Ferdinand Almeida de Moura Filho Doutorando em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e é membro do Grupo de Pesquisa População, Família e Migração na Amazônia (RUMA CNPq). E-mail: ferdinandhistoria@yahoo.com.br Introdução Na alvorada do setecentos, um homem temente a Deus caminha sem titubear pelas ruas de Salvador, na Bahia de Todos os Santos, em direção à casa do comissário do Santo Ofício. Estava desejoso a denunciar “por serviço de Deus e descargo de sua consciência” [1] , um caso que ocorreu dois anos antes e distante por aproximadamente 200 léguas. Tratava-se de um incêndio criminoso contra várias casas, recentemente levantadas, no sertão do Piauí [2] , em agosto de 1706. O incêndio em si, sob qualquer circunstância ou gravidade, não era importante aos olhos do comissário, tampouco aos inquisidores. Mas queimou-se uma cruz de “[…] pau grande, que tinha de frente de sua porta estilo observado em todo o sertão; todos os moradores [tinh