola foi também
marcante, porém, assim como na questão pecuário, demonstrou a forma
diferenciação existente, de um lado os grandes proprietários de terra e
detentores de vultuosos lucros e do outro a grande massa de trabalhadores que
erma os verdadeiros responsáveis pela lucratividade, sem contudo ter o dinheiro
de almejar maiores oportunidades no que diz respeito a crescimento e
desenvolvimento econômico e social.
Referências
ABREU, J. Capristano de. Capítulos de História Colonial
(1500-1800). 5a. ed. Rio de
Janeiro: Livraria Briguet, 1969.
ALVES, V. E. L. As bases históricas da formação territorial
piauiense. Geosul, Florianópolis, v. 18, n. 36, p 55-76, jul./dez.
2003
ARAÚJO, J. S. O PIAUÍ NO PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA:
contribuição para construção do império em 1823. CLIO – REVISTA DE
PESQUISA HISTÓRICA – nº 33.2:2015.
ASSIS, N. P. D; OLIVEIRA, A. S. N. Padres e Fazendeiros no
Piauí Colonial – Século XVIII. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA – Fortaleza, 2009.
QUEIROZ, T. Economia
Piauiense: Da pecuária ao extrativismo. 3ª edição. Teresina:
Edufpi, 2006.
SOUSA, V.V. PIAUÍ: APOSSAMENTO,
INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO (1684-1877). Pós história.ufg.br/original:2005.
Sugiro colocar em seu resumo o objetivo da pesquisa, a metodologia, as fontes utilizadas no trabalho, caso tenha. Sua narração é boa, possibilita ao leitor uma leitura agradável. Coloque só a página em que foi extraída a citação do autor Alves (uma citação que está recuada em seu texto). Parabéns e continue na pesquisa.
ResponderExcluirDavi Benvindo de Oliveira
Concordo! Faltou o objetivo,porém um ótimo trabalho.Texto leve e de fácil compreensão.
ExcluirLayane Véras
Muito bom seu trabalho, deu uma noção muito boa do povoamento do Piauí, mas constatei que tem um erro na digitação quando fala na parte que Afonso Mafrense se instalou nas proximidades do rio Canindé em 1970 creio que essa não seja a data correta.
ResponderExcluirWelison Barbosa Resende- UESPI
Realmente houve um erro na digitação Welison, agradeço pela contribuição. Obrigado!!!
ExcluirA pecuária ganhou destaque no Piauí pois boa parte das terras eram servidas de curso de água, pastagens naturais e permanentes, chuvas abundantes. Esses recursos facilitaram a instalação das fazendas de gado.
ResponderExcluirCAROLINE PINHEIRO DE OLIVEIRA - UFPI
Motivos como esses foram os que fizeram a pecuária ser tão importante em todo esse processo de origem do Piauí. Obrigado!!!
ExcluirUma questão relevante que precisa ser discutida pesquisada é a forma de ocupação do Interior para o litoral.... por Maria Cândida de Jesus Pereira
ResponderExcluirForma de ocupação de difere em muito de outras que se deram ao no sentido contrário, do litoral para o interior. Obrigado!!!
ExcluirOlá Maria Luiza, parabéns pela pesquisa. A pecuária extensiva e a agricultura de subsistência foram a base da economia piauiense por cerca de três séculos. A princípio caracterizavam-se pela utilização de técnicas de baixa produtividade que se refletiram num processo lento e gradual de povoamento e desenvolvimento do território piauiense.
ResponderExcluirJessé Luiz da Silva Brito (CEAD-UFPI)
Obrigado Jessé, a agropecuária foi de fundamental importância para a criação das bases formadoras do Piauí.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns pela pesquisa regional ao destacar as raízes do Estado na interiorização da criação de gado e, claro, na vocação para a agricultura como sendo uma característica de todo o nordeste brasileiro.
ResponderExcluirAmanda Vieira de Sousa
SME/ Nazarezinho - Licenciatura Plena em Geografia (UFCG)
Obrigado Amanda, espero ter contribuído com o seu conhecimento!!!!
Excluir